Bruno Goulart
“Rogério Cruz era, pelo menos, mais humano”. A frase dita pelo vereador Fabrício Rosa (PT), em entrevista ao jornalista Felipe Cardoso, no quadro Momento Político, do jornal O HOJE, sintetiza seu descontentamento com a atual gestão da Prefeitura de Goiânia sob o comando de Sandro Mabel (UB). Para o parlamentar, o novo prefeito demonstra um distanciamento ainda maior das pautas sociais e uma postura insensível e autoritária.
A crítica mais dura do vereador Fabrício Rosa à gestão do prefeito Sandro Mabel recai sobre a forma como a Prefeitura tem tratado a população em situação de rua. Segundo ele, há um agravamento das vulnerabilidades sociais e uma completa ausência de políticas públicas eficazes voltadas à assistência e reintegração dessas pessoas. Rosa condena a falta de investimentos em serviços essenciais, como os CAPS, e a não contratação de psicólogos. Para o vereador, o discurso de criminalização e expulsão dessas pessoas é desumano e ineficaz, e evidencia uma competição velada entre prefeitos da direita sobre quem “limpa” mais rapidamente as ruas dos considerados indesejáveis.
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Fabrício também demonstrou preocupação com a declaração do prefeito de que “até o fim do ano, Goiânia não terá mais nenhuma pessoa morando na rua”, questionando a ausência de diagnóstico real da situação. Ele desafia a gestão a apresentar dados concretos, como um censo atualizado da população em situação de rua, e reforça que uma política pública séria precisa ser baseada em informações precisas e sensibilidade social. Rosa critica a ideia de associar exclusivamente a situação de rua ao uso de drogas e destaca que as causas são estruturais: rompimento de vínculos, desigualdade social e falta de oportunidades. Para ele, o foco deve ser a reconstrução de vidas, não a repressão.
Calamidade pública
O vereador também manifestou preocupação com a prorrogação do decreto de calamidade pública em Goiânia, aprovado inicialmente com validade de 180 dias e que agora o prefeito Sandro Mabel pretende estender por mais seis meses. Para Rosa, a medida é injustificável e coloca em risco a transparência e o controle social sobre os recursos públicos. “Calamidade pública é um instrumento para situações excepcionais, como guerras ou pandemias. Não é o caso de Goiânia. O que Mabel quer é escapar das regras da legalidade, especialmente no que diz respeito à exigência de licitação. Essa ‘calamidade’ me parece forjada, sustentada por números contraditórios, que ora falam em rombos de R$ 300 milhões, ora de R$ 400 milhões, ou até bilhões”, declarou o vereador.
Fabrício critica ainda o histórico recente da Prefeitura no que se refere à contratação pública, afirmando que Goiânia já vinha abrindo mão das licitações antes mesmo do decreto. “Tem sido prática comum a dispensa de licitação ou o uso de atas de registro de preço de outros estados, muitas vezes envolvidas em escândalos de corrupção. Já vimos isso em matérias nacionais. E por que isso é tão grave? Porque o processo licitatório, apesar de burocrático, garante transparência, concorrência justa e preços mais equilibrados. Quando se burla isso, se fragiliza todo o controle público”, alertou. Para o vereador, a prorrogação do decreto atende não a uma necessidade real, mas à tentativa de Mabel de se apresentar como “salvador da cidade”, construindo uma narrativa artificial para justificar atos de gestão fora dos parâmetros normais da administração pública.
Pecuária
Durante a entrevista, o vereador também chamou atenção para possíveis irregularidades no repasse de recursos públicos da Prefeitura para a realização da Pecuária de Goiânia. Ele afirmou ter protocolado uma denúncia junto ao Ministério Público de Contas do Estado de Goiás (MPC-GO), destacando a falta de transparência na aplicação do dinheiro público. “A cada dia somos surpreendidos com um novo valor. Começou com R$ 3 milhões, depois R$ 5, R$ 7, e agora já se fala em R$ 11 milhões. Qual é o valor real? Quais os critérios de escolha dos artistas? Os pequenos artistas locais também terão espaço ou só os grandes nomes nacionais?”, questionou o parlamentar.
Fabrício também apontou para a incoerência entre o discurso de calamidade pública adotado pela Prefeitura de Goiânia e os altos investimentos na Pecuária, sem transparência sobre a origem dos recursos. Ele questionou se os valores vêm de emendas estaduais, federais ou do orçamento municipal e citou como exemplo a contratação da dupla Edson & Hudson, com diferença entre o valor autorizado e o empenhado. Para o vereador, a falta de clareza nas informações e nas fontes de financiamento pode abrir espaço para corrupção, reforçando a necessidade de fiscalização e respeito ao dinheiro público.