O açaí, fruto símbolo da Amazônia, ultrapassou as fronteiras do consumo regional e tornou-se um dos negócios mais promissores do setor alimentício brasileiro. A popularização como “superalimento” impulsionou investimentos, consolidou cadeias produtivas e elevou o Brasil ao protagonismo mundial nesse mercado.
Produção em expansão
De acordo com o IBGE, a produção nacional de açaí cresceu cerca de 70% nos últimos cinco anos. Só entre janeiro e julho de 2024, o setor registrou aumento de quase 13% em relação ao mesmo período do ano anterior. Pesquisas da Embrapa mostram que o consumo interno cresce em média 15% ao ano, movimentando mais de R$ 40 milhões.
O estado do Pará, responsável por 95% da produção, é o epicentro dessa cadeia produtiva. Estima-se que mais de 300 mil pessoas dependam diretamente do fruto, desde a coleta até o beneficiamento e a distribuição. “O açaí deixou de ser um alimento sazonal para se tornar parte da dieta cotidiana de milhões de brasileiros”, avaliam pesquisadores da Embrapa.
Superfood global
No cenário internacional, o açaí conquistou espaço definitivo. Projeções indicam que o mercado global deve superar US$ 1,9 bilhão até 2028, com taxa média de crescimento superior a 8% ao ano. A exportação brasileira cresceu de forma exponencial: entre 1999 e 2023, saltou de menos de uma tonelada para mais de 61 mil toneladas.
O produto se diversificou. Além da tradicional polpa congelada, já ocupa prateleiras em sucos prontos, bebidas energéticas, smoothies e até em pó liofilizado, com longa durabilidade. Essa versatilidade impulsiona sua aceitação em diferentes países, especialmente em mercados que valorizam alimentação saudável.
Negócios e oportunidades
No Brasil, o açaí já responde por mais da metade do mercado de sorvetes, com 55% das vendas. O setor de alimentação fora do lar também tem puxado o crescimento, com cafeterias, lanchonetes e restaurantes apostando em cardápios baseados na fruta. Franquias especializadas se multiplicam, atraindo empreendedores interessados em um produto de alta rotatividade e com apelo nutricional.
“É um mercado em franca expansão, que alia saúde, praticidade e sabor, três tendências fortes de consumo”, resume um consultor do setor de franquias.
Além disso, a fruta consolidou espaço na geração de renda comunitária. Agricultores familiares e ribeirinhos encontram no açaí uma das principais fontes de subsistência. A cadeia, no entanto, ainda enfrenta gargalos como infraestrutura precária e informalidade no trabalho.
Fruto amazônico já responde por 55% das vendas de sorvetes no Brasil. Foto: Divulgação
Desafios no exterior
Apesar do crescimento, nem tudo é positivo. Recentemente, os Estados Unidos, maior comprador do açaí brasileiro, aplicaram tarifa de 50% sobre o produto. O impacto preocupa produtores da região amazônica, que veem a competitividade no mercado internacional ameaçada.
“Essa medida pode comprometer anos de avanço nas exportações e afetar diretamente milhares de famílias que dependem do açaí”, avalia um representante do setor produtivo do Pará.
Meio ambiente e riscos de monocultivo
Outro desafio é ambiental. O boom do açaí tem estimulado o avanço de monocultivos na Amazônia, com a substituição de espécies nativas. Pesquisadores alertam para o risco de perda da biodiversidade e de enfraquecimento das práticas tradicionais de comunidades indígenas e ribeirinhas.
Além da pressão ambiental, há também a necessidade de maior regulação sanitária e de identidade do produto. Garantir que o açaí mantenha padrões de qualidade e origem é visto como essencial para proteger tanto os consumidores quanto as comunidades produtoras.
Um futuro de equilíbrio
O açaí se consolidou como símbolo de desenvolvimento, inovação e potencial econômico. Mas sua trajetória, que começou nos quintais amazônicos e chegou ao mercado global bilionário, também levanta dilemas: como equilibrar crescimento, preservação ambiental e valorização das populações locais?
Entre oportunidades de negócios e desafios sociais e ambientais, o fruto roxo da Amazônia continua sendo muito mais que um alimento: é um patrimônio em disputa no coração da economia brasileira e mundial.
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