O Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) divulgou na segunda-feira (25) dados atualizados sobre mortes envolvendo motociclistas no Estado. O levantamento contou também com informações dos principais hospitais de urgência, que mostraram o peso desses sinistros na saúde pública.
Segundo o órgão, os sinistros — termo recomendado pelas autoridades de trânsito para substituir “acidente”, por reforçar a responsabilidade humana e o caráter de prevenção — provocam, em média, 600 mortes por ano em Goiás.
“A gente pensar, a cada cinco anos, nós dizimamos uma cidade, como o Três Ranchos, como a Aparecida do Rio Doce. Então, realmente, é uma situação extremamente grave. Algo muito preocupante”, afirmou o delegado Waldir, presidente do Detran-GO.
Entre 2023 e 2024, 1.205 motociclistas ou garupas morreram em sinistros. Apenas de janeiro a junho de 2025, já foram registrados 243 óbitos, segundo dados preliminares do Observatório da Segurança Pública. Essas mortes representam quase 40% do total de fatalidades em acidentes de trânsito no período, quando foram registradas 633 mortes e mais de 42 mil ocorrências gerais. O excesso de velocidade aparece como principal fator determinante.
“A ideia da campanha é estimular a reflexão sobre a pressa. Às vezes, para ‘ganhar’ três ou quatro minutos, colocamos em risco nossa vida e a vida de terceiros”, alertou Waldir. Ele destacou que 60% das multas aplicadas no Estado são por excesso de velocidade, somando 1,33 milhão de autuações apenas no primeiro semestre deste ano.
O delegado reforçou também a gravidade do impacto hospitalar. “Setenta por cento do atendimento de emergência de todos os hospitais são de motociclistas. Então, é uma calamidade pública a situação. Temos que trazer essa discussão inclusive ao governo federal, porque hoje a quantidade de mortes no trânsito é superior às mortes por arma de fogo”, disse.
Segundo ele, o custo é altíssimo: mais de R$ 4 milhões a cada seis meses para a Previdência e mais de R$ 12 milhões em despesas hospitalares somente no primeiro semestre.
Os dados da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) confirmam a pressão sobre o sistema. No Hugol, foram 2.662 atendimentos a vítimas de sinistros, dos quais 1.948 motociclistas. No Heapa, em Aparecida, foram 997 casos, sendo 736 motociclistas, com gasto de R$ 4,1 milhões. O Hospital de Jataí registrou 949 vítimas, das quais 736 em motocicletas, com custo estimado de R$ 3 milhões. O Heana, em Anápolis, atendeu 1.394 casos, sendo 1.086 motociclistas.
Além dos números, há sequelas permanentes que transformam vidas. Marcelo Nunes, de 27 anos, contou que um acidente em 2014 mudou sua rotina para sempre.
“Eu caí numa grota, não conseguia sentir do peito para baixo. Fiquei aguardando até ser levado ao Hugo, onde passei por cirurgia e fiquei com duas chapas de ferro e oito parafusos. No início não tinha sensibilidade nenhuma, depois com terapia fui recuperando cerca de 60%. No início foi bastante difícil, porque querendo ou não, você mudou todo o sentido da vida. Hoje só agradeço por estar vivo.” Marcelo alerta outros motociclistas: “Se estiver dirigindo e sentir sono, pare, não insista. Estou aqui numa cadeira de rodas e poderia ter evitado isso.”
Para enfrentar esse cenário, o Detran-GO lançou a campanha “No trânsito, a pressa deixa marcas”, que traz relatos reais de vítimas e familiares. Uma das ações mais simbólicas é o uso de um urso de pelúcia com capacete e membros engessados para alertar sobre o transporte de crianças em motos. “Você não é gato, você tem apenas uma vida. Respeite a sinalização”, pontuou Waldir.
Em nota enviada ao jornal O HOJE, o Detran destacou que mantém ações voltadas a motociclistas profissionais. Cursos gratuitos de direção defensiva podem ser solicitados por empresas e a autarquia estuda ampliar a qualificação exigindo formações específicas para motofretistas e mototaxistas, conforme prevê a legislação.
“Temos investido em fiscalização, firmado parcerias com forças de segurança e buscamos implantar projetos como a faixa azul na região metropolitana. Também orientamos sobre o uso de protetores dianteiros e traseiros nas motos, que podem evitar amputações. Acreditamos que, se cada um fizer sua parte, o trânsito muda”, concluiu Waldir
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