A reabertura do mercado chinês para a carne de frango brasileira representa um importante alívio para o setor avícola nacional e, em especial, para Goiás, Estado que figura entre os principais exportadores do País.
A suspensão do embargo, oficializada pelas alfândegas chinesas nesta sexta-feira, 7 de novembro — após quase 6 meses que iniciou em maio — aconteceu depois do registro de um foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. A China era, até então, o maior destino das exportações brasileiras de frango e sua saída afetou diretamente a receita de frigoríficos e produtores.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) celebrou o anúncio e ressaltou que a retomada das exportações é resultado da articulação diplomática e técnica conduzida pelo Ministério da Agricultura, pelo Palácio do Planalto e pelo Itamaraty.
Segundo a entidade, o embargo ocorreu “no contexto de um único foco já controlado e extinto”, e o Brasil foi reconhecido como livre da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade após a desinfecção e o período de vigilância sanitária.
No auge da suspensão, a China havia reduzido suas compras praticamente à metade. Entre janeiro e maio de 2025, importou 228,2 mil toneladas, volume que representava cerca de 10% de tudo o que o Brasil exportava. A queda afetou preços e margens no mercado interno, pressionando cadeias produtivas que dependem da exportação para manter competitividade.
Impacto da suspensão na exportação de frango em Goiás
Em Goiás, o impacto econômico foi significativo. O Estado mantém participação média de 6% nas exportações nacionais de frango e tem forte presença de frigoríficos integradores, que conectam pequenos produtores à indústria.
Marcelo Penha, analista de Mercado do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) aponta que, apesar da retração chinesa, Goiás conseguiu preservar e até ampliar sua receita de exportação em 7,8% no período, devido à estratégia de diversificação de mercados, com crescimento de embarques para Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Japão e México. Entretanto, pequenos e médios criadores, menos estruturados para redirecionar vendas, sentiram mais fortemente a perda de demanda.
O economista, Leonardo Ferraz, explica que a reabertura chinesa tende a reorganizar preços no curto prazo. “Com a China voltando ao mercado, ela passa a disputar parte da oferta brasileira, tornando a exportação mais atrativa do que o consumo interno. Isso pode gerar um leve aumento no preço ao consumidor, especialmente se o câmbio estiver favorecendo as vendas externas”, avalia. Ele acrescenta que esse efeito depende também do custo dos insumos, como milho e farelo de soja, e da capacidade de manter níveis elevados de produção.
A reativação do fluxo comercial com a China também tem reflexos esperados na geração de empregos. Segundo Ferraz, frigoríficos podem retomar turnos de processamento e ampliar contratações, movimentando setores indiretos como transporte, armazenagem, produção de ração e serviços.
“Em Goiás, quando o volume exportado cresce, observamos aquecimento local na economia, com abertura de postos de trabalho e maior circulação de renda”, afirma.
Apesar do cenário positivo, há preocupação com a dependência de um único comprador. A China é um importador estratégico, e qualquer instabilidade geopolítica ou sanitária pode gerar novos choques.
A reportagem entrou em contato com Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial) para levantar outras questões econômicas envolvendo o setor, mas até o fechamento da matéria não obtivemos resposta.
Para equilibrar exportação e abastecimento interno, Ferraz defende três frentes: diversificação de mercados; ampliação da venda de cortes de maior valor agregado e produtos processados; e planejamento coordenado entre indústria, varejo e produtores para manter estoques e preços acessíveis ao consumidor brasileiro.
Com a reabertura chinesa, o setor avícola brasileiro espera recuperar margens e fortalecer sua posição no comércio internacional. Para Goiás, o momento reforça sua relevância como polo competitivo da avicultura, sustentado por produtividade, capacidade industrial e estrutura logística. A retomada marca não apenas o fim de um ciclo de incertezas, mas a reafirmação do Estado como ator estratégico na economia agroexportadora do País.
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