O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na última sexta-feira (11) que está disposto a conversar com o presidente Lula, em algum momento futuro, sobre as tarifas de 50% impostas aos produtos brasileiros. A declaração foi dada durante conversa com jornalistas em Washington, dois dias após Trump enviar uma carta a Lula oficializando a medida.
Na carta, o republicano justificou a decisão com base no processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Trump defendeu Bolsonaro e pediu que o julgamento fosse interrompido. Ao comentar a atitude, Lula disse durante uma entrevista ao Jornal Nacional, na última quinta-feira (10), que se trata de uma grave intromissão em assuntos internos do país. “É inaceitável que o presidente Trump mande uma carta pelo site dele e comece dizendo que é preciso acabar com a caça às bruxas. Isso é inadmissível”, declarou.
Ainda sobre as tarifas, Lula afirmou que o Brasil usará a Lei da Reciprocidade, se necessário, e buscará apoio da Organização Mundial do Comércio para contestar a decisão. A legislação sancionada por ele em abril permite retaliações contra países que imponham barreiras a produtos brasileiros.
Ainda, em evento no Espírito Santo, o presidente responsabilizou Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro pelas sanções. Durante o discurso, usou um boné azul com a frase “o Brasil é dos brasileiros”, em contraposição ao vermelho usado por Trump em sua campanha presidencial.
Trump, por sua vez, voltou a elogiar Bolsonaro. Chamou o ex-presidente de “negociador muito duro”, “homem muito honesto” e disse que ele “amava o povo do Brasil”. As declarações foram feitas antes de embarcar para o Texas, onde o republicano visitaria regiões atingidas por enchentes que deixaram mais de cem mortos.
A primeira taxação americana contra produtos brasileiros foi anunciada em abril. À época, o governo Lula tinha esperanças de revertê-la e, ainda, não se cogitava uma crise diplomática. A segunda rodada, porém, elevou a alíquota ao patamar mais alto entre os países atingidos. Japão e Coreia do Sul, por exemplo, foram notificados com tarifas de até 25%.
Também na sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da China criticou a medida, classificando-a como forma de coerção. “A igualdade de soberania e a não-intervenção em assuntos domésticos são princípios importantes da Carta da ONU”, afirmou a porta-voz Mao Ning.
O chanceler chinês Wang Yi também condenou o aumento tarifário. “As tarifas dos Estados Unidos minam a ordem do comércio internacional”, declarou. Foi a primeira manifestação pública da China desde a adoção das tarifas contra o Brasil.
O economista e prêmio Nobel Paul Krugman, em artigo publicado na sexta-feira, afirmou que a sanção não tem justificativa econômica. Segundo ele, trata-se de tentativa explícita de interferência na política interna brasileira. Krugman escreveu que, embora a legislação americana permita ao Executivo aplicar tarifas com base em algumas seções específicas, nenhuma delas se aplica à situação do Brasil. “A tarifa contra o Brasil é outra coisa: não tem nada a ver com economia, é uma tentativa de interferir na política de outro país. Quem diz isso? O próprio Trump”, afirmou.
Para Krugman, a carta representa uma admissão do uso político da política tarifária, o que violaria os princípios legais. “Trump está violando a lei. Ponto final. E isso deveria ser noticiado dessa forma”, concluiu.
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