As vendas de veículos pesados movidos a gás dispararam no Brasil em 2025, enquanto os modelos elétricos apresentam desempenho instável. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que, de janeiro a agosto, o mercado de caminhões e ônibus a gás cresceu 100,7%. Foram emplacadas 584 unidades no período, frente a 291 em igual intervalo de 2024. Embora representem apenas 1,5% do mercado, dominado pelos motores a diesel, os números indicam uma mudança gradual na matriz de transporte pesado.
Entre os segmentos que puxam a demanda por veículos a gás estão o transporte de cargas em médias e longas distâncias, como as operações de cana-de-açúcar e madeira. A expectativa é que a entrada de novos fabricantes amplie a oferta. A Mercedes-Benz já testa protótipos a gás e/ou biometano no País, sinalizando futura participação nesse nicho.
Avanço dos financiamentos verdes
O crescimento tem sido impulsionado também por crédito facilitado. A Scania, líder no segmento, registrou alta de 247% nas vendas de caminhões a gás entre janeiro e abril, saltando de 77 para 267 unidades. O destaque foi o CDC Verde, linha de financiamento que reduziu custos e ampliou prazos para aquisição de modelos sustentáveis. Em 2025, foram 115 financiamentos aprovados via CDC Verde, contra 33 em 2024. Benefícios fiscais, como a isenção de IPVA em São Paulo até 2029, reforçam a atratividade.
Além disso, a infraestrutura de abastecimento vem se expandindo. Corredores azuis de gás natural e biometano já conectam rotas estratégicas no litoral e no interior do País. Estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul contam com novos pontos de abastecimento, e o Rio Grande do Sul deve inaugurar em breve usinas de biometano em Minas do Leão e São Leopoldo. Os investimentos na produção somam R$ 250 milhões em 2025.
Queda nos caminhões elétricos
Enquanto o gás avança, os caminhões elétricos enfrentam retração. De janeiro a agosto, os emplacamentos caíram 28,7%, com 238 unidades vendidas contra 334 no mesmo período de 2024. Somando caminhões e ônibus, o recuo é de 7%, com 786 emplacamentos este ano, frente a 845 no ano passado.
A retração reflete, sobretudo, a ausência de incentivos fiscais e os juros elevados. Apenas em agosto, foram 21 caminhões elétricos vendidos, 22% a menos que em julho. Marcas como JAC (100 unidades), Volkswagen (80) e Tesla (23) lideram as vendas, mas ainda em volumes modestos.
Ônibus elétricos em alta
No transporte coletivo urbano, a tendência é distinta. As vendas de ônibus elétricos cresceram 152,2% no acumulado de janeiro a agosto, passando de 61 para 512 unidades. O crescimento é impulsionado por prefeituras que aceleram a substituição de frotas a diesel, em linha com metas ambientais. Em agosto, houve recuo pontual de 74% frente a julho, mas a tendência anual é de expansão.
No ranking de fabricantes, a Induscar (Marcopolo) lidera, com 178 unidades, seguida pela Mercedes-Benz, com 143, e pela BYD, com 134. Essas empresas têm ganhado contratos em cidades que exigem transporte de baixa emissão, como São Paulo.
Gás versus eletrificação
Apesar da queda recente, o mercado de elétricos ainda avança em perspectiva anual. Entre janeiro e maio, as vendas cresceram 39,7%, somando 444 unidades, frente a 318 no mesmo período de 2024. Já os veículos a gás tiveram salto de 480,4%, com 296 emplacamentos contra apenas 51 no ano anterior.
A diferença no ritmo de crescimento mostra que, no Brasil, a rota da transição energética no transporte pesado deve passar antes pelo gás natural e pelo biometano, enquanto a eletrificação enfrenta barreiras estruturais. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), Brasil, China e Índia concentram 80% do potencial de produção sustentável de biogás entre países emergentes. O País desponta como um dos mais promissores para ampliar a produção.
Competição acirrada
O mercado de veículos a gás começa a se diversificar. A Iveco aposta no modelo Tector e já recebeu encomendas de 100 unidades. A Volkswagen apresentou protótipos de caminhões movidos a biometano, voltados para coleta de resíduos sólidos, com promessa de reduzir em até 90% as emissões de CO₂. A Scania, por sua vez, já colocou 1.500 veículos a gás em circulação desde 2019 e planeja encerrar 2025 com mais mil unidades vendidas.
Enquanto isso, fabricantes de elétricos apostam em frotas urbanas. O desafio está em ampliar infraestrutura de recarga e reduzir custos, ainda altos no Brasil. Para especialistas, sem incentivos diretos, os caminhões elétricos devem permanecer em volumes residuais, ao contrário dos ônibus, que já contam com políticas públicas.
Perspectivas para os próximos anos
O programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) prevê reduzir em 50% as emissões de carbono até 2030, o que deve pressionar montadoras e operadores logísticos a adotar alternativas sustentáveis. O cenário indica que, no curto prazo, o gás tende a se consolidar como solução de transição, enquanto a eletrificação depende de subsídios e infraestrutura mais robusta.
Para o setor de negócios, o movimento abre espaço para investimentos em biometano, redes de abastecimento e linhas de crédito verde. A mudança também reposiciona transportadoras e embarcadores diante de metas ambientais e de critérios de ESG, cada vez mais exigidos por grandes clientes.
No balanço de 2025, o mercado de veículos pesados mostra que a transição energética não seguirá uma única rota. Gás e eletricidade dividem espaço, cada qual com desafios e oportunidades. O ritmo da mudança dependerá de incentivos, financiamento e da capacidade do País em alinhar política industrial e ambiental.
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