O hábito de pedir comida em casa deixou de ser exceção para se tornar rotina no Brasil. O que começou como alternativa durante a pandemia hoje se consolidou como um dos motores da economia da alimentação fora do lar. No segundo trimestre de 2025, o setor bateu recorde de faturamento, registrando crescimento de 11% em relação ao ano passado. O ticket médio também subiu, cerca de 7%, mostrando que o consumidor está disposto a gastar mais pela conveniência de receber refeições sem sair de casa.
Em cidades grandes e médias, pedir pizza, hambúrguer ou marmita pelo celular tornou-se tão comum quanto ir ao supermercado. Em Goiás, por exemplo, hambúrguer, pizza e açaí lideram o ranking dos pedidos mais feitos em aplicativos. “Às vezes, pedimos três vezes por semana. É prático e cabe no orçamento”, conta o bancário André Monastier, de Goiânia.
Faturamento recorde, salão em queda
O crescimento do delivery contrasta com o movimento presencial. De acordo com dados do Instituto Food Service Brasil, enquanto as entregas subiram dois dígitos em 2025, o consumo dentro dos restaurantes caiu 5%. Em muitas casas, o delivery já representa 30% do faturamento total, segundo levantamento da Abrasel.
Para Débora Moreira, dona de uma hamburgueria em Curitiba, essa virada foi questão de sobrevivência. “Durante a pandemia, precisei investir em entrega. Hoje, quase metade da minha receita vem do delivery. São cerca de 300 lanches saindo todos os dias só para pedidos externos”, relata.
Ticket médio maior e novos hábitos
Estudos recentes indicam que o gasto médio do consumidor é maior no delivery do que no salão. Entre janeiro e maio, por exemplo, o valor médio foi de R$ 66,21 para pedidos entregues, contra R$ 58,86 para quem optou por comer no local – uma diferença de 12%.
Outra tendência é a diversificação dos horários. O café da manhã por aplicativo cresceu mais de 30% em um ano, enquanto a madrugada também vem ganhando espaço no cardápio digital. Essa mudança reflete novos estilos de vida e a conveniência de ter acesso a refeições a qualquer hora.
O peso do delivery em Goiás
Em Goiás, o impacto é ainda mais evidente. Segundo dados do IBGE, mais de 32 mil pessoas trabalham com aplicativos de transporte e entrega no estado, entre motoboys, cozinheiros e profissionais de apoio. O setor, que movimenta desde grandes redes até pequenos negócios de bairro, virou importante gerador de renda e emprego.
O pizzaiolo Thiago, dono de quatro pequenas lojas em Goiânia, explica que metade do faturamento vem do delivery. “Além de dar visibilidade, os pedidos digitais ajudaram a manter as portas abertas em períodos difíceis. Hoje, são parte essencial da estratégia”, afirma.
Desafios: margens apertadas e caos operacional
O avanço do delivery não vem sem custos. As taxas cobradas por aplicativos de intermediação pressionam margens e obrigam empreendedores a rever estratégias. Pesquisa da Abrasel mostra que 54% do faturamento de delivery vem de marketplaces, enquanto o WhatsApp já responde por 26% dos pedidos. Outros 20% ficam divididos entre telefone e plataformas próprias.
Essa diversificação, ao mesmo tempo em que amplia a base de clientes, traz desafios: cardápios precisam ser atualizados em várias plataformas, estoques sincronizados em tempo real e a logística ajustada para garantir entregas rápidas. Para muitos gestores, é um cenário que exige tecnologia e organização.
O café da manhã por aplicativo cresceu 30% em um ano
Impacto econômico e social
O delivery já movimenta bilhões no Brasil. Só na Paraíba, em 2024, foram R$ 609 milhões, crescimento de 26% em relação ao ano anterior, com geração de 17 mil empregos diretos. Em escala nacional, São Paulo lidera em participação, com 1% do PIB estadual ligado a aplicativos de entrega, seguido pelo Paraná (0,64%) e pela própria Paraíba (0,60%). Goiás, embora não apareça entre os maiores percentuais, se destaca pelo número de empreendedores locais que aderiram ao formato.
Histórias de vida também se entrelaçam ao setor. O ex-pedreiro Ismael, que hoje atua como motoboy, conta que encontrou no delivery uma alternativa estável de renda. “Foi o que me deu chance de recomeçar. Trabalho muito, mas consigo sustentar minha família”, diz.
Perspectivas para o futuro
Especialistas destacam que o futuro do delivery será cada vez mais multicanal e integrado. Restaurantes que centralizarem operações em plataformas próprias, investirem em dados e automatização terão mais chances de manter margens e eficiência. O consumidor, por sua vez, seguirá ditando o ritmo, exigindo rapidez, qualidade e preços acessíveis.
Para Goiás e outras regiões, a tendência é clara: quem conseguir aliar sabor local, logística eficiente e tecnologia terá vantagem competitiva. O delivery deixou de ser acessório. Agora, é peça-chave na mesa dos consumidores e no caixa dos empreendedores.
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