Reunião com Michelle de Paula Bolsonaro é sempre animada e numerosa como show de grandes artistas. Deveria ser um ato político, torna-se um show e ela é a estrela maior, ainda que resista. Em qualquer lugar do Brasil. Nenhuma de suas antecessoras, no império e na República, teve tamanho sucesso. Apareceram mulheres inteligentes, com os mais diferentes talentos e vocações, mas nenhuma ombreou o marido em aprovação popular, como é o caso da esposa de Jair Bolsonaro. O casal nunca esteve tão unido, não porque ele esteja em prisão domiciliar por obra e graça do ministro Alexandre de Moraes (STF), mas pelo propósito de desbancar o PT da Presidência da República, tarefa para a qual Michelle surge como o quadro mais completo entre os não alinhados a Luiz Inácio Lula da Silva.
No fim de maio de 2025, pesquisa Atlas Intel/Bloomberg mostrou que, do casal, quem vence Lula é ela: 49,8% a 45,3%. Ele também ganharia de Lula, mas com vantagem menor: 47,5% a 45,5%. No início deste agosto, depois de tudo o que vem acontecendo com Jair, o Datafolha divulgou que Michelle continua sendo a mais competitiva do clã para encarar Lula, que venceria o deputado federal Eduardo Bolsonaro (39% a 20%) e o senador Flávio Bolsonaro (40% a 18%). O atual presidente golearia todos os governadores, inclusive o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (38% a 21%). Com essa chusma de personagens compondo as opções, Lula ganharia de Michelle de 39% a 24%. Ou seja, está mantida como a nº 1 de seu grupo para se encontrar com Lula nas urnas. A diferença pró-Lula aparece grande porque é o único representante de seu espectro ideológico, enquanto os índices da direita estão diluídos entre os quatro governadores e os dois enteados. A esquerda não tem ninguém além de Lula. A direita não tem ninguém mais identificado com o bolsonarismo que Michelle.
A favorita do presidente – do partido
É a preferida não apenas do eleitorado – Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido da família Bolsonaro, considera Michelle a favorita para retomar o comando do País. Ela é a chefe do PL Mulher, cujos eventos recebem mais pessoas que os da sigla inteira. Nessas solenidades, os elogios à ex-primeira-dama concentram a maior parte do tempo, superados apenas aos adjetivos a Jair Bolsonaro. Seus entraves nos quadros partidários estão na família do marido. Já superou revezes de três dos quatro dos filhos de Jair detentores de mandato (além do senador Flávio e do deputado Eduardo, os vereadores Carlos, no Rio de Janeiro, e Jair Renan, em Balneário Camboriú/SC). Apenas o que desceu para BC não a fustiga em público.
Ao se decidir pela candidatura da esposa, Bolsonaro vai escolher a única mulher entre os pré-candidatos de todos os partidos, do PL ao PT. Assim, supera a maior barreira de gênero. É a única de origem pobre (leia texto abaixo), o que cavuca espaço no lulismo. A única filha de nordestino, colaborando na entrada em uma região menos afeita a seu agrupamento político. É a única evangélica, um contingente de 48 milhões de brasileiros – e tem crente que só vota em crente. Como nasceu em Brasília, romperia o ciclo do eixo Rio-São Paulo, o que inclui seu marido, paulista que mora na Barra da Tijuca. Enfim, são diversos os argumentos para se vitaminar a candidatura de Michelle. Porém, o mais incisivo é o político.
Entre os concorrentes com maior pontuação nos levantamentos dos institutos, Michelle é a que tem menos barricadas pela frente, o que facilita se aproximar do centro, onde está a maioria do eleitorado. Não é vista como radical. A única acusação que pode lhe ser feita diretamente é a da inexperiência. Nos últimos 60 anos, além dos fracassados Jânio Quadros e Fernando Collor, quem chegou à Presidência da República com alguma expertise? O que João Goulart, os generais, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Jair Bolsonaro haviam administrado antes de ocuparem o Palácio do Planalto? Portanto, no mínimo, Michelle empata.
A luta pela inclusão de surdos, mudos e outras pessoas com deficiência
Está na moda empregar alguém que sabe Libras, a Linguagem Brasileira de Sinais, para eventos, vídeos e outras aparições. Quem deu à função um status palaciano foi Michelle de Paula. Ela mesma às vezes aparecia nos palanques ou nos cantos de telas traduzindo para surdos o que era dito nos discursos, nos hinos, nas palestras. Nenhuma novidade para quem exerce a nobre função desde a juventude. Suas ações durante o governo do marido foram para sensibilizar os governantes de Estados e Municípios para a importância da inclusão.
Michelle passa distante das polêmicas do marido e dos enteados. Critica Lula, como em evento no último fim de semana, mas no geral suas participações em solenidades políticas se concentram em propagar a batalha pela não discriminação das PCD.
Filha de motorista de ônibus nasceu na 1ª favela de Brasília
No início dos anos 1970, foi fundada no Distrito Federal a Comissão de Erradicação das Invasões, a CEI. A maior delas continuou crescendo que incorporou a sigla e virou Ceilândia. Na origem, era o que se convencionou chamar de favela, dado o desordenamento urbanístico. Ali, em 22 de março de 1982, nasceu Michelle de Paula Firmo Reinaldo – Jair Bolsonaro é de 21 de março, só que de 1955. Filha do motorista de ônibus Paulo Negão, cearense de Crateús, com a dona de casa Maria das Graças, mineira de Presidente Olegário. Tão pobres que moravam de favor num barracão de fundo de quintal. Michelle estudava em escola pública, trabalhava em supermercado.
O eleitorado ao qual o marido não teve acesso pode migrar de Lula para Michelle caso se identifique com alguém que tem a história das classes operárias – o atual presidente da República não trabalha desde 1964, quando perdeu o dedo. De vez em quando aparece algum meme ofensivo falando da mãe, de um dos muitos irmãos ou das centenas de seus amigos. Óbvio, são pessoas simples, grande parte vivendo à margem das instituições oficiais, que só veem os pobres como objetos de fiscalização e proibição.
Foi dali, da comunidade, veio a ex-primeira-dama, que nunca renegou suas origens. Seu avô materno era gari e morreu vítima de latrocínio na periferia de Brasília quatro anos de ela chegar com o marido no parlatório da Praça dos 3 Poderes e ser o primeiro cônjuge a discursar durante uma posse. Durante o mandato, nas campanhas e depois da Presidência, nunca se esqueceu de ir a Taguatinga. A imprensa às vezes lançava chistes dos frequentadores dos palácios, pois a anfitriã era uma moça do povo. A expectativa é de que, caso chegue lá, seja também uma presidente do povo.
O post Michelle é temida pelo PT e preferida no PL para enfrentar Lula apareceu primeiro em O Hoje.