Bruno Goulart
Não é novidade para ninguém que Sandro Mabel (UB) tem o DNA do setor produtivo. Antes de assumir a Prefeitura de Goiânia, o atual prefeito presidiu a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), onde permaneceu por quase seis anos. Agora, já no comando do Paço Municipal, Mabel volta a dar sinais de que sua gestão continua fortemente ancorada nas estruturas empresariais que marcaram sua trajetória, o que levanta uma questão que começa a ecoar nos bastidores políticos e empresariais da Capital: afinal, quem governa Goiânia — o prefeito ou o Sistema S?
A dúvida ganha força após a saída de Diogo Franco da Secretaria de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços (Sedicas), anunciada nesta semana. O cargo, estratégico por envolver diretamente setores ligados à indústria, ao comércio, à agricultura e ao cooperativismo, segue vago e, até o momento, sem indicação de substituto. O detalhe que chama atenção é que, em vez de liderar o processo de escolha, o prefeito parece ter transferido a responsabilidade ao chamado setor produtivo.
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Ao O HOJE, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi, explicou como o diálogo tem sido conduzido: “Em razão da relação existente entre os empreendedores e esta secretaria, é natural que o prefeito comunique previamente a intenção de realizar a substituição do titular da pasta. Ressalte-se que não se tratou de uma consulta, mas de um comunicado”.
Baiocchi destacou ainda que o Fórum Empresarial, que reúne entidades como Fecomércio, Fieg, Faeg e Acieg, não faz indicações formais de nomes para cargos públicos. Ainda assim, o presidente da Fecomércio-GO deixou claro que o próximo secretário precisará manter uma relação direta e construtiva com o setor, sob pena de prejudicar a interlocução entre o empresariado e a prefeitura. “É imprescindível que o próximo secretário mantenha uma relação direta e construtiva com o setor produtivo, não apenas com a Fecomércio, mas com todo o Fórum Empresarial”, completou.
O prefeito espera, o setor decide
Fontes próximas a Mabel confirmaram à reportagem que não há nomes definidos até agora, mas que “o setor produtivo deve indicar o nome”. O modelo repete a escolha de Diogo Franco, feita no início do ano. Segundo essas mesmas fontes, duas reuniões — uma na Faeg e outra na Acieg — resultaram em um consenso entre representantes de várias entidades e partidos. O prefeito, então, simplesmente acatou a decisão. “Foram duas reuniões. Uma na Faeg e outra na Acieg, quando foram discutir os nomes no começo do ano. Chegaram num acordo e indicaram o nome dele. Sandro acatou”, relatou um interlocutor do Paço.
Na última sexta-feira (29), em coletiva, Mabel reforçou que vai ouvir o setor produtivo antes de definir o substituto. Mas voltou a afirmar que não há pressa. “Pode ser que eles já estejam se reunindo para apresentar um nome em uma provável reunião”, comentou um aliado.
Crise política
O vácuo na Secretaria de Desenvolvimento não acontece em um momento qualquer. A demissão de Diogo Franco coincidiu com o desgaste político de Mabel na Câmara Municipal. Nesta sexta-feira (29), o prefeito retirou do cargo de líder do governo o vereador Igor Franco (MDB), irmão do ex-secretário. A decisão veio após seguidas derrotas em votações e diante do avanço da CEI da Limpa Gyn, que tem o próprio Igor como um dos principais articuladores.
Também foram exonerados irmãos de outros vereadores, numa tentativa de retomar as rédeas da base aliada. Mas, enquanto enfrenta resistências no Legislativo, Mabel parece abrir mão de liderar diretamente a escolha de nomes para o Executivo, ao transferir o protagonismo ao setor produtivo.
Quem manda, afinal?
Nesse cenário, a pergunta permanece: Goiânia é governada por Sandro Mabel ou pelos empresários que o cercam? A resposta, ao que tudo indica, virá com o anúncio do novo secretário — quando ficará claro se o prefeito apenas chancelará mais uma decisão tomada fora do Paço. (Especial para O HOJE)
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