Os deputados do PT bem que tentam, mas combatem no deserto. Adriana Accorsi e Rubens Otoni usam seus espaços nas mídias digitais para propagar o que o Governo Federal envia para Goiás. Os balanços incluem investimentos em todos os 246 municípios, além de realizações do Estado. Uma observação é que os prefeitos, os Executivos com caixa para propaganda bem próxima do povo, divulgam que os recursos são levados por seus representantes na Assembleia e no Congresso, quase nunca o governador Ronaldo Caiado tem a primazia da citação e jamais o presidente da República é o responsável, seja ele o atual, Luiz Inácio Lula da Silva, ou o anterior, Jair Bolsonaro.
De todos os malefícios da omissão, os piores foram na pandemia. Bolsonaro manda bilhões de reais em Auxílio Emergencial, vacinas, equipamentos para unidades de saúde – e nada de secretários de Saúde e seus prefeitos nominarem o benfeitor. Deputados federais e senadores aparecem felizes nos vídeos anunciando milhões e mais milhões para as cidades de seus aliados, como se o dinheiro fosse deles. Nada falam que foi o presidente, atual ou o ex. Ah, também omitem o que Caiado manda, quando ele não vai ou manda alguém para dar nome aos bois.
O que exatamente está sendo feito em Goiás?
No Vale do São Patrício e Norte, o que mais reluz é a Fico, Ferrovia de Integração do Centro-Oeste. Ao lado de Santa Terezinha de Goiás há um canteiro de obras que é praticamente outra cidade. O comércio da região se revigorou com as compras para centenas de operários e técnicos a serviço da Valec, a estatal das estradas de ferro. A empresa que movimenta a região é a ABS, com centenas de empregados locais, além de contratar serviços e fornecedores. Serão 363km entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), quase metade já pronta, mais de R$ 10 bilhões aplicados, promessa de entregar até 2028.
Bolsonaro e Lula disputam bem no Sudoeste. O 1º passou bastante por lá, aplicou no aeroporto de Jataí, que o 2º está concluindo. No início deste mês, o prefeito Geneilton Assis esteve no Ministério de Portos e Aeroportos, ao lado das deputadas Marussa Boldrin (federal) e Bia de Lima (estadual). Conseguiu R$ 12,4 milhões para fazer um terminal de passageiros de quase 1.800m². No total, a prefeitura aplicou R$ 28,3 milhões e a União, R$ 40,5 milhões.
A solução para Jataí não está no ar, mas na terra firme. É preciso duplicar os 100km que ligam a Mineiros, o que está em projeto para terminar parte em 2030. O que ficou pronto foi um batom de R$ 34 milhões do Dnit, a Goinfra federal, em 67km da mesma rodovia, a BR 364. Também na fase prévia de engenharia estão as duplicações ligando Rio Verde a Itumbiara e a Rodovia da Morte, a BR-153, de Anápolis à divisa com o Tocantins – tudo também por etapa.
No fim de agosto, autoridades dos governos Federal e de Goiás fizeram “uma visita técnica à implantação de 98 quilômetros de novas pistas e a construção da ponte sobre o Rio Araguaia, obras na BR-080/GO que terão investimento de R$ 362 milhões do Governo Federal, por meio do Novo PAC”. Refez igualmente 22km da BR-040, perto de Cristalina, no Entorno de Brasília, por R$ 5 milhões. Aposto que você não sabia dessa dinheirama, a menos que deputados tenham gravado vídeo posando de donos da construção e dos recursos.
Um estorvo para a conscientização quanto ao uso do dinheiro se dá pelo roteiro das realizações. Só quem vai de Santa Terezinha a Campos Verdes vê o canteiro de obras da Fico – os trechos da ferrovia serão no meio do mato, só alcançável por drone, satélite ou um peregrino bom de caminhada. Nenhuma das grandes construções viárias é em Goiânia, Aparecida ou Anápolis.
De Bolsa Família a Minha Casa, Minha Vida, os programas estão solteiros
Um ditado bem popular entre os municipalistas, os políticos que ganham votos com a conversa de que buscam recursos em Brasília, é que “ninguém mora no país, todos moramos na cidade”. O jogo de palavras é paupérrimo como literatura, diz absolutamente nada, mas ajuda nas eleições. Por isso, quando as prefeituras cadastram beneficiários dos programas sociais, não os casam com o endereço do cofre, os ministérios em Brasília.
Quase meio milhão de lares em Goiás recebem o Bolsa Família. Esse número de cartões representa cerca de 2 milhões de pessoas. Somem-se os aquinhoados com Benefício de Prestação Continuada, o BPC Loas, Vale-Gás e os demais programas federais e estaduais de complemento de renda. Ainda assim, 20% dos goianos vivem na pobreza ou extrema pobreza.
O Governo Federal não deu conta, até hoje, de associar sua imagem à do BPC. A pessoa que recebe 1 salário mínimo por mês atribui o dinheiro ao advogado que contratou ou às orações que fez para o juiz conceder, mas quer nem saber de onde veio.
Também vêm de Brasília os fundos de participação do Estado (FPE) e dos Municípios (FPM). Mais de 80% das cidades goianas vive dos repasses. O próprio Governo Estadual depende de emendas e outros recursos federais. Também é frequente a chegada de equipamentos, máquinas e outros tentos que os parlamentares buscam.
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