Israel anunciou um passo decisivo para avançar com um dos planos de assentamento mais controversos de sua história recente, reacendendo tensões diplomáticas e aprofundando o impasse no processo de paz com os palestinos. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, confirmou nesta quinta-feira (14) a aprovação de 3.401 novas unidades habitacionais no projeto conhecido como E1, que ligará Jerusalém ao assentamento de Maale Adumim, na Cisjordânia ocupada.
O plano, paralisado por décadas devido à forte oposição internacional, é visto por críticos como um divisor de águas no conflito. Ao conectar as duas áreas, Jerusalém Oriental, reivindicada pelos palestinos como capital de um futuro Estado, ficaria isolada, e a Cisjordânia seria cortada ao meio, inviabilizando a formação de um território palestino contíguo.
Durante coletiva de imprensa no local do projeto, Smotrich foi enfático: “Eles falarão sobre um sonho palestino, e nós continuaremos a construir uma realidade judaica”. O ministro, defensor da anexação total da Cisjordânia, afirmou que a expansão “enterrará permanentemente a ideia de um Estado palestino” e disse que não reconhece legitimidade para negociações nesse sentido.
A expectativa é que a aprovação final ocorra na próxima semana, após avaliação formal. Smotrich tem pressionado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para aplicar a soberania israelense sobre todo o território ocupado.
A medida provocou reação imediata da liderança palestina. A Presidência do Conselho Nacional Palestino classificou o projeto como “plano sistêmico para roubar terras, judaizá-las e impor interpretações bíblicas ao conflito”. O presidente da Câmara, Rawhi Fattouh, declarou que o avanço integra uma “política de anexação gradual”, acompanhada por aumento da violência de colonos contra comunidades palestinas.
Organizações internacionais reiteram que os assentamentos israelenses na Cisjordânia violam o direito internacional. Entretanto, durante o governo de Donald Trump, os Estados Unidos abandonaram essa interpretação, e o governo de Joe Biden manteve a posição.
A ONG israelense Paz Agora alertou para o impacto irreversível do E1. Em comunicado, segundo a CNN, a organização afirmou que a iniciativa “ mortal para o futuro de Israel e para qualquer possibilidade de solução de dois Estados”, acusando o governo de “impulsionar o país para o abismo” e prolongar o ciclo de violência.
Enquanto isso, o cenário humanitário em Gaza continua a se deteriorar. Segundo o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas, ao menos 123 pessoas morreram na quarta-feira (13) em um ataque israelense à Cidade de Gaza, o pior saldo diário em uma semana, segundo informações do Poder 360. A guerra, que ultrapassa 22 meses desde o início em 7 de outubro de 2023, já deixou mais de 60 mil mortos, de acordo com autoridades locais.
Ainda, o Ministério da Saúde local informou que, entre quarta e quinta-feira(14), oito pessoas, incluindo três crianças, morreram de fome ou desnutrição, elevando para 235 o total de vítimas dessas causas desde o início do conflito. O governo israelense contesta os números apresentados pelo Hamas, mas não divulga estimativas próprias.
Com o avanço do E1 e o aumento das mortes na Faixa de Gaza, cresce a pressão internacional por um cessar-fogo e por retomada das negociações. No entanto, o clima político em Israel e a falta de consenso entre as partes indicam que o impasse está longe de ser superado.
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