A indústria brasileira de motocicletas vive um dos períodos mais aquecidos da sua história recente. Entre janeiro e agosto de 2019 e o mesmo período de 2025, a produção nacional cresceu 78%, saltando de 743.556 para 1.326.963 unidades, segundo dados da Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O resultado coloca o setor em trajetória de expansão contínua, mesmo diante de crises econômicas e de fatores globais como a pandemia da Covid-19.
Apenas em 2020 houve retração, quando foram fabricadas 588.495 unidades, uma queda de 156 mil em relação ao ano anterior. O impacto foi imediato, mas a recuperação veio rápida: em 2021, a produção avançou para 787.610 motocicletas, retomando o patamar pré-crise.
Consolidação após a pandemia
O período seguinte consolidou a ascensão. Em 2022, a indústria quase atingiu a marca de um milhão, com 921.921 unidades. O número foi superado no ano seguinte, quando o setor alcançou 1.051.542 motos produzidas entre janeiro e agosto. A partir daí, os sete dígitos se tornaram realidade. Em 2024, o volume chegou a 1.179.243, com crescimento de 12% em relação ao ano anterior.
Agora, em 2025, o acumulado de janeiro a agosto registra 1.326.963 motocicletas, alta de 12,5% sobre o mesmo período de 2024. “A demanda vem aumentando em todo o País. São pessoas que utilizam a motocicleta para seus deslocamentos diários ou profissionalmente, como instrumento de trabalho e geração de renda”, afirma Marcos Bento, presidente da Abraciclo.
Segundo ele, a motocicleta se consolidou no Brasil como meio de transporte acessível e alinhado às necessidades de mobilidade urbana.
O peso do Polo de Manaus
Grande parte dessa produção vem do Polo Industrial de Manaus (PIM), responsável por mais de 90% das motocicletas fabricadas no Brasil. Apenas em agosto de 2025, o Polo produziu 185.952 unidades, o melhor resultado do ano e também o maior desempenho para o mês desde 2011. O volume representou avanço de 13,4% em comparação com agosto de 2024 e 32,6% em relação a julho, quando parte das fábricas havia concedido férias coletivas.
O resultado confirma a força do polo manauara como centro estratégico da indústria de duas rodas no país, além de movimentar cadeias produtivas ligadas a logística, peças e insumos.
Expectativa é fechar 2025 com 1,88 milhão de unidades
Expectativas para 2026
A Abraciclo projeta crescimento de 7,5% na produção total de 2026 em relação ao ano passado. Isso significa chegar a 1,88 milhão de motocicletas fabricadas, contra 1,7 milhão em 2024. Caso a previsão se confirme, será um dos melhores resultados da história do setor, superado apenas pelos recordes da década passada.
Essa tendência tem sido impulsionada por categorias de grande apelo popular. Modelos Street, Trail e Motoneta lideram a produção, com destaque para as Street, que corresponderam a 52,4% do total produzido no primeiro bimestre.
Vendas e exportações
O bom desempenho da produção se reflete no mercado interno. Em agosto de 2025, foram licenciadas 185.515 motocicletas no varejo, alta de 13,2% frente ao mesmo mês do ano anterior. Apesar disso, houve retração de 4% na comparação com julho, reflexo da sazonalidade típica do setor.
Nas exportações, o saldo é positivo, ainda que com oscilações mensais. Em agosto, foram embarcadas 2.942 motocicletas, queda de 11,9% em relação a agosto de 2024, mas crescimento de 9,8% frente a julho. No acumulado de janeiro a agosto, as exportações somaram 24.232 unidades, avanço de 9,3% na comparação interanual.
Esse desempenho no comércio exterior reforça a presença brasileira em mercados da América Latina e da Ásia, ainda que em volume modesto frente à produção voltada ao consumo interno.
No varejo, os números mostram capilaridade nacional. O Sudeste responde por 34,2% das vendas, seguido de perto pelo Nordeste (33,2%). O Norte tem participação de 13%, o Sul representa 10,1% e o Centro-Oeste responde por 9,5%. Esses dados revelam a importância da motocicleta como alternativa de mobilidade não apenas em grandes centros, mas também em regiões menos atendidas por transporte público estruturado.
Motocicleta como ativo econômico
Para especialistas do setor, a ascensão da motocicleta vai além da mobilidade individual. O veículo tem papel fundamental em setores como entregas, logística urbana e serviços, especialmente após a consolidação dos aplicativos de delivery. “A moto deixou de ser vista apenas como bem de consumo. Hoje é também instrumento de trabalho, elemento de inclusão produtiva e ativo econômico relevante”, destaca Bento.
Esse contexto ajuda a explicar por que os modelos de baixa cilindrada, mais acessíveis e econômicos, respondem por quase 80% da produção nacional. Eles se tornaram a principal escolha de trabalhadores autônomos e pequenos empreendedores que veem na motocicleta uma forma de ampliar sua renda.
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