O governo interino do Peru anunciou que vai decretar estado de emergência em Lima e na cidade portuária de Callao, depois de uma série de protestos violentos contra a corrupção e a violência no país. As manifestações, lideradas por jovens da geração Z, deixaram um morto e mais de cem feridos.
A medida, que afetará cerca de 10 milhões de pessoas, permitirá a mobilização das Forças Armadas e a suspensão de direitos como a liberdade de reunião. “Vamos anunciar a decisão de declarar emergência pelo menos na Lima Metropolitana”, afirmou o chefe do gabinete, Ernesto Álvarez, após reunião no Palácio de Governo. Ele não descartou a possibilidade de toque de recolher “considerando que a criminalidade não respeita a noite”.
Os confrontos mais graves ocorreram na quarta-feira (15), quando o rapper Eduardo Ruiz Sáenz, de 32 anos, conhecido como Trvko, foi morto por um policial durante os atos. Outro manifestante ficou em coma após ser atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo. O comandante da polícia, general Óscar Arriola, informou que o agente responsável pelo disparo foi preso e afastado da corporação.
Na quinta-feira (16), dezenas de jovens voltaram às ruas de Lima para homenagear o músico com flores, velas e cartazes pedindo justiça. Segundo balanço oficial, 113 pessoas ficaram feridas nos confrontos, sendo 84 policiais e 29 civis.
Crise política no Peru
Jerí assumiu a presidência de forma interina após o Congresso destituir Dina Boluarte em 10 de outubro, sob alegações de incompetência diante da escalada de violência. O novo mandatário, até então presidente do Parlamento, deve permanecer no cargo até as eleições gerais previstas para julho de 2026. Ele é o oitavo presidente peruano nos últimos dez anos.
Questionado sobre a possibilidade de deixar o cargo, José Jerí afirmou que pretende continuar à frente do governo até o fim do mandato interino. “Não vou renunciar, vou continuar com a responsabilidade”.
A destituição de Boluarte reacendeu a insatisfação popular com o sistema político, marcado por sucessivos impeachments e denúncias de corrupção. Desde o início das manifestações, há um mês, quase duzentas pessoas ficaram feridas, entre policiais, civis e jornalistas. Os atos, iniciados em 20 de setembro, começaram com cerca de 500 manifestantes marchando pelo centro de Lima contra uma nova lei previdenciária que obriga jovens a contribuir com fundos privados.
Protestos na capital do Peru em setembro (Foto: Reprodução)
Jovens à frente das ruas
A onda de protestos é liderada principalmente por integrantes da geração Z, grupo de jovens entre 16 e 30 anos que se mobiliza por meio das redes sociais. Eles denunciam a corrupção, a precarização do trabalho e a violência urbana. Muitos atuam em empregos informais e consideram injusta a exigência de contribuição obrigatória à previdência privada.
Nos atos, os manifestantes empunham bandeiras inspiradas na série de mangá One Piece, símbolo de resistência adotado por jovens em vários países. O movimento peruano faz parte de uma tendência global em que grupos da geração Z têm organizado manifestações contra governos considerados corruptos ou autoritários. O fenômeno foi visto além do Peru, em Nepal, Filipinas, Indonésia, Quênia, Marrocos e Madagascar.
O governo justificou o decreto de emergência pela necessidade de conter a criminalidade, contudo a decisão reflete o agravamento de uma crise política e social que já dura uma década. O Peru teve oito presidentes em dez anos, e as mudanças sucessivas no poder alimentam a desconfiança da população. Enquanto isso, nas ruas de Lima, os jovens seguem protestando.