Ao que tudo indica, a reforma ministerial no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometia abrir espaço para o Centrão no alto escalão da Esplanada dos Ministérios, tem tomado rumos diferentes. Com a indefinição dos partidos do bloco, que não decidiram se irão apoiar o presidente em 2026, Lula dá o recado: cargos no alto escalão são só para os aliados próximos.
Desde o início das tratativas da reforma ministerial é discutida uma representação maior para as siglas do Centrão. Porém, com a baixa na popularidade do governo e na incerteza da candidatura à reeleição de Lula – pelo desgaste político e a idade avançada -, os partidos passaram a reconsiderar um apoio ao presidente e acenar para o candidato da oposição.
O bloco busca abertura na Esplanada, mas sem prometer o apoio a Lula em 2026. O Centrão quer a liberdade de escolha no próximo ano. Alguns partidos desejam uma candidatura à direita que seja endossada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas com um perfil moderado que fuja de extremismos.
Sem saber se contará com apoio das legendas centristas, Lula adotou uma nova estratégia. O petista optou por colocar nos cargos de alto escalão só aqueles que ele tem certeza que irão apoiá-lo no próximo ano. Primeiro, o presidente escolheu a deputada e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR) para substituir, o também petista, Alexandre Padilha, que foi realocado para o Ministério da Saúde, na Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Agora, os rumores indicam que Lula quer o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Márcio Macêdo.
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O presidente espera que os aliados próximos garantam o diálogo com o Centrão. Hoffmann, que tomará posse da SRI na próxima segunda-feira, 10, já afirmou que irá trabalhar para construir alianças para o ano que vem. “Vou fazer tudo que for possível para garantir 2026, vou buscar essas alianças”, afirmou Gleisi em entrevista para o portal G1. A nova ministra ainda exaltou sua boa relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Os rumores de Boulos assumir um ministério desagradou algumas lideranças do Centrão. O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas (PP), criticou a possível escolha. Em uma publicação no X (antigo Twitter), Nogueira afirmou que a ida do psolista para a Esplanada “seria a comprovação definitiva de que o governo está sem rumo e sem chão”.
Antes, o mandatário também não poupou críticas à escolha de Lula por Gleisi no comando da SRI. “Só pode haver um motivo para a guinada de Lula na ultrapetizacão do governo, ao invés de ampliar sua base: Lula desistiu do Brasil, dos mais pobres, do povo e quer se eternizar como bottom e camiseta, tipo Che e Fidel. Entre presidir e ser bottom, escolheu ser bottom e camiseta”, escreveu o senador nas redes sociais.
Inclusive, o PP acena para uma saída do governo. O partido ocupa o Ministério do Esporte com André Fufuca. Os congressistas da sigla – 50 deputados e 6 senadores – têm pressionado Ciro para que a legenda deixe a base governista de vez. (Especial para O Hoje)