O mercado de artigos de luxo de segunda mão deixou de ser um nicho restrito para se tornar uma das principais tendências do consumo global. O que antes era visto como desinteresse por itens usados passou a ser sinônimo de consciência, investimento e exclusividade. Estimativas apontam que o segmento de revenda de luxo movimentou mais de 37 bilhões de dólares em 2024 e pode dobrar de tamanho na próxima década, impulsionado pelo comportamento de consumidores que buscam história e raridade.
No Brasil, o fenômeno acompanha o ritmo internacional. Com mais de 100 mil brechós ativos, o país se destaca como um dos maiores mercados emergentes de revenda da América Latina. O crescimento é puxado por jovens que valorizam sustentabilidade, autenticidade e acesso a marcas antes inalcançáveis.
Bolsas e acessórios de luxo lideram as vendas
As bolsas de grife são as protagonistas desse mercado. Modelos clássicos de marcas como Louis Vuitton, Chanel e Hermès tornaram-se ativos financeiros, com valorização superior à de alguns investimentos tradicionais. Peças raras são vendidas por valores acima do preço original, especialmente em plataformas de revenda e leilões especializados.
Segundo lojistas do setor, bolsas de edição limitada e acessórios icônicos representam cerca de 60% do faturamento de brechós de luxo. “Hoje, muita gente compra pensando no retorno futuro. A bolsa virou investimento e status, mesmo em segunda mão”, afirma a empresária Carla Moura, que atua no mercado há dez anos em São Paulo.
Brechós de luxo se consolidam como nova fronteira de negócios no país. Foto: Divulgação
Plataformas digitais e novos perfis de consumo
A digitalização ampliou o alcance desse segmento. Plataformas online especializadas, redes sociais e aplicativos de revenda se tornaram ferramentas centrais para conectar compradores e vendedores. O crescimento médio anual das vendas digitais de luxo usado ultrapassa 20%, ritmo superior ao do varejo tradicional.
A clientela também mudou. Jovens das gerações Z e Millennial representam a maioria das transações. Eles buscam produtos com propósito, qualidade e valor emocional. “O consumidor atual quer história e autenticidade. Ele prefere um item que já viveu algo a um produto recém-saído da loja”, explica o consultor de mercado de moda Gustavo Leal.
Sustentabilidade e economia circular
A procura por itens de luxo usados também reflete um novo olhar sobre sustentabilidade. Comprar uma peça de segunda mão significa prolongar o ciclo de vida de um produto e reduzir o impacto ambiental da produção de novos bens. Essa mentalidade impulsiona o conceito de economia circular e fortalece pequenos empreendedores locais.
Em cidades médias, brechós se multiplicam e criam oportunidades de renda. No interior de Goiás e Minas Gerais, por exemplo, o número de lojas de revenda cresceu cerca de 30% entre 2022 e 2024, segundo levantamentos setoriais. Além disso, marcas de luxo começam a se adaptar, criando programas de recompra e parcerias com lojas especializadas.
Desafios e perspectivas para o setor
Apesar do avanço, o setor enfrenta obstáculos. A principal preocupação é a autenticidade das peças, já que falsificações ainda circulam no mercado. Empresas especializadas investem em tecnologias de verificação e certificados digitais para garantir a procedência dos produtos. Outro desafio é a logística: a margem de lucro é apertada e exige eficiência na coleta, avaliação e revenda dos itens.
Mesmo assim, o cenário é promissor. Analistas projetam crescimento contínuo até 2033, com destaque para bolsas, relógios e joias vintage. A tendência é que o luxo usado se consolide como alternativa econômica e cultural, reunindo sustentabilidade, estilo e investimento.
Por fim, o mercado de luxo de segunda mão representa uma nova forma de consumo. Ele redefine o valor do que é raro e autêntico, ao mesmo tempo em que democratiza o acesso a itens de prestígio. Brechós e plataformas digitais ocupam um papel central nesse movimento, que combina tecnologia, consciência ambiental e desejo por exclusividade. Ou seja, o luxo que antes era símbolo de escassez agora ganha nova vida — circulando, valorizando e transformando o modo como as pessoas consomem.








