Bruno Goulart
Na manhã desta sexta-feira (17), o ministro das Cidades, Jáder Barbalho Filho (MDB), desembarca em Goiânia para representar o governo federal na inauguração do tratamento secundário da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dr. Hélio Seixo de Britto. A cerimônia marca o fim de uma obra iniciada em 2013 e concluída após mais de uma década.
O evento, contudo, ganhou novos contornos políticos após o cancelamento da vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que inicialmente participaria da solenidade. A ausência do chefe do Executivo federal — que dividiria pela primeira vez um palanque com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), adversário declarado — abriu espaço para especulações sobre o peso simbólico da presença de Jader Barbalho Filho, um ministro emedebista em território onde o MDB goiano é comandado pelo vice-governador Daniel Vilela.
A ETE Dr. Hélio Seixo de Britto é uma das principais obras de saneamento da Capital. Executada pela Saneago, com investimentos de R$ 133,2 milhões, sendo R$ 78,6 milhões provenientes da União via Novo PAC, o empreendimento garante um novo padrão de tratamento biológico do esgoto, com remoção de até 90% da carga orgânica. A estrutura, que entrou em operação assistida em julho, reforça o abastecimento do Rio Meia Ponte e moderniza o sistema de tratamento da cidade.
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A presença do ministro das Cidades, no entanto, extrapola a pauta técnica. Mesmo que o Palácio das Esmeraldas trate o evento como agenda institucional, a substituição de Lula por um ministro do MDB — o mesmo partido de Daniel Vilela — levou a leituras políticas nos bastidores.
Afinal, a visita ocorre num momento em que o governo federal busca ampliar pontes com o MDB, partido estratégico para a sustentação do Planalto e, ao mesmo tempo, base da chapa governista em Goiás.
O que diz o MDB goiano
Ao O HOJE, lideranças emedebistas afirmaram que a presença de Jáder Barbalho Filho não representa qualquer movimento de aproximação política entre Lula e Caiado. O deputado estadual Issy Quinan (MDB) destacou o tom institucional da agenda: “O Jader vem na condição de ministro participar de uma agenda institucional. Não há relação de apoio ou aproximação do governo federal com o governo de Goiás. O tratamento do governador Ronaldo Caiado deve ser republicano, como sempre foi. Mas a posição do MDB goiano é clara: o nosso projeto nacional é o de Caiado”.
Em linha semelhante, o deputado Lucas Calil (MDB) minimizou o caráter político do cancelamento da visita de Lula. “Não acredito que tenha dolo na ausência do presidente em prol de política. É uma agenda institucional, onde, apesar de adversários, tem que haver harmonia. O candidato do MDB goiano é o governador Ronaldo Caiado.”
Já o deputado Amilton Filho (MDB) apontou para a relação histórica entre Daniel Vilela e Jader Barbalho Filho, ao sugerir que o encontro carrega, sim, uma deferência partidária. “O Daniel é MDB e tem uma sinergia com o Jader, que também é do partido. Há uma deferência do ministro a Daniel, que vem de uma família de relevância dentro do MDB nacional.”
Bastidores
Fontes ouvidas por O HOJE avaliam que o tom do encontro deve ser protocolar, com discursos focados na entrega da obra e nos benefícios ambientais. Ainda assim, a simbologia política é inevitável.
De um lado, Caiado deve usar o evento para reafirmar sua postura de independência em relação a Brasília, destacar a execução da obra pela Saneago e criticar o longo tempo de espera pelo projeto — originalmente previsto no PAC da ex-presidente Dilma Rousseff.
De outro, o MDB goiano aproveita a vitrine federal para reforçar o espaço de Daniel Vilela dentro do partido, às vésperas de uma disputa presidencial onde Caiado tenta consolidar seu nome como alternativa da direita. (Especial para O HOJE)