A Rússia aprovou nesta quarta-feira (8) sua saída do Acordo de Gestão e Disposição de Plutônio (PMDA), firmado com os Estados Unidos para reduzir estoques de plutônio de uso militar. A decisão, aprovada pela câmara baixa do Parlamento russo, marca mais um capítulo no desgaste entre Moscou e Washington.
O documento que acompanha a nova lei afirma que “os EUA adotaram uma série de novas medidas antirrussas que mudam fundamentalmente o equilíbrio estratégico vigente na época do Acordo e criam ameaças adicionais à estabilidade estratégica”. O governo russo justificou a medida apontando cinco razões: a “mudança radical” nas circunstâncias do pacto, as sanções impostas por Washington, a lei norte-americana de apoio à Ucrânia, a expansão da Otan e o aumento da presença militar dos EUA no Leste Europeu.
O PMDA foi assinado em 2000 e entrou em vigor em 2011. Ele obrigava os dois países a eliminar pelo menos 34 toneladas de plutônio militar, remanescente da Guerra Fria, quantidade suficiente para produzir cerca de 17 mil ogivas. O objetivo era transformar esse material em formas seguras, como combustível de óxidos mistos (MOX) ou por meio de reatores de nêutrons rápidos.
Moscou já havia suspendido temporariamente o acordo em 2016, ao acusar Washington de descumprir os termos originais. O governo russo na época contestou a decisão norte-americana de diluir o plutônio em vez de processá-lo conforme o previsto e classificou as sanções e a expansão da Otan como ações hostis.
Mesmo após o desmantelamento de milhares de ogivas desde o fim da Guerra Fria, Rússia e EUA ainda detêm cerca de 8 mil armas nucleares, segundo a Federação de Cientistas Americanos. Porém a relação entre os dois países — as maiores potências nucleares do mundo — continua se deteriorando.
Tensão com os EUA-Rússia
Ainda, o vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov — segundo a agência estatal da Rússia, RIA Novosti, lamentou nesta quarta-feira (8), que “o impulso dado em Anchorage se esgotou”, referindo-se ao encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump, realizado em agosto no Alasca. Para ele, “as ações destrutivas, principalmente dos europeus”, impediram o avanço das negociações de paz sobre a guerra na Ucrânia, iniciada em 2022.
Putin e Trump na Cúpula EUA-Rússia de 2025. (Foto: Divulgação/ Casa Branca)
Riabkov também afirmou que as relações entre Rússia e Estados Unidos estão “desmoronando” e atribuiu a responsabilidade aos norte-americanos. Trump, por sua vez, tentou se aproximar de Moscou após reassumir a presidência em janeiro, mas o diálogo não resultou em progresso. A Rússia mantém a exigência de anexar cinco regiões ucranianas, enquanto Kiev rejeita o que chama de capitulação.
Nos últimos dias, Trump se disse frustrado e chamou a Rússia de “tigre de papel”, em referência à sua crise econômica. Paralelamente, autoridades norte-americanas discutem o envio de mísseis Tomahawk à Ucrânia. Na quinta-feira passada, Putin alertou que essa medida causaria “uma nova escalada” entre Moscou e Washington, pois “usar Tomahawks é impossível sem a participação direta de militares americanos”.
Ainda, também nesta quarta-feira, um diplomata russo afirmou — segundo a RIA, que Moscou fará um teste nuclear caso os Estados Unidos também o realizem, observando que Washington vem preparando sua infraestrutura de testes. Putin já havia declarado que a Rússia realizaria um teste se outra potência nuclear fizesse o mesmo, acrescentando que sinais indicam que um país que não é identificado se preparava para conduzir testes.
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