Os ataques israelenses à Faixa de Gaza deixaram ao menos 51 mortos na segunda-feira (16), em mais um dia marcado por bombardeios e tiroteios em áreas civis. O episódio mais grave ocorreu próximo a um ponto de distribuição de alimentos da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização pelos Estados Unidos e organizações não identificadas. Segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, cerca de 23 pessoas foram mortas a tiros no local, e mais de 200 ficaram feridas.
A fundação administra centros de entrega de ajuda humanitária em áreas sob controle militar de Israel. Apesar de alegar que já distribuiu milhões de refeições sem incidentes, o número crescente de mortos próximos a esses pontos gera preocupação e críticas internacionais. Desde que a GHF passou a operar sob supervisão de Israel, pelo menos 300 pessoas morreram em situações semelhantes, de acordo com autoridades de Gaza.
Além do tiroteio em Rafah, outras vítimas foram registradas em Khan Younis, após bombardeios israelenses atingirem áreas residenciais. O número exato de feridos e mortos ainda está sendo apurado pelas equipes locais. Os episódios ocorrem no contexto da substituição das agências da ONU pela GHF no fornecimento de ajuda, mudança que é fortemente contestada por organizações humanitárias.
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O chefe da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, condenou o novo modelo de entrega imposto por Israel. Para ele, o sistema é falho, perigoso e fere princípios da ajuda humanitária internacional. “Dezenas de pessoas foram mortas e feridas nos últimos dias, inclusive pessoas famintas tentando conseguir um pouco de comida de um sistema de distribuição letal”, afirmou, em publicação na rede X.
Até o início deste ano, a distribuição era feita por agências da ONU, que contam com presença histórica no território e uma rede consolidada de funcionários e centros de apoio. Israel, no entanto, alega que o Hamas estaria se apropriando da ajuda. Com essa justificativa, restringiu a atuação das agências da ONU, incluindo a UNRWA, e transferiu a responsabilidade para a GHF, estrutura criada sob coordenação militar e com financiamento americano.
O Hamas nega o desvio da ajuda e acusa Israel de usar a fome como arma. A maioria da população de Gaza, cerca de 2,3 milhões de pessoas, está em situação de deslocamento forçado, vivendo em abrigos precários, muitas vezes sem acesso a comida, água ou medicamentos.
O exército israelense não comentou os tiroteios registrados na segunda. Em outras ocasiões, as forças de defesa admitiram ter disparado contra multidões próximas a centros de ajuda, sob a alegação de resposta a provocações armadas. Já a GHF, em nota divulgada após os ataques, afirmou que segue operando com segurança e que não registrou incidentes nos locais de entrega de alimentos.
As Nações Unidas, por outro lado, continuam afirmando que há estoque suficiente de ajuda internacional pronto para entrar em Gaza, mas enfrentam restrições impostas por Israel. Segundo a agência militar israelense, COGAT, que é responsável pela coordenação da entrada de ajuda, 292 caminhões com alimentos e outros insumos foram liberados ao longo da última semana. A entrada, no entanto, segue condicionada ao controle absoluto sobre a destinação dos recursos.
No domingo (15), ao menos cinco pessoas foram mortas quando tentavam se aproximar de dois pontos de distribuição operados pela GHF em áreas centrais e do sul do território. Testemunhas disseram que a população correu em direção aos caminhões, temendo que a entrega fosse suspensa. Em meio à correria, forças israelenses teriam disparado contra civis.
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