Em meio à Cúpula de chefes de Estado do Brics, realizada no Rio de Janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ameaçar os países do bloco com o aumento de tarifas. A declaração, feita na noite de domingo (6), reforça a retórica protecionista adotada pelo republicano desde o início de seu mandato e provocou reações entre integrantes do Brics e autoridades brasileiras.
Trump afirmou em sua rede Truth Social que qualquer país que se alinhe às “políticas antiamericanas do Brics” será alvo de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos exportados aos EUA, sem exceções. A declaração ocorreu horas depois da divulgação do documento final da Cúpula, que, embora não mencione diretamente os Estados Unidos, critica o aumento indiscriminado de tarifas e medidas não tarifárias por parte de grandes potências.
“A proliferação de ações restritivas ao comércio, seja na forma de aumento indiscriminado de tarifas e de medidas não-tarifárias, seja na forma de protecionismo sob o disfarce de objetivos ambientais, ameaça reduzir ainda mais o comércio global”, afirma o texto da declaração.
Para o governo brasileiro, o tom adotado por Trump permanece no campo retórico, mas acaba amplificando a principal mensagem defendida pelo Brics: a valorização do multilateralismo e o fortalecimento de instrumentos financeiros alternativos, como o uso de moedas locais nas transações internacionais.
Caso as ameaças se concretizem, os países do bloco devem reagir com o fortalecimento do comércio interno e a intensificação das parcerias entre os 11 membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes, Indonésia, Egito e Etiópia. Além desses, dez países são parceiros do grupo, entre eles Cuba, Malásia e Nigéria.
O Brics também divulgou um documento à parte sobre inteligência artificial, no qual defende o direito de cada nação estabelecer seus próprios marcos regulatórios e cobra mecanismos internacionais de proteção a direitos autorais diante do uso de obras por sistemas de IA generativa.
Trump já havia ameaçado medidas similares no início do ano, com declarações em janeiro e fevereiro de 2025. Na ocasião, cogitou aplicar tarifas de até 100% caso o bloco avançasse na criação de uma moeda alternativa ao dólar. Em abril, o republicano deu início a uma guerra tarifária com alíquotas que variaram entre os países. Para o Brasil, a tarifa foi de 10%, mas para a China chegou a 140%, embora esse valor tenha sido posteriormente revisto.
A declaração final do Brics reforça o repúdio às medidas unilaterais: “Reiteramos nosso apoio a um sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não discriminatório e consensual, com a OMC em seu núcleo”, diz o texto.
Em resposta às novas ameaças, a Rússia afirmou, por meio do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que o grupo “nunca foi e nunca será direcionado contra quaisquer terceiros países”. Segundo ele, a singularidade do Brics está em promover uma cooperação baseada em interesses próprios e compartilhamento de visões comuns.
A China também reagiu. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, declarou que “o uso de tarifas não beneficia ninguém”, criticando o recurso como ferramenta de coerção.
As falas de Trump coincidem com a movimentação diplomática do Brics para reforçar sua atuação conjunta em áreas estratégicas e se posicionar frente ao cenário global marcado por disputas comerciais e mudanças nas regras de governança.
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