A direita brasileira vive um momento de dispersão e a possível saída do governador Ronaldo Caiado do União Brasil é um sintoma desse processo. A decisão, ainda em avaliação, vai muito além das fronteiras de Goiás e deve reorganizar o mapa da direita nacional, expor divergências entre lideranças conservadoras e intensificar a fragmentação de um campo político que, na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não consegue falar em uma só voz.
Como já mostrado pelo O HOJE, a saída de Caiado do partido teria consequências imediatas e impactaria profundamente no tabuleiro goiano. O União Brasil é, hoje, o maior partido do Estado, com 94 prefeituras e a maior bancada na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Essa força, no entanto, está diretamente vinculada à figura de Caiado. Sem o chefe do Executivo estadual, o partido pode enfrentar um esvaziamento generalizado, com a debandada de prefeitos, deputados e lideranças que orbitam sua influência.
No cenário nacional, a situação é ainda mais complexa. Desde o fim do mandato de Jair Bolsonaro, a direita brasileira tenta se reorganizar em torno de novos nomes. O ex-presidente ainda exerce forte influência sobre a maior parte do eleitorado conservador, mas, condenado, está fora do jogo político de 2026. Isso abriu espaço para uma disputa silenciosa entre os governadores que se projetam como possíveis herdeiros de seu capital político.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o nome mais próximo de Bolsonaro e o preferido de boa parte da ala bolsonarista. Freitas carrega a vantagem de governar o maior colégio eleitoral do País e mantém um discurso afinado com o bolsonarismo. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também é citado como presidenciável e já lançou sua pré-candidatura. Outro que aparece entre os cotados é o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), sobretudo se Tarcísio recuar e disputar a reeleição em São Paulo, visto que o presidente do PSD, Gilberto Kassab, é próximo do governador paulista.
Leia mais: Votação da Taxa do Lixo tem pedido de vista para evitar vitória da base
Caiado quer ser uma alternativa
Nesse contexto, Caiado tenta se apresentar como uma alternativa entre os extremos. Conservador, médico e produtor rural, o governador goiano aposta em um discurso de direita institucional. Seu projeto presidencial busca ocupar o espaço que estaria vago entre o bolsonarismo e a centro-direita tradicional. O problema é que, dentro do União Brasil, sua ambição encontra resistência — a legenda parece mais interessada em manter-se como força de centro, capaz de negociar com diferentes governos, do que em apostar em uma candidatura presidencial competitiva.
A possível desfiliação de Caiado se encaixa num cenário em que cada liderança conservadora tenta construir seu próprio caminho. Em vez de convergir para um nome único, a direita se dispersa em projetos paralelos.
Risco para 2026
Com múltiplos candidatos na disputa pelo mesmo eleitorado, a direita corre o risco de reviver o cenário de 2018 às avessas, quando a esquerda, na ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abriu espaço para o bolsonarismo emergir como opção ao antipetismo.
Em síntese, a possível saída de Ronaldo Caiado do União Brasil não é apenas uma questão de filiação partidária. A desfiliação simbolizaria a dificuldade da direita brasileira em construir um projeto coletivo. Às vésperas de 2026, o campo conservador chega dividido, com múltiplas lideranças. Caso o racha se confirme, o efeito pode não ser apenas o esvaziamento de um partido em Goiás, mas a consolidação de uma direita fragmentada. (Especial para O HOJE)