O envelhecimento da população brasileira não é mais uma previsão distante: é uma realidade concreta. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil soma hoje mais de 32,1 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa 15,8% da população total. A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que, até 2026, haverá mais idosos do que crianças no planeta. Essa mudança demográfica impõe novos desafios sociais e de saúde pública e um dos principais é garantir que o aumento da expectativa de vida venha acompanhado de qualidade.
Nesse cenário, o exercício físico desponta como um dos pilares fundamentais do envelhecimento saudável. A prática regular de atividades adequadas para a terceira idade não apenas melhora o bem-estar, mas também previne doenças, preserva a autonomia e mantém a mente ativa. Para entender melhor os benefícios e cuidados necessários, a reportagem conversou com dois especialistas: a fisioterapeuta Marina Duarte, com 15 anos de experiência em reabilitação geriátrica, e o geriatra Dr. Ricardo Menezes, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo a fisioterapeuta Marina Duarte, o corpo humano foi feito para o movimento e isso não muda com o passar do tempo. “O que envelhece de forma mais prejudicial é o sedentarismo, não a idade em si. A falta de atividade acelera o declínio funcional, reduz a força muscular e afeta o equilíbrio”, explica.
Ela destaca que exercícios de resistência, como musculação leve e treino funcional, ajudam a combater a sarcopenia, condição caracterizada pela perda de massa e força muscular, comum a partir dos 50 anos. “Um idoso com boa força muscular tem mais autonomia. Ele sobe escadas, carrega sacolas e se movimenta com segurança. Isso significa independência, algo essencial para o bem-estar emocional também”, reforça Marina.
De acordo com estudos da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a prática regular de exercícios pode aumentar em até 30% a força muscular de idosos sedentários em apenas três meses, com impactos positivos diretos na postura, equilíbrio e mobilidade.
Fortalecimento muscular e autonomia
O fortalecimento muscular é um dos eixos centrais da longevidade ativa. Dr. Ricardo Menezes explica que a sarcopenia não ocorre apenas pela idade, mas também pela inatividade. “A partir dos 40 anos, perdemos cerca de 1% da massa muscular por ano. Se não fizermos nada, aos 70 já teremos perdido quase um terço da força que tínhamos na juventude. Mas isso é reversível. Mesmo quem começa a se exercitar aos 70 pode ter ganhos expressivos”, afirma.
O médico defende a integração entre fisioterapeutas, educadores físicos e médicos geriatras no planejamento dos treinos. “Cada idoso é único. É preciso considerar o histórico de doenças, limitações e objetivos pessoais. Mas é fato que todos se beneficiam do movimento seja com caminhadas, natação, dança ou treino de resistência.”
A autonomia funcional é uma das principais metas. Segundo o geriatra, “quanto mais forte o corpo, menor a dependência de cuidadores e familiares. A independência é um fator decisivo para a autoestima e para a saúde mental.”
Ossos fortes, quedas evitadas
Com o envelhecimento, outro desafio aparece: a perda de densidade óssea. Condições como a osteoporose tornam os ossos mais frágeis, aumentando o risco de fraturas, especialmente em mulheres após a menopausa. Para Marina Duarte, a prevenção deve começar antes dos primeiros sinais. “Exercícios que envolvem impacto leve, como caminhadas, dança ou musculação com cargas moderadas, estimulam a formação óssea. O osso precisa de estímulo mecânico para se fortalecer.”
A fisioterapeuta lembra que a osteoporose não é sentença de imobilidade, mas requer cuidado e acompanhamento. “Trabalhamos para fortalecer músculos que sustentam a estrutura óssea, melhorando o equilíbrio e reduzindo o risco de quedas. Uma simples rotina de exercícios de 30 minutos, três vezes por semana, já traz resultados significativos.”
De acordo com dados do Ministério da Saúde, as quedas representam 60% das internações hospitalares entre idosos. No entanto, estudos apontam que programas regulares de atividade física podem reduzir esse risco em até 40%.
Exercício físico como remédio
“O exercício é o melhor e mais barato medicamento preventivo que existe”, afirma o Dr. Menezes. Ele explica que a atividade física regular tem efeito direto sobre o controle da pressão arterial, do colesterol e da glicemia, prevenindo doenças cardiovasculares e o diabetes tipo 2.
Além disso, há benefícios cognitivos. Pesquisas recentes demonstram que o exercício estimula a produção de neurotransmissores e melhora a irrigação cerebral, o que pode retardar o avanço de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. “Os idosos que se mantêm ativos apresentam melhor memória, atenção e humor. A atividade física reduz sintomas de depressão e ansiedade, muito comuns nessa fase da vida”, explica o geriatra.
A fisioterapeuta complementa: “O corpo ativo é um corpo vivo. E a mente acompanha esse ritmo.”
Barreiras e preconceitos a serem superados
Mesmo diante das evidências, ainda há resistência. Muitos idosos acreditam que exercícios podem ser perigosos. “Há medo de se machucar, especialmente quando já existe dor ou limitação”, comenta Marina Duarte. “Mas é justamente o movimento orientado que reduz a dor e melhora a mobilidade.”
O geriatra concorda e aponta outro obstáculo: a falta de políticas públicas voltadas ao envelhecimento ativo. “Precisamos de programas comunitários de atividade física, com infraestrutura acessível e profissionais capacitados. O envelhecimento saudável é uma questão de saúde pública, não apenas individual.”
Segundo o IBGE, apenas 36% dos idosos brasileiros praticam alguma atividade física regular, número que precisa crescer de forma urgente. “Não é só sobre viver mais. É sobre viver melhor”, enfatiza o médico.
Exercício, socialização e propósito
A prática de atividades físicas também promove interação social, fator essencial para o bem-estar emocional. Grupos de caminhada, aulas de hidroginástica e dança de salão são exemplos de práticas que unem movimento e convivência. “O exercício é também um ponto de encontro. Ele resgata o prazer de estar com outras pessoas, de compartilhar histórias, de se sentir útil e ativo. Isso tem um impacto profundo na saúde mental”, ressalta Marina Duarte.
A OMS já reconhece o isolamento social como um fator de risco para doenças crônicas. Assim, promover o movimento coletivo entre idosos é uma forma de cuidar do corpo e da alma simultaneamente.
O envelhecimento da população brasileira é irreversível, mas suas consequências podem ser profundamente positivas se houver investimento em prevenção e promoção da saúde. A combinação entre orientação médica, acompanhamento fisioterapêutico e programas regulares de atividade física é o caminho mais eficaz para garantir uma velhice plena e ativa.
“Envelhecer bem é um direito. E o exercício é a ferramenta mais poderosa que temos para isso”, conclui o Dr. Ricardo Menezes.










