Nilson Gomes Carneiro
As eleições de 2022 ainda nem acabaram, pois o 3º turno continua está se desenrolando no Brasil e nos Estados Unidos, e a discussão se inflama sobre 2026, sobretudo na disputa dos cargos majoritários, presidente da República e governadores com seus vices, senadores e dois suplentes para cada. Aproximam-se aqueles segundos fatais da musiquinha chata das urnas eletrônicas e, ao mesmo tempo, as definições de candidaturas parecem distantes.
Observe-se o caso de Goiás. Ronaldo Caiado (União Brasil), pré-candidato à Presidência, é ligado ao agronegócio e tem como grande trunfo o combate eficaz à criminalidade, pautas nada afeitas ao PT e seu comandante Luiz Inácio Lula da Silva, inimigos do governador. Com 40 meses de antecedência, Caiado escolheu para sucedê-lo o vice-governador Daniel Vilela, cujo partido, o MDB, tem cargos estratégicos no primeiro escalão de Lula. Além disso, há os satélites gravitando em torno, como os que farejam oportunidades apoiando os pés num caiaque estadual e num stand up paddle federal.
Junte as cartas a seguir e veja se dá jogo:
1) Jorge Kajuru (PSB) e Vanderlan Cardoso (PSD), dois senadores de Goiás que aderiram à base aliada de Lula, já anunciaram apoio à candidatura de Daniel Vilela (MDB) a governador de Goiás no próximo ano.
2) No 2º turno das eleições municipais de 2024, o PT de Lula esteve oficialmente na campanha de Leandro Vilela (MDB) e extraoficialmente na de Sandro Mabel (União Brasil) às prefeituras de Goiânia e Aparecida, as duas maiores cidades goianas.
3) Vanderlan já pode pedir jingle no Fantástico, o programa dominical da TV Globo. Concorreu ao comando da Capital nas últimas três disputas, perdeu todas e cada vez com menos votos: 31,84% em 2016, 24,67% em 2020 e no ano passado começou igual a um foguete, engatou marcha a ré e terminou com ridículos 6,57%.
4) Como não existe nada tão ruim que a política não possa piorar, Isaura Cardoso, casada com Vanderlan, foi igualmente derrotada em Senador Canedo, na Grande Goiânia. Começou igual ao marido em 2024, liderando as pesquisas, e terminou em 3º lugar.
5) Em 2022, o PSD de Vanderlan testou forças ao lançar seu então presidente regional, Vilmar Rocha, a senador ao lado de Caiado. Numa demonstração de que Vanderlan nem ninguém seu fizeram campanha ou não têm voto, Vilmar teve um desempenho ínfimo: 55.934 votos, menos do que obtinha em seus tempos de deputado federal.
6) Kajuru também lançou candidatos nas últimas eleições gerais. Sua missão-mor era ajudar o então deputado federal Elias Vaz a conservar o mandato, mas o socialista não ficou nem entre os 30 primeiros, muito menos na fila dos 17, com 30.411 votos, oito vezes menos que a campeoníssima Silvye Alves (UB).
Por aí se deduz a conta da política, onde 1+1 nem sempre são 2, às vezes é menos que nada. Os senadores lulistas talvez sirvam a Daniel, que vai disputar o cargo de governador ocupando-o, para trazer recursos federais. Os perfis de Vanderlan e Kajuru nas redes sociais informam uma bem-sucedida rotina de premiar com verbas prefeituras de todos os cantos do Estado. Outra soma que nem sempre dá certo: em 2018, o então governador José Eliton também tinha herdado o cargo por ser vice, também dispunha do apoio de dois senadores (Lúcia Vânia e Luiz do Carmo) e de quase 200 prefeitos. De nada adiantou. Eliton acabou em 3º lugar, atrás do próprio Daniel e com 4x menos votos que Ronaldo Caiado, eleito em 1º turno.
Tarcísio pode se filiar ao PSD e apoiar Wilder em Goiás
Acompanha uma análise de conjuntura baseada no cenário que se desenha a muitas mãos e se propaga por muitas bocas, inclusive a de urna.
O HOJE já mostrou que o MDB do vice-governador Daniel Vilela, ocupante de três importantes ministérios de Lula, dificilmente vai deixar o presidente da República para apoiar Jair Bolsonaro ou quem ele indicar, principalmente se o presidente dos Estados Undios, Donald Trump, mantiver o tarifaço de 50%. Lula, como se lê no texto inicial desta página, é adversário de Ronaldo Caiado, padrinho da candidatura de Daniel. Nova dificuldade para o vice-governador é que dois partidos da base de Lula e ao mesmo tempo de Caiado, o PSD e o Republicanos, estão descendo do muro – um para apoiar o atual mandatário ao Palácio do Planalto, sede do Executivo federal; o outro, para ficar com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Eleito pelo Republicanos, Tarcísio tem como um de seus principais auxiliares o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Daniel pode não perder o apoio de Vanderlan Cardoso, pois senador é cargo majoritário e não está vedada a desfiliação. O problema para Daniel é que governador também é cargo majoritário e Tarcísio pode migrar para o PSD. Com um adendo: em Goiás, o grande amigo do governador de São Paulo é o senador Wilder Morais, bolsonarista do PL.
Em 2018, Wilder era senador em fim de mandato e foi cotado para integrar a equipe de Jair Bolsonaro, então recém-eleito presidente. Havia sido um soldado na campanha do capitão e é amigo de seus filhos parlamentares (Flávio e Eduardo, hoje respectivamente senador pelo Rio de Janeiro e deputado federal por São Paulo – no momento, licenciado). Líder da minoria no Senado, Wilder acompanhara o desempenho de Tarcísio no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit, e o considerou ideal para o ministério da área.
Por isso, em 2022, quando circulou a conversa de que Tarcísio poderia ser candidato a senador, quem conhecia o episódio da eleição anterior sabia que era fake news: ele não prejudicaria a caminhada de quem o ajudou a ser ministro. O governador de São Paulo também é amigo de seu colega goiano Ronaldo Caiado, que na montagem da equipe de Jair Bolsonaro indicou Luiz Henrique Mandetta para a Saúde e articulou o apoio do DEM (hoje, União Brasil) a Tarcísio. Caiado e Tarcísio parecem afinados: se um não for candidato, ajuda o outro. O problema (para Daniel) é que ambos caminham para se enfrentar nas urnas.
Caso continue no governo paulista, Tarcísio será voz forte em favor de Caiado unindo o bolsonarismo nacionalmente. Porém, sua chapa em Goiás teria Wilder para governador e, para o Senado, a primeira-dama Gracinha Caiado (UB) e Alexandre Baldy (PP). O emedebista com mais apoio popular no Brasil é o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que tirou 3.393.100 votos. Quem estava em sua campanha em todos os momentos, inclusive quando pareceu que ficaria fora do 2º turno, graças à polarização entre Guilherme Boulos (PSol) e Pablo Marçal (PRTB)? Tarcísio de Freitas.
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