Bruno Goulart
João Campos, prefeito do Recife e novo presidente nacional do PSB, deu um toque na esquerda brasileira durante entrevista ao UOL ao afirmar: “Se a esquerda não fizer, a direita fará”. A frase, direta, resume o tom da conversa, em que Campos defendeu com veemência a necessidade de construção de uma frente ampla que una os setores progressistas e do centro político. Segundo ele, essa é a única forma de garantir a viabilidade eleitoral do presidente Lula em 2026 e evitar que a direita se aproprie da maioria silenciosa do eleitorado brasileiro.
“Eu tenho batido muito nessa tecla, porque, se você pegar a posição mais extrema à esquerda e a mais extrema à direita, elas são minoritárias. A maioria do Brasil não está nem com uma ponta de um lado, nem com a outra. Vencer eleição é construir maioria. Fazer política é construir maioria”, explicou Campos.
Apesar da resistência dos partidos de centro, que flertam com candidaturas da direita mesmo ocupando ministérios no governo, o socialista defende que a estratégia comece pela população. “O principal é trazer primeiro a sociedade. Depois, os partidos vêm”. afirmou.
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Campos avalia que o governo Lula tem acertos importantes, mas peca em transmitir seus feitos. “Você tem milhões de pessoas que saíram da insegurança alimentar. Isso é uma grande marca que muitas vezes as pessoas nem sabem. Tem um número de desemprego que é o menor de uma série histórica. Economia superando a expectativa, você tem isso chegando na ponta”.
Para ele, a gestão petista precisa definir prioridades claras e traduzir suas conquistas em comunicação efetiva. “Não adianta só você fazer, as pessoas precisam reconhecer que você está fazendo. Acredito que tem tempo para fazer chegar isso e fazer essa conexão com o povo”, ponderou.
Campos também acredita que o governo precisa deixar a postura defensiva diante das crises e passar a ditar os rumos do debate público. “O governo tem que construir a agenda. Não pode ser refém do que a oposição coloca. Quem faz a agenda é o governo. Você não precisa ir pelo caminho que seu adversário lhe convida. Ao contrário, tem que convidá-lo para o seu caminho”, sugeriu.
Vitrine do governo
Entre os programas que merecem maior visibilidade, João Campos citou o Pé de Meia e o Nova Indústria Brasil, destacando especialmente o impacto regional: “No Nordeste, por exemplo, teve um lançamento de R$ 10 bilhões de crédito para industrialização. Isso tem que ser dito com clareza.”
Ele acredita que a maior parte da população brasileira rejeita a polarização política e quer soluções concretas. “As pessoas querem uma agenda concreta. Não querem ver briga. Querem ver melhora na vida delas.”
Apoio de Lula em 2026
Sobre a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), que tem buscado aproximação com Lula visando apoio em sua tentativa de reeleição, Campos tratou o movimento com naturalidade, mesmo ela sendo potencial adversária em 2026. “O PSB já se posicionou de forma clara que terá candidatura em Pernambuco. Nós temos o vice-presidente da República e uma aliança histórica com o presidente Lula. Eu vejo isso com muita tranquilidade.”
Percepção pública
João Campos também rebate a má avaliação do governo nas pesquisas recentes. Segundo o Datafolha, 40% dos entrevistados consideram a gestão Lula ruim ou péssima, contra apenas 28% que a avaliam como ótima ou boa. Para o socialista, há uma disparidade entre os dados econômicos e a percepção pública.
“O governo tem feito mais do que as pessoas têm percebido. No agro, por exemplo, há abertura de mercados, estímulo ao livre comércio, crédito agrícola. Mas isso não se canaliza em apoio ao governo. Isso não é só tarefa de comunicação. É comunicação, gestão e política. É um tripé. Em cada uma dessas áreas, há pontos assertivos e outros a serem corrigidos”, concluiu.
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