O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), historicamente associado à infância, tem sido cada vez mais identificado em adultos. De acordo com estudo publicado pela JAMA Network Open em 2023, a taxa de diagnósticos entre adultos nos Estados Unidos aumentou mais de 20% entre 2010 e 2020. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam tendência semelhante, embora ainda existam lacunas nos registros formais. Em Goiás, a realidade acompanha esse movimento, com maior procura por diagnóstico e tratamentos, além de iniciativas judiciais e legislativas que buscam garantir os direitos dessa população.
Para o médico Dr. Thyago Henrique, pós-graduado em psiquiatria, esse crescimento reflete dois fenômenos simultâneos: aumento real de casos e maior conscientização. “Há fatores do estilo de vida contemporâneo, como uso excessivo de telas, sono irregular e consumo de drogas, que podem contribuir para um aumento real de sintomas. Mas também temos mais profissionais qualificados e uma população que busca mais ajuda, o que favorece o diagnóstico”, explica.
Segundo ele, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento. “Em adultos, as três esferas de sintomas: impulsividade, desatenção e hiperatividade, tendem a ser menos intensas, porque o cérebro amadureceu e consegue controlar melhor essas funções”, observa. Essa mudança pode dificultar a identificação dos sintomas e confundi-los com outros quadros clínicos. “Outras doenças como ansiedade, depressão, uso abusivo de substâncias ou até privação de sono também podem causar desatenção, agitação e impulsividade. Por isso, é indispensável uma avaliação clínica detalhada, feita por um profissional capacitado”, ressalta.
Os principais medicamentos indicados para o tratamento do TDAH são os psicoestimulantes. Embora eficazes quando usados sob prescrição médica e com acompanhamento regular, eles podem provocar dependência e efeitos colaterais graves, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. “Se a pessoa já tem predisposição a doenças cardíacas, pode até desencadear um infarto ou um quadro hipertensivo grave”, adverte o psiquiatra.
Ainda segundo ele, não existem exames laboratoriais ou de imagem capazes de confirmar o diagnóstico do transtorno. Embora testes neuropsicológicos possam ser utilizados como suporte, o principal instrumento para a confirmação do TDAH é a entrevista clínica feita por profissional habilitado. “Com uma história bem colhida por um profissional, geralmente não é preciso nenhum exame complementar”, afirma.
Dr. Thyago também destaca que os sintomas do transtorno tendem a amenizar com o passar dos anos, especialmente após os 40 anos. “A partir dos 40 anos, os sintomas costumam amenizar. Nem sempre a medicação será necessária, mas mudanças no estilo de vida, como boa qualidade do sono, menos tempo em telas e prática regular de atividade física são sempre fundamentais”, diz.
Em Goiás, uma decisão recente do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-GO) reforçou o direito ao tratamento psicológico para pacientes diagnosticados com TDAH. A 6ª Câmara Cível determinou que a Unimed Goiânia deve oferecer atendimento psicológico contínuo a um beneficiário, sob pena de multa diária de R$ 500. O plano havia negado o serviço, mas a relatora do caso, desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis, considerou que a negativa violava o direito à saúde. “Mostra-se abusiva a negativa de cobertura contratual”, escreveu a magistrada.
Além do Judiciário, o Legislativo também tem atuado. A Câmara de Goiânia discute projetos de lei voltados à inclusão de pessoas neurodivergentes, como aquelas com TDAH, autismo e dislexia. As propostas incluem formação continuada de professores da rede pública, planos pedagógicos específicos e ações de conscientização.
Na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), uma comissão aprovou proposta que garante tempo adicional em provas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) a candidatos com TDAH, Transtorno do Espectro Autista (TEA), dislexia e outras condições. O projeto altera o Código Estadual de Inclusão e visa assegurar condições equitativas durante os exames teóricos.
As ações em curso refletem o reconhecimento crescente de que o TDAH não se limita à infância e que adultos diagnosticados também devem ter acesso a direitos, diagnósticos e tratamentos eficazes. O fortalecimento dessas políticas públicas representa um avanço na inclusão e no respeito às necessidades das pessoas neurodivergentes em Goiás.
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