Bruno Goulart
O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) aprovou nesta quinta-feira (5), durante sua 17ª Convenção Nacional realizada em Brasília, a proposta de fusão com o Podemos. O movimento representa um marco na reestruturação do partido, que já comandou o país por oito anos e agora busca retomar protagonismo político após sucessivas perdas de espaço nas últimas eleições. A proposta foi aprovada por ampla maioria: 201 votos favoráveis, apenas dois contrários e duas abstenções.
Apesar da decisão, a incorporação ainda precisa passar por uma outra etapa: a convenção nacional do próprio Podemos, que deve ocorrer nos próximos dias. A expectativa entre os dirigentes é de que a sigla não imponha obstáculos à união. Com a aprovação nos dois partidos, o processo segue para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que dará a palavra final sobre a legalidade da fusão.
Novo partido
Caso todos os parlamentares das duas legendas permaneçam, o novo partido nasceria com uma bancada de 28 deputados federais — a sétima maior da Câmara — e sete senadores, empatando com União Brasil e PP como a quinta maior força no Senado. Além disso, a nova legenda poderá controlar um fundo partidário estimado em R$ 90 milhões em 2025, a quinta maior fatia entre os partidos.
Leia mais: Com a fusão, para onde vão os políticos do PSDB e Podemos em Goiás?
“O PSDB mostra sua força, sua unidade interna e, principalmente, seu compromisso com o Brasil”, afirmou o presidente nacional do partido, Marconi Perillo. “Hoje fizemos a primeira etapa. Agora podemos sentar à mesa com o Podemos e também com outros partidos. Sem pressa, com critério e responsabilidade, vamos construir esse novo momento.”
Federação com outras legendas
A convenção também autorizou a Executiva Nacional a negociar o novo estatuto, o programa partidário e a possibilidade de novas alianças — incluindo federações. Com a fusão praticamente encaminhada, a cúpula tucana mira agora uma federação com outras legendas, entre elas MDB, Republicanos e Solidariedade. A movimentação faz parte de uma estratégia para consolidar um projeto de centro nacional de olho nas eleições de 2026.
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), um dos articuladores da fusão, destacou que o movimento representa mais do que uma tentativa de escapar da cláusula de barreira — mecanismo que restringe o acesso a recursos e tempo de TV a partidos com baixo desempenho eleitoral. “Esse não é um projeto apenas para alcançar determinadas cláusulas. É um projeto maior. Estamos construindo uma alternativa de centro para o Brasil”, declarou.
A nova sigla nasceria com apenas um governador: Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, que já manifestou dúvidas sobre continuar no partido em meio à reconfiguração.
Além disso, a fusão ocorre em meio à maior crise de identidade da história do PSDB. Após polarizar a política nacional com o PT por duas décadas, a legenda vem encolhendo no Congresso e perdeu figuras de destaque como os governadores Eduardo Leite (RS) e Raquel Lyra (PE), que migraram para o PSD. A união com o Podemos, segundo os tucanos, é uma tentativa de “reacender o projeto social-democrata” que marcou a história do partido.
“Nós estamos dizendo que é possível sobreviver sem estar ao lado dos extremos”, disse Aécio Neves. “O movimento correto é o da racionalização do sistema. Acredito que em 2030 teremos cinco ou seis grandes agrupamentos partidários.”
A fusão, caso confirmada, será permanente — ao contrário das federações, que têm duração mínima de quatro anos e podem ser desfeitas após esse período. Ainda não se sabe qual será o nome e o número do novo partido.