O mercado de motocicletas no Brasil vive um momento de alta sustentada, com crescimento acima do esperado e mudanças significativas no perfil do consumidor. De janeiro a julho de 2025, foram 1.222.463 unidades emplacadas, número que representa um avanço de 12,18% em relação ao mesmo período de 2024, superando a projeção inicial de 10% feita pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
“O desempenho do setor é reflexo direto da motocicleta como alternativa eficiente, econômica e, sobretudo, adaptada às novas dinâmicas de trabalho e mobilidade urbana”, avaliou o presidente da Fenabrave, Arcelio Junior. Segundo ele, o segmento pode alcançar 2 milhões de unidades vendidas até o fim do ano, configurando um novo recorde histórico.
As motocicletas já representam 43,7% de todos os veículos emplacados no país em 2025, consolidando-se como principal opção de transporte individual em grandes centros e também em cidades de médio porte. O estado de Goiás, por exemplo, tem registrado aumento expressivo na circulação de motos, especialmente nas regiões metropolitanas e em municípios do interior, onde a expansão do comércio eletrônico e dos serviços de entrega impulsiona a demanda.
Alta de 23% em julho e perfil de consumo urbano
O mês de julho reforçou a tendência positiva. Foram 193.165 motos vendidas, número 23,18% maior do que o registrado no mesmo mês de 2024. Na comparação com junho, o aumento foi de 7,7%. Os modelos mais procurados continuam sendo os da categoria City, com motores entre 125 cc e 160 cc, voltados para deslocamentos urbanos, seguidos pelos scooters e pelas motos do tipo Trail/Fun.
A preferência por motos de até R$ 20 mil reflete um consumidor que busca economia e funcionalidade, especialmente em tempos de juros elevados e crédito restrito. “Apesar das dificuldades com financiamento tradicional, o consórcio tem se mostrado uma alternativa viável para aquisição, especialmente nas motos de até 250 cilindradas, que concentram 80% das vendas do setor”, afirmou Arcelio Junior.
Mulheres impulsionam nova fase do setor
Uma mudança estrutural importante ocorre no perfil dos motociclistas. Dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) revelam que o Brasil ultrapassou a marca de 40 milhões de pessoas habilitadas para conduzir motos, sendo que 10 milhões são mulheres. Esse número representa um crescimento de cerca de 70% em uma década.
A presença feminina tem impulsionado transformações em setores relacionados, como o de seguros. “As seguradoras têm identificado um comportamento de direção mais cauteloso entre as mulheres, o que impacta diretamente na redução da sinistralidade”, explicou André Brunetta, diretor de Inovação de uma empresa do setor. Em 2022, apenas 7,3% das mortes de motociclistas em São Paulo foram de mulheres, frente a 92,7% de homens, segundo o Infosiga-SP.
Com esse cenário, há uma reconfiguração dos produtos oferecidos pelas seguradoras, que agora investem em planos personalizados, com coberturas adaptadas às necessidades das motociclistas, incluindo proteção para capacetes, acessórios e assistência 24 horas.
Brasil já registra 10 milhões de mulheres habilitadas para conduzir motos
Tecnologia e segurança em pauta
A crescente digitalização também chega ao segmento de duas rodas. Dispositivos telemáticos já são utilizados para monitoramento do estilo de pilotagem, permitindo que o preço do seguro seja ajustado de acordo com o comportamento do condutor. Aplicativos conectados a wearables são testados para detectar fadiga e alertar sobre condições de risco, o que pode reduzir ainda mais a incidência de acidentes.
Apesar do crescimento, o setor ainda enfrenta desafios relacionados à segurança. Em São Paulo, as mortes de motociclistas aumentaram 25% no primeiro trimestre de 2024 frente ao mesmo período do ano anterior. Esse dado reforça a importância de campanhas de educação para o trânsito e de políticas públicas que estimulem o uso responsável das motocicletas.
Perspectivas e expansão
A liderança de mercado segue com a Honda, que emplacou 127.643 unidades em julho, mantendo 66,08% de participação mensal e 67,42% no acumulado do ano. A Yamaha aparece em segundo lugar, com 14,8%, seguida pela Shineray, com 6%.
A expectativa da Fenabrave é revisar para cima as projeções de vendas para o setor, caso o ritmo de crescimento se mantenha até o fim de 2025. O comportamento de consumo, especialmente em estados como Goiás, reforça que a motocicleta tem deixado de ser um bem de lazer ou transporte alternativo para se tornar ferramenta essencial na rotina de milhões de brasileiros — seja para o trabalho, seja para locomoção urbana.
“O crescimento das motos não é moda passageira. É resposta direta às necessidades reais da população e exige do mercado, das autoridades e dos serviços relacionados uma abordagem estratégica e comprometida com eficiência, segurança e inclusão”, concluiu Arcelio Junior.
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