Bruno Goulart
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou que participará, nesta terça-feira (29), de uma motociata organizada por apoiadores, em Brasília. O evento acontece no Capital Moto Week, um dos maiores encontros de motociclistas da América Latina, realizado na região da Granja do Torto. Apesar das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que incluem uso de tornozeleira eletrônica e proibição de sair de casa à noite e nos fins de semana, a participação do ex-presidente será dentro do horário permitido: entre 6h e 19h, em dias úteis. O presidente do PL Goiás, senador Wilder Morais, além do deputado federal Gustavo Gayer (PL).
Na saída da sede do PL, em Brasília, nesta segunda-feira (28), Bolsonaro declarou que não acompanhará o comboio em cima de uma moto, mas estará presente no local para encontrar simpatizantes. “Sobre a motociata? Vou participar do evento, eu vou. Sou motociclista, mas não devo participar da motociata, não”, disse o ex-presidente. A presença é vista por aliados como uma forma de mobilização política diante da série de restrições jurídicas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga a tentativa de golpe após as eleições de 2022. Moraes já alertou que qualquer descumprimento das medidas poderá resultar em prisão imediata.
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A convocação da motociata já circula nas redes sociais com um vídeo promocional que utiliza imagem gerada por inteligência artificial. A peça reforça o discurso conservador bolsonarista, com os dizeres “Deus, Pátria, Família e Liberdade” e chama os militantes a “ir à luta”.
“Lutar até o último minuto”
Para o especialista em marketing político e mestrando em Comunicação, Felipe Fulquim, o gesto de Bolsonaro vai além de uma simples aparição pública. “Do ponto de vista do marketing político, a mensagem que ele está mandando para a militância é que ele vai lutar até o último minuto. Então, ele reafirma a presença dele. Enquanto liderança política, num processo da ultra-direita. E manda mensagem de que, ainda que seja preso,está com os seus aliados e os seus militantes ali. Mesmo diante de todas as restrições jurídicas que ele vive no momento. E na eminência dessa prisão.”
A leitura do especialista aponta ainda para uma segunda camada estratégica do evento: a sucessão. “Agora, o grande plus que pode acontecer [na motociata] é observar as presenças dos aliados mais próximos e daqueles com potencial de serem substitutos na disputa da presidência do ano que vem. Michelle Bolsonaro, Tarcísio, o próprio Caiado… a depender das figuras que estiverem com ele nesse possível último ato, vai dizer muito a respeito de quem pode ser o ungido dele, para poder substituí-lo numa situação de inviabilidade de ser candidato no próximo ano,”
Ainda segundo Fulquim, o evento tem forte apelo simbólico para a base bolsonarista mais fiel. “É uma estratégia de reafirmação e manutenção do posicionamento enquanto liderança da direita junto ao seu eleitorado mais fiel e aos seus aliados mais próximos.”
Caso se concretize, esta será a segunda participação de Bolsonaro no Capital Moto Week. Em 2023, o ex-presidente foi ovacionado por uma multidão com gritos de “mito”. Agora, no entanto, a atmosfera é diferente: o ato ocorre sob vigilância do STF, em um momento de isolamento político e risco real de prisão.
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