O prefeito Sandro Mabel (UB) voltou a defender a ampliação da instalação de grama sintética em canteiros da cidade, incluindo novos pontos como o Parque Vaca Brava. A declaração foi feita nesta quarta-feira (20).
Recentemente, a cobertura artificial já foi implantada em locais como a Avenida Castelo Branco e a Rua 44. O gestor destaca que vê vantagens no uso da grama sintética em relação à natural, especialmente durante o período de estiagem, e afirmou que pretende expandir o projeto para outras regiões da Capital.
Durante a defesa da ampliação do uso de grama sintética em Goiânia, o prefeito afirmou que o material traz vantagens em relação à cobertura natural, especialmente em áreas de canteiros e parques.
“Eu fui medir a temperatura da grama sintética e ela é 2 graus mais baixa do que a grama natural seca. Durante o verão, a sintética é mais fria do que o parque. A natural, quando seca, esquenta muito mais. Então não é verdade que a sintética aquece mais”, afirmou.
Mabel também destacou outros pontos positivos. “Ela não solta poeira como a grama seca, não precisa de podas constantes e não atrapalha o trânsito. Para podar um canteiro ornamental da Castelo Branco, por exemplo, é preciso interditar faixas, colocar servidores dos dois lados da via e ainda há risco de quebrar vidro de carro. Já a grama sintética fica sempre verde, bonita e só precisa de limpeza a cada 90 dias”, explicou.
Segundo Mabel, o material também apresenta eficiência em períodos de chuva. “A grama sintética que vamos usar é toda furada, então absorve a água mais rápido e facilita a drenagem, diferente da natural, que às vezes transborda e joga água na pista. Isso recarrega melhor o lençol freático e evita transtornos.”
O gestor ainda defendeu a aplicação em pontos específicos da cidade, como o Parque Vaca Brava. “Hoje, debaixo das árvores do Vaca Brava, o que tem é um terrão que não serve para nada. Ninguém faz piquenique, ninguém aproveita. Se colocarmos ilhas de grama sintética, as pessoas vão poder usar o espaço. É econômico, funcional, gera menos calor e reduz poeira. A ideia foi minha, e nós vamos sim ampliar essa experiência.”
Durante sessão na Câmara Municipal nesta quinta-feira (19), a vereadora Kátia Maria (PT) fez duras críticas à proposta de Sandro de ampliar o uso de grama sintética em Goiânia.
“Quero manifestar meu total repúdio à fala do prefeito. Estamos vivendo um momento de agravamento da crise ambiental, com mudanças climáticas cada vez mais intensas. Goiânia já apresenta sensação térmica de até 2 graus acima da média, e a grama sintética vai agravar essa situação”, afirmou.
A parlamentar destacou que a cobertura artificial pode trazer diversos impactos negativos. “Esse material vai proliferar microplásticos, impedir a permeabilidade do solo e intensificar os problemas de alagamento que a Defesa Civil já aponta em vários pontos da cidade durante o período chuvoso. Isso só vai piorar a crise ambiental que enfrentamos.”
Além da manifestação da vereadora, o debate ganhou força com a tramitação de um projeto de lei. O vereador Fabrício Rosa (PT) apresentou o Projeto de Lei nº 436/2025, que pretende proibir a instalação de grama sintética nos canteiros centrais da Capital.
Na justificativa, o parlamentar destaca que a medida contraria princípios de sustentabilidade e ecologia urbana. Rosa aponta riscos como: elevação da temperatura e intensificação das ilhas de calor; redução da permeabilidade do solo, com mais riscos de alagamentos; eliminação de benefícios ambientais da grama natural, como absorção de carbono, biodiversidade e melhoria do ar; custos a médio e longo prazo, devido à necessidade de substituição periódica, limpeza e riscos de poluição por microplásticos.
“Essa proposta reafirma o compromisso da Câmara com a qualidade de vida da população e com a preservação ambiental, incentivando soluções urbanas alinhadas às necessidades ecológicas do Cerrado”, escreveu Fabrício na justificativa.
O conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), David Finotti, ressalta que a grama sintética, apesar de apresentar certa porosidade, não cumpre o papel de absorção e infiltração de água desempenhado pelo solo natural com vegetação.
“Sua instalação geralmente envolve uma base compactada e impermeabilizante, o que dificulta o escoamento da água para o lençol freático. Isso pode aumentar o volume e a velocidade do escoamento superficial, contribuindo para enxurradas, alagamentos e sobrecarga nos sistemas de drenagem urbana”, explica.
Material sintético gera debate sobre impactos ambientais e paisagísticos
“Por ser composta de materiais plásticos, a grama sintética retém mais calor do que a vegetação viva, contribuindo para a formação de ilhas de calor. Além disso, seu aspecto artificial empobrece a paisagem, impede o desenvolvimento de espécies nativas e polinizadores e, ao longo do tempo, libera microplásticos que podem agravar a poluição de corpos d’água.”
Segundo Finotti, a medida contraria princípios básicos da legislação urbanística. “Apesar da aparência ‘verde’, trata-se de uma solução artificial, que substitui processos ecológicos e paisagísticos fundamentais. Isso vai na contramão da legislação que exige áreas permeáveis em loteamentos e empreendimentos privados”, conclui o conselheiro.
Em nota enviada ao jornal O HOJE, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou que a instalação de grama sintética nos canteiros centrais das avenidas Castelo Branco, no Setor Coimbra, e Rua 44, no Setor Norte Ferroviário, faz parte de um projeto-piloto que busca avaliar a viabilidade do uso desse material em pontos estratégicos da cidade.
Segundo o órgão, o objetivo é oferecer uma solução mais prática e duradoura para o paisagismo urbano. A grama sintética, diz a nota, apresenta vantagens em áreas com baixa incidência de luz solar ou grande fluxo de pedestres, já que não requer poda, não seca e mantém a aparência o ano inteiro.
Ainda conforme a Comurg, a cobertura tende a ser até dois graus mais fria que a grama natural seca, não solta poeira e exige menos manutenção. Nos canteiros ornamentais, reduz os transtornos de podas frequentes e contribui para economia de água durante a estiagem.
O material usado no projeto-piloto, explica a Companhia, é composto por retalhos e rolos adquiridos em gestões anteriores e que estavam em estoque. Hoje, existem dois lotes disponíveis, que seriam aplicados em quadras poliesportivas e campos da cidade.
A Comurg conclui que, após a instalação nesses dois pontos, fará um monitoramento técnico para avaliar os resultados e decidir sobre uma possível expansão do projeto para outras áreas da Capital.
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