São muitas as suspeitas de uma possível aproximação do petismo com setores predominantemente bolsonaristas com o intuito de aumentar as cadeiras tão desejadas pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao juntar o quebra-cabeça, não é difícil perceber o quanto faz sentido a pretensão do PT em dialogar com com setores conservadores, enquanto o Republicanos ainda nega um possível contato com o petismo. Enquanto o presidente nacional do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), afirma a independência e apoio a candidaturas de centro-direita, o presidente nacional do PT, Edinho Silva, falou, no último domingo (3), que o partido “precisa dialogar com eleitores que não votaram em Lula”.
O sociólogo Jones Matos avalia que “a fala do presidente Lula no encontro do PT é no sentido de ampliar a bancada do campo da esquerda, sobretudo no Senado”. “Já na Câmara dos Deputados é uma desvantagem muito grande, porque tem uma bancada muito grande composta por parlamentares ligados à direita e à extrema direita. Há um grupo de parlamentares da direita muito radical e que não faz nenhum tipo de concessão.”
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Sobre o que pode ou não ser feito dentro do Parlamento, Jones fala da importância de se ter equilíbrio ao discutir certas pautas na política. “Algumas coisas dentro do parlamento são normais e fazem parte de qualquer discussão. O que não se pode admitir são posturas que fogem do comportamento normal e do debate respeitoso de ideias no que diz respeito ao Estado brasileiro, à soberania do País e à Constituição.” O sociólogo destaca que, “na Constituição, há o papel de cada parlamentar ou a responsabilidade de cada um, do Congresso, da Câmara”.
Para o sociólogo, “o discurso de radicalismo e de ruptura institucional foge um pouco do caminho que o País sempre trilhou”. “O Parlamento existe, assim como todas as correntes de pensamento, mas é preciso equilíbrio para que a democracia não se transforme em um projeto autoritário”, pontua Jones.
No documento elaborado no último evento nacional do PT, houve a sinalização de que o partido deve buscar “pessoas que muitas vezes não são de esquerda”. Também foi orientado que a militância petista mantenha proximidade com católicos e aprofunde o diálogo com evangélicos – segmento da sociedade que tende a escolher políticos de direita.
“É nesse sentido que o presidente da República trabalha, na perspectiva de aumentar as cadeiras na Câmara, no Senado, de uma forma mais democrática. Eu nem diria que são parlamentares mais de esquerda que deveriam ser eleitos, mas deputados com compromisso com a democracia. O Partido dos Trabalhadores trabalha nessa perspectiva”, ressalta Jones Matos.
Diminuiu o tom
Lula diminuiu o tom do discurso quanto às sanções aplicadas ao Brasil pelos Estados Unidos, o chamado tarifaço de 50%. Além disso, o presidente disse que é importante ter cautela ao dialogar com Donald Trump. “O governo tem que fazer aquilo que ele tem que fazer. Por exemplo, nessa briga que a gente está fazendo agora, com a taxação dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar, porque eu acho que nós temos que falar aquilo que é necessário”, afirmou o petista no evento nacional do partido.
“Entendo que esse processo de tentativa de transformar o País em uma capitania hereditária dos EUA foi um tiro no pé por parte da direita brasileira, porque o sentimento de nacionalismo acabou aflorando ainda mais na sociedade brasileira. É nessa perspectiva que a gente começa a discutir a política, que deve ser discutida nesse nível: de tranquilidade, não de radicalização. A radicalização na perspectiva apenas de destruição, de desconstrução das instituições, não é o caminho para se construir uma democracia”, conclui o sociólogo Jones Matos em entrevista ao O HOJE. (Especial para O HOJE)
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