A falta de estrutura para embarque e desembarque de passageiros tem se tornado um dos principais desafios enfrentados por motoristas de aplicativo em Goiânia. Condutores que atuam na capital relatam dificuldades para estacionar em locais adequados, o que tem gerado multas recorrentes, tensão com agentes de trânsito e riscos à segurança viária.
Ao mesmo tempo, especialistas em mobilidade urbana apontam que o problema vai além da ausência de infraestrutura e envolve também o comportamento dos próprios motoristas, além da necessidade de regulamentação clara por parte do poder público.
“Já levei multa só por tentar deixar passageiro na região da 44. É impossível parar ali sem infringir alguma regra, porque não tem lugar para parar. A gente se arrisca todo dia. Fora o medo de ser multado, tem o estresse de ouvir buzina, xingamento de outros motoristas, e o risco de acidente é constante”, relata Lucas Alves, que trabalha como motorista de aplicativo há cinco anos. Segundo ele, os pontos de maior dificuldade são também os de maior demanda: “Shopping, hospital, aeroporto, feira… A gente roda a cidade toda e, em quase todos esses lugares, falta uma vaga para parar dois minutos”.
A demanda por uma solução legislativa chegou à Câmara Municipal no início de julho, quando os vereadores aprovaram um projeto de lei que estabelecia pontos específicos para embarque e desembarque de motoristas de aplicativo em áreas estratégicas da capital.
No entanto, o texto foi vetado pelo prefeito Sandro Mabel (União Brasil), sob a justificativa de que a iniciativa deveria partir do Poder Executivo. O veto ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e pode ser derrubado ou mantido pelos vereadores em agosto.
O especialista em mobilidade urbana Marcos Rothen reconhece que a atividade de transporte por aplicativo é essencial para o deslocamento urbano, mas reforça que os motoristas devem seguir as regras como qualquer outro condutor. “Os carros que fazem esse tipo de transporte devem seguir as normas de trânsito como os demais veículos. Eles não podem fazer paradas em lugares onde não é permitido”, afirma. Para ele, o problema se agrava quando motoristas insistem em parar em faixas de ônibus ou em fila dupla. “Eles muitas vezes param nas faixas de ônibus e com isso afetam o transporte coletivo e até os demais veículos, pois o ônibus muitas vezes tem que sair da faixa para desviar deles”, completa.
Rothen também destaca a ausência de regulamentação específica para os veículos de aplicativo. “Normalmente esses veículos não têm identificação, nem existe uma regulamentação para isso, portanto fica difícil separar os locais onde eles poderiam parar”, analisa. Também é necessário que a Prefeitura assuma a responsabilidade por organizar esse setor, que cresceu exponencialmente nos últimos anos.
Não se trata apenas de demonizar os motoristas de aplicativo, mas de criar condições justas e seguras para todos. É preciso entender que o crescimento desse serviço precisa ser acompanhado de políticas públicas adequadas, ignorar essa demanda só contribui para o agravamento dos problemas urbanos já existentes.
Sobre a proposta do vereador Ronilson Reis, que defende a criação de pontos fixos para embarque e desembarque em locais como hospitais, centros comerciais, supermercados e a região central da cidade, o motorista de aplicativo vê com bons olhos, desde que seja acompanhada de planejamento técnico.
“É preciso mapear os locais com maior demanda e pensar esses pontos de forma integrada com o fluxo do transporte coletivo e do tráfego em geral. Não se trata apenas de pintar vagas no meio da rua, mas de reordenar o espaço urbano de forma estratégica”.
Rothen, porém, faz uma crítica direta ao comportamento de parte dos motoristas de aplicativo. “O que mais afeta o trânsito é o abuso que muitos cometem. É comum ver nas ruas eles parando em fila dupla para esperar passageiro, isso afeta tanto a fluidez como a segurança. Eles tem que seguir as mesmas regras dos demais”, pontua.
Ele também faz um paralelo com o transporte coletivo: “Os ônibus tem os pontos e não podem ficar parados para esperar os passageiros”.
Enquanto o impasse legislativo se arrasta, os motoristas seguem enfrentando a rotina de multas, insegurança e improviso. Já os pedestres, ciclistas e demais condutores convivem com os reflexos desse descompasso nas ruas, seja na forma de congestionamentos, riscos de acidentes ou disputas por espaço.
A falta de regulamentação adequada para os aplicativos, somada à ausência de políticas públicas específicas para o setor, revela um gargalo urbano que afeta diretamente a mobilidade em Goiânia. A expectativa agora é de que a análise do veto na Câmara Municipal reacenda o debate e pressione a Prefeitura a apresentar alternativas concretas para organizar esse cenário caótico.
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