Nilson Gomes-Carneiro
Obra, definitivamente, saiu de moda. Aliás, trabalhar é verbo anacrônico. Se os políticos são o espelho da sociedade, daqui a pouco vai ter gente morrendo de fome, não por falta de comida, mas por excesso de preguiça. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já não sabe mais o que fazer em busca da reeleição e, em sua mais recente cesta de bondades, vai pagar com os tostões do contribuinte a conta de energia elétrica de 60 milhões de consumidores. Argentina e Chile inteiros sem talão de luz. Seu antecessor, Jair Bolsonaro, também esperneou para ser reeleito distribuindo auxílio até para taxistas, caminhoneiros e quem mais se inscrevesse. Ou seja, os dois grupos hegemônicos nas urnas são inimigos entre si e lucram com isso.
Como obra está fora da ordem e trabalhar atrapalha o progresso, o jeito é ficar o dia inteiro nas redes sociais e no Zap-Zap falando bem ou mal de Lula e Bolsonaro. Com isso, o atual presidente está passando seu terceiro mandato sem construir rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e os demais equipamentos públicos de infraestrutura. Em vez de responder acerca da ausência de edificações, Lula precisa cuidar somente das frases de efeito em defesa de seus aliados no Supremo Tribunal Federal, além de atacar os bolsonaristas. Tudo é culpa do Jair, da mulher do Jair, dos filhos do Jair, dos colegas de partido do Jair, dos candidatos do Jair. É hora de já ir comparando o impopularíssimo Michel Temer com a fênix Lula: Temer tocava 2.500 obras simultaneamente, Lula não tem nem 250 para tocar.
Lula está há 30 meses com os mesmos discursos. Fala que o Brasil precisa se internacionalizar e se dedica a cometer gafes quando está no estrangeiro gastando verbas e paciência do povo. Reclama da cheia no Rio Grande do Sul e no ano seguinte basta chover que alaga tudo de novo nos mesmíssimos lugares. A parte dos dados da segurança pública que melhorou foi graças aos governadores como os de Minas Gerais, Romeu Zema; de São Paulo, Tarcísio de Freitas; de Goiás, Ronaldo Caiado; e do Paraná, Ratinho Jr. Coincidentemente, o quarteto que espera enfrentá-lo em 2026. Enquanto isso, os maiores desastres são os petistas e seus aliados, como o governador da Bahia, uma tragédia chamada Jerônimo Rodrigues. Ao brigar com Bolsonaro, Lula não precisa explicar nada disso.
Assim também ocorre no ramo da economia. Não tem picanha agora, mas na época do Bolsonaro nasceu a fila do osso. O ovo está caro, mas na época do Jânio Quadros foram proibidas as rinhas de galo. Falta mão de obra para a construção civil e os mercadinhos, mas a Bolsa Família dá dinheiro a 50 milhões de pessoas. Outros 6 milhões e 700 mil têm o Benefício de Prestação Continuada de uma salário mínimo por mês. Foi a mágica para reduzir o índice de desemprego, pagar para que os brasileiros não procurem vagas. Culpa de quem? Do Bolsonaro.
De seu lado, o ex-presidente e os que o chamam de mito não tiram da boca nem da ponta dos dedos o nome de Lula. Atribuem aos petistas todos os crimes possíveis, relembram Mensalão e Petrolão, xingam a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e a Lei Rouanet, que enche de milhões os projetos culturais. Porém, diversas personagens que estavam enroladas com o recebimento de dinheiro para votar com o governo na primeira gestão de Lula agora saltitam ao redor de Bolsonaro.
Nada sobra para quem está fora da polarização
Enquanto os dois grupos fingem vitimismo, os demais batem ferraduras em pastos verdejantes dos concorrentes. Quem não aderiu a Lula ou optou por Bolsonaro voltou para a roça. O PSDB preferiu a inanição, apesar da tolerância com filiados que cofiam a barba do presidente. PSD está como sempre, com duas patas em cada canoa. O União Brasil tem candidato gabaritado à sucessão de Lula, o governador Ronaldo Caiado, mas não arreda pé da Esplanada dos Ministérios, quer cargo, quer tudo. O PP é governo apenas quando há governo, apoia todo governo, está com todo governo, só quer saber de governo – ou seja, não conte com os progressistas, ao menos não com eles todos, para combater Lula. Republicanos faz o que a Igreja Universal e, para ela, o governante de plantão é Deus.
As manchetes são amplamente favoráveis a quem nelas é citado, a favor ou contra. Além do mais, o viés dos analistas protege seus líderes ideológicos. Editorial da Folha de S.Paulo desta quarta-feira, 23 de julho,, tripudiou sobre Bolsonaro em relação ao que tira de proveito por seu amigo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Nenhuma sílaba para o festim diabólico que Lula promove tentando se reerguer à custa da miséria alheia – não necessariamente a de seus adversários do PL. Caminho idêntico percorrem os colunistas do portal UOL, além dos veículos privilegiados pelo governo federal com anúncios e campanhas. O que sobra para os demais 210 milhões de brasileiros? Lamber embira.
580 dias em cana ou andar com tornozeleira, o que é pior?
A temporada que Lula passou na cadeia da Polícia Federal em Curitiba graças à Operação Lava Jato está sendo limada da história, no pior estilo dos stalinistas. Os esquerdistas o tratam como um cristo que ressuscitou. Não. Lula ficou 580 dias preso de forma justa, merecia estar até hoje atrás das grades e nelas continuar nas próximas décadas, condenado em todas as instâncias – e àquela época bastava chegar à segunda para ir em cana. Depois, inventou-se uma série de filigranas para vê-lo fora do xilindró. A situação de Jair Bolsonaro é diferente. Está usando tornozeleira eletrônica e submetido a medidas duríssimas, como não poder falar com o próprio filho Eduardo, porque um ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, entendeu que ele poderia fugir para os Estados Unidos.
Para quem foi chefe do Executivo de uma das principais nações do planeta, são duas humilhações terríveis, ser preso ou usar na canela apetrecho de monitoramento. Não há hierarquia entre os dois cumprimentos de pena. Bolsonaro, que não tem pena para cumprir, está vendo a família todo dia, dorme ao lado da esposa, vive junto com a filha. Mas a prisão de Lula também não era exatamente um cárcere como a Papuda, a penitenciária do Distrito Federal para onde Moraes mandou os manifestantes do 8 de janeiro de 2023. Ele ficava numa sala, não numa cela. Janja, com quem passou a namorar, tinha acesso liberado, numa concessão de visita íntima de que os demais não desfrutavam.
Lula se encrencou graças a depoimentos de empreiteiros e marginais de todo jaez que confessavam ter entregue propinas a gente do PT e siglas aliadas. Os casos mais famosos foram do sítio em Atibaia (SP), do tríplex numa paradisíaca praia paulista e das palestras remuneradas por bandidos internacionais. Pesa contra Bolsonaro uma palestra e exatamente para público estrangeiro, com algumas diferenças: o ex-presidente não foi remunerado e a plateia era de diplomatas. Foi o suficiente para que os ministros se convencessem de que Bolsonaro era criminoso. O delito: dizer aos convidados a sua opinião sobre o sistema eleitoral brasileiro.
O que se reivindica para o ex-presidente é o que tirou da cadeia o atual: Sergio Moro era mais inimigo de Lula do que Moraes o é de Bolsonaro? As ilegalidades processuais alegadas para abrir as brechas pelas quais Lula escapou são zilhões de vezes menores que os atropelamentos sofridos pela Constituição Federal para fustigar Bolsonaro. Não se trata de possuir um condenado de estimação, porém, a anistia pedida para as vítimas do Judiciário não é mais nem menos justa que a de 1979 abençoada pela esquerda nem a que proporcionou a Lula o direito de se candidatar às eleições de 2022. O chamamento é pelo fim da polarização eleitoral, pelo fim da criminalização da política, pelo fim da politização dos tribunais.
O post Lula briga porque assim ninguém pergunta por obras apareceu primeiro em O Hoje.
