O setor de viagens corporativas voltou a crescer no Brasil após o período de retração imposto pela pandemia. A demanda por deslocamentos a trabalho tem retomado ritmo acelerado, impulsionada pela retomada de reuniões presenciais, visitas técnicas e eventos setoriais em todo o país.
Segundo levantamento recente do Fórum das Entidades do Setor de Viagens Corporativas, o setor movimentou mais de R$ 8 bilhões apenas no primeiro semestre de 2023, um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior. A maior parte desse montante está ligada a passagens aéreas, hospedagens, alimentação e transporte terrestre.“Estamos vendo um crescimento sustentável, com empresas retomando agendas presenciais e fortalecendo conexões regionais”, afirma um analista de mercado que atua com indicadores de mobilidade corporativa.
Crescimento nas capitais e interiorização da demanda por viagens
A movimentação em aeroportos de grande porte, como São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre, tem registrado aumento expressivo no fluxo de passageiros corporativos. Ao mesmo tempo, cidades de médio porte também passaram a receber mais viajantes a trabalho. Esse novo comportamento é resultado da descentralização de negócios e da expansão industrial em regiões antes pouco exploradas.
Em cidades como Ribeirão Preto (SP), Uberlândia (MG), Feira de Santana (BA) e Anápolis (GO), o setor hoteleiro observou elevação da taxa de ocupação durante os dias úteis. Dados de redes de hospedagem apontam que mais de 60% das reservas entre terça e quinta-feira são de viajantes corporativos.
Crescimento do turismo corporativo supera expectativas. Foto: Reprodução
Viagens curtas lideram a retomada
As viagens de curta duração, com até duas noites de hospedagem, representam a maioria da movimentação. Executivos, técnicos de manutenção, representantes comerciais e gerentes de unidades operacionais têm retomado a rotina de visitas presenciais.
O deslocamento para treinamentos, auditorias, acompanhamentos de obras e feiras setoriais também voltou ao radar das empresas. Um gerente de operações de uma companhia nacional de energia afirma: “Mesmo com a tecnologia, a presença física ainda é essencial para certas decisões e inspeções técnicas. Nossas equipes têm voltado a circular entre as unidades com frequência semanal.”
Gestão digital e demanda por personalização
A digitalização dos processos de compra e controle de viagens impulsionou a adoção de plataformas integradas de reservas, reembolsos e emissão de relatórios. No entanto, apesar dos avanços tecnológicos, a busca por atendimento humano ainda é elevada, principalmente em viagens com múltiplas conexões ou para localidades com baixa cobertura aérea.
De acordo com dados consolidados por empresas de auditoria corporativa, mais de 70% das médias empresas brasileiras mantêm políticas formais de gestão de viagens, com regras claras de orçamento, tipo de transporte e período máximo fora da base.
Desafios logísticos e alta de custos
Apesar da retomada, o setor enfrenta obstáculos. A concentração de voos em algumas capitais dificulta o acesso a municípios menores, exigindo escalas e deslocamentos rodoviários. Além disso, os custos com passagens aéreas subiram cerca de 18% em 2023, de acordo com registros da Agência Nacional de Aviação Civil.
Empresas que atuam no Norte e no Centro-Oeste relatam maior complexidade logística para agendar viagens de última hora. O tempo de deslocamento, em alguns casos, inviabiliza reuniões presenciais e pressiona os orçamentos operacionais.
Perspectivas para os próximos anos
A tendência é de crescimento gradual, com expansão da malha aérea regional e maior uso de soluções digitais. Especialistas projetam que, até 2026, o setor de viagens corporativas deve crescer em média 10% ao ano no Brasil, acompanhando a recuperação econômica e o fortalecimento de cadeias produtivas regionais. “A cultura corporativa brasileira valoriza a interação pessoal, principalmente em negociações estratégicas. O presencial não vai desaparecer”, aponta uma consultora especializada em mobilidade corporativa.
O turismo de negócios, assim, consolida-se como uma vertente fundamental da cadeia do turismo nacional, com impactos diretos na hotelaria, transporte, alimentação e serviços locais. O cenário indica que, mesmo com o avanço da tecnologia, a mobilidade profissional continua sendo uma ferramenta estratégica para empresas que atuam em um país de dimensões continentais como o Brasil.