O mercado imobiliário brasileiro vive uma transformação digital que promete redefinir a experiência de compra de imóveis. Com 48% dos brasileiros planejando adquirir uma propriedade nos próximos 24 meses, segundo pesquisa da Brain Inteligência Estratégica referente ao terceiro trimestre de 2025, as incorporadoras intensificam investimentos em tecnologias de realidade virtual (VR) e aumentada (AR) para conquistar esse público cada vez mais exigente e conectado. A imersão digital surge como novo diferencial competitivo em um segmento que busca unir tecnologia, emoção e personalização.
A pesquisa da Brain aponta que a vivência do cliente durante as visitas aos estandes de vendas influencia diretamente na decisão de compra. Atentas a isso, incorporadoras têm adotado experiências digitais que extrapolam os limites dos decorados físicos. O uso de óculos de realidade virtual e salas de projeção 360° permite que potenciais compradores caminhem, interajam e visualizem o imóvel como se ele já estivesse pronto — mesmo antes de as obras começarem.
Um exemplo recente é o Heritage Kasa Signature, lançamento fruto da parceria entre a SOMOS Desenvolvimento Imobiliário, a AORB Evolução Construtiva, a Porto Belo Engenharia e a Trinus. Localizado em Rio Verde (GO), o empreendimento introduziu o uso do óculos de imersão Meta Quest 3 em seu estande de vendas. “O cliente tem uma visão 360° do ambiente e pode caminhar pelo futuro imóvel, avaliando se cada espaço é funcional e adequado à sua rotina”, explica Fernando Razuk, CEO da SOMOS Desenvolvimento Imobiliário. O projeto possui apartamentos de 130 m² e 107 m², ambos com três suítes. Apenas a unidade maior ganhou decorado físico; a menor, decorado virtual.
Arte e sensorialidade nas vendas
A Consciente Construtora e Incorporadora também apostou em experiências sensoriais. Inspirado em Milão, o Fascino Consciente apresentou projeções holográficas e espelhos piso-teto para criar um ambiente imersivo, enquanto os clientes eram presenteados com uma cafeteira italiana e café artesanal, reforçando a estética e a elegância italiana. A cenografia foi assinada por Pedro Paulo Editor, criador de exposições como Van Gogh e Impressionistas, além de eventos como o São Paulo Fashion Week.
Para Camila Inácio, diretora de empreendimentos da Consciente, o objetivo foi criar conexão emocional entre o cliente e o produto. “A imersão foi pensada para que as pessoas compreendam a essência do empreendimento e para transformar a forma como o mercado imobiliário se comunica e encanta seus clientes”, afirma.
Lançamentos em Goiás utilizam óculos de imersão e salas 360° para oferecer visitas virtuais no mercado imobiliário. Foto: Divulgação
Três etapas de imersão
Outro exemplo de inovação vem do Opus Altana, condomínio horizontal de alto padrão em Goiânia, desenvolvido pela Opus e pela Partini. O lançamento foi marcado por uma experiência dividida em três etapas. Logo na entrada, um jardim com sons de pássaros e aroma de terra molhada — criado por meio de chuva artificial — simula a conexão com a natureza proposta pelo projeto.
Na segunda etapa, os visitantes são envolvidos por uma tela de 180º que os transporta a uma descida de montanha em uma pista de esqui. O empreendimento contará com um simulador indoor de esqui e snowboard, inédito no Centro-Oeste, além de simuladores de Fórmula 1 e multijogos. “Todo o lazer foi pensado para atender um público exigente e apaixonado por esportes, proporcionando uma vivência esportiva e sensorial inédita”, destaca Adriano Carrijo, CEO da Partini.
Na última etapa, o visitante tem acesso a maquetes físicas, incluindo uma com seis metros de comprimento, que apresenta o condomínio completo. Outras duas reproduzem, em detalhes, a portaria monumental, assinada por Leo Romano, e o complexo Wellness, que reúne academia, spa, sala de pilates e espaço de recuperação pós-treino.
O avanço da realidade virtual e aumentada
A adoção de VR e AR no setor imobiliário está mudando profundamente a forma de operar e vender. Essas tecnologias permitem visitas remotas com alto nível de realismo, economizando tempo e custos. No caso da realidade virtual, o comprador pode caminhar por cômodos, visualizar iluminação, disposição de móveis e proporções reais do ambiente. Já a realidade aumentada permite sobrepor imagens 3D do prédio no terreno, facilitando a visualização do projeto final no espaço real.
A incorporadora You, Inc., em São Paulo, foi uma das pioneiras no uso da tecnologia. Em lançamentos na Rua Oscar Freire, a empresa criou experiências 3D que permitiam explorar os apartamentos e áreas comuns com óculos VR antes mesmo do início das obras. A estratégia aumentou o engajamento e acelerou as vendas na planta.
Além de melhorar a jornada do cliente, essas soluções reduzem custos operacionais, eliminando a necessidade de montar vários decorados físicos ou imprimir grandes volumes de material gráfico. Um tour virtual pode alcançar compradores em outras cidades e até investidores estrangeiros.
Desafios e perspectivas no mercado imobiliário
Apesar das vantagens, o uso da realidade virtual ainda é restrito no Brasil. Desenvolver um projeto imersivo custa em torno de R$ 50 mil, além do investimento em equipamentos — como o headset de realidade aumentada da Apple, que custa cerca de R$ 17 mil. O prazo médio de desenvolvimento é de três a cinco meses.
Para especialistas, o desafio é mais cultural do que financeiro. Muitas incorporadoras ainda preferem o contato físico, confiando nos estandes tradicionais e nos decorados tangíveis. No entanto, a tendência é de que, com a popularização dos dispositivos e a familiarização do público, a imersão digital deixe de ser um diferencial e se torne padrão nas vendas imobiliárias.
A expectativa é que, nos próximos anos, os recursos de VR e AR sejam integrados também a plataformas de vendas online, permitindo visitas a imóveis de qualquer lugar do mundo. Nesse cenário, o mercado imobiliário se aproxima cada vez mais da era digital, em que tecnologia e emoção caminham lado a lado para criar novas formas de viver — e de vender.







