A chamada creator economy brasileira, que reúne profissionais dedicados à criação de conteúdos digitais transformados em produtos e serviços, consolidou-se em 2024 como um dos setores mais dinâmicos do mercado de trabalho. Um levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que esse ecossistema registrou crescimento de 30% na geração de empregos diretos e indiretos, alcançando aproximadamente 389 mil ocupações em todo o país.
A expansão demonstra que a produção digital ultrapassou o caráter amador e se transformou em atividade estruturada, com impacto econômico semelhante ao de setores tradicionais. O número de empregos criados saltou de pouco mais de 302 mil em 2023 para quase 390 mil no último ano. Desse total, 253,8 mil vagas correspondem a criadores propriamente ditos e 134,1 mil a postos de apoio, como serviços de edição, design gráfico, marketing e gestão de comunidades.
Perfil e renda dos criadores
O estudo mostra que 42% dos entrevistados têm a venda de produtos digitais como principal fonte de renda. Entre esses, 100% relataram aumento nos ganhos em 2024, sendo que 64% afirmaram ter registrado crescimento expressivo. A pesquisa também revelou diferença significativa entre os criadores que atuam como pessoas físicas e aqueles que se formalizaram como pessoas jurídicas. Os primeiros tiveram rendimento médio mensal de R$ 4.987, enquanto os formalizados alcançaram R$ 10.007, praticamente o dobro.
O perfil predominante é jovem e qualificado. Cerca de 61% dos criadores têm menos de 40 anos e 59% concluíram o ensino superior. Outros 16% possuem pós-graduação, mestrado ou doutorado, o que evidencia a busca por formação acadêmica para consolidar a carreira digital.
Com 61% dos criadores abaixo de 40 anos, setor avança com alta qualificação
Diversificação e profissionalização
O setor vem mostrando sinais de diversificação. Quase um terço dos criadores manifestou interesse em expandir seus negócios para produtos físicos, além dos digitais. A integração entre ambientes virtuais e presenciais indica amadurecimento do modelo, que passa a explorar novas formas de monetização.
Outro dado relevante é a adoção crescente da inteligência artificial. Mais da metade dos entrevistados afirmou utilizar ferramentas desse tipo para otimizar a produção de conteúdo. Entre os usos mais comuns estão a geração de textos (80%), imagens e vídeos (cerca de 44%). Essa tendência reflete a incorporação de tecnologias emergentes no cotidiano do trabalho criativo, ampliando a produtividade e reduzindo custos.
Impacto nos empregos indiretos
A pesquisa também destacou o avanço dos empregos indiretos. Profissionais que oferecem serviços de apoio aos criadores registraram aumento significativo de renda. A média mensal, que era de R$ 1.210 em 2023, subiu para R$ 2.142 em 2024, praticamente o dobro. Essa movimentação demonstra que a creator economy não apenas gera oportunidades para os produtores de conteúdo, mas também estimula toda uma cadeia de serviços associados, formando um ecossistema em constante expansão.
Motivações e perspectivas
As razões que levam os brasileiros a ingressar no mercado digital são variadas. Entre os principais fatores estão a busca por renda extra, citada por 33% dos criadores, o aumento da renda formal (24%), a liberdade de tempo (20%) e o desejo de empreender (13%). Esses dados reforçam a percepção de que a atividade vai além de um complemento financeiro, configurando-se como alternativa profissional sólida e, em muitos casos, como projeto de vida.
O crescimento da creator economy também se insere em um contexto de transformações mais amplas no mundo do trabalho, marcado pela flexibilização de jornadas, pela digitalização de processos e pela valorização de atividades autônomas. Para especialistas, trata-se de um setor com potencial de expansão contínua, que ainda enfrenta desafios regulatórios e de formalização, mas que já se consolidou como parte da economia criativa nacional.
Um ecossistema em evolução
Os resultados da pesquisa evidenciam que o mercado de criadores digitais deixou de ser nicho e tornou-se segmento relevante da economia brasileira. Ao combinar inovação tecnológica, formalização empresarial e diversificação de receitas, o setor vem demonstrando capacidade de gerar empregos, movimentar cadeias produtivas e ampliar o espaço de atuação para profissionais qualificados.
Mesmo com os avanços, o setor ainda possui espaço para amadurecimento. A necessidade de regulamentações específicas, políticas públicas de incentivo e métricas de acompanhamento está no centro do debate sobre o futuro da creator economy no Brasil. O que já se pode afirmar é que a atividade deixou de ser vista como ocupação temporária para se consolidar como uma das frentes mais promissoras da economia contemporânea.
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