Mesmo com um ritmo de valorização salarial mais lento — entre 2% e 7% abaixo do crescimento obtido por trabalhadores presenciais — o modelo de trabalho remoto ou híbrido continua sendo o preferido por uma parcela crescente da força de trabalho. A razão, segundo diversos estudos internacionais, está nos benefícios não salariais que o modelo proporciona, como maior flexibilidade, economia com deslocamentos e alimentação, e melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Um levantamento conduzido por economistas britânicos analisou dados de mercado desde 2019 e apontou que, apesar da defasagem salarial, muitos trabalhadores estão dispostos a abrir mão de parte de seus rendimentos para garantir dois ou três dias de trabalho remoto por semana. Em média, os entrevistados aceitariam uma redução de até 8% em suas rendas para continuar usufruindo do modelo híbrido.
Especialistas destacam que essa escolha vai além da questão financeira. Trata-se de uma troca: menos dinheiro por mais tempo livre, conforto e autonomia. Para muitos profissionais, esse “pacote de conveniências” representa qualidade de vida, e, por isso, supera a ausência de um aumento mais expressivo no salário.
Quem prefere o home office?
Mulheres, pessoas mais jovens, profissionais com ensino superior e trabalhadores que moram longe dos centros urbanos são os que mais demonstram preferência pelo trabalho remoto. Em alguns grupos, o ganho em produtividade também é percebido de forma mais intensa. Entre mulheres, por exemplo, a percepção de que trabalham melhor de casa é consideravelmente maior do que entre homens.
No entanto, nem tudo são vantagens. Pesquisas mostram que trabalhadores totalmente remotos têm, em média, 11% menos chances de promoção e 9% menos probabilidade de receber aumento salarial em relação aos colegas presenciais. Para os trabalhadores híbridos, essa diferença é um pouco menor, mas ainda presente. Os dados também revelam que os homens são mais penalizados nas avaliações de desempenho e progressão quando atuam remotamente em tempo integral.
Apesar desses desafios, o modelo híbrido ganha força em todo o mundo. No Reino Unido, por exemplo, trabalhadores permanecem em casa, em média, 1,8 dia por semana. A média global é de 1,3 dia. Em países da América Latina, o formato já é realidade consolidada: 72% das empresas da região já adotaram práticas híbridas, e no Brasil esse número é ainda maior, alcançando 86%. O arranjo mais comum combina dois dias presenciais com três dias remotos.
Crescimento do home office impulsiona novas rotinas e muda dinâmica dos escritórios
Produtividade, retenção e bem-estar
Estudos internacionais indicam que a produtividade também se beneficia do modelo híbrido. Cerca de 82% dos trabalhadores entrevistados em uma pesquisa global afirmaram se sentir mais motivados e satisfeitos ao poder trabalhar de qualquer lugar. A maioria também relatou aumento na produtividade e melhoria na qualidade do trabalho entregue.
No Brasil, mais de 70% dos trabalhadores declararam ter se tornado mais produtivos no modelo híbrido, além de relatarem uma economia média anual significativa com transporte e alimentação. Entre os principais motivos para a satisfação estão a eliminação do tempo de deslocamento, maior foco e menor exposição a ambientes estressantes.
Além disso, o impacto positivo sobre a saúde mental e o bem-estar é um fator recorrente. Cerca de 75% dos profissionais que adotam o modelo híbrido relataram sentir menos estresse e fadiga. A redução no tempo de deslocamento diário é apontada como um dos principais ganhos: mais tempo para atividades pessoais e descanso.
As empresas também percebem os efeitos. Políticas de trabalho flexível têm contribuído para a retenção de talentos, especialmente entre mulheres e jovens profissionais. Uma pesquisa recente mostrou que 67% das mulheres afirmam que o modelo híbrido contribuiu diretamente para sua progressão na carreira. Quase metade das entrevistadas chegou a ser promovida após a adoção do regime flexível.
Desafios ainda presentes
Embora o modelo híbrido seja bem aceito por grande parte dos trabalhadores e empregadores, ele não está livre de desafios. A falta de estrutura adequada nos escritórios, a dificuldade de gestão à distância e a chamada “síndrome da proximidade” — em que funcionários presenciais ganham mais visibilidade — são obstáculos recorrentes.
Outro ponto de atenção é a percepção divergente entre lideranças e equipes. Enquanto a maioria dos gestores acredita que as políticas híbridas estão bem implementadas e atendem às necessidades dos colaboradores, muitos profissionais não compartilham da mesma visão. Questões como falta de equipamentos adequados, dificuldade de comunicação e sensação de isolamento ainda fazem parte da rotina de quem trabalha parcialmente de casa.
Ainda assim, especialistas em gestão e comportamento organizacional apontam que os benefícios superam os obstáculos. O segredo está em encontrar um modelo flexível, que respeite as necessidades individuais e promova ambientes — físicos e virtuais — preparados para colaboração, inovação e reconhecimento.
Tendência irreversível?
Para muitos estudiosos, o trabalho híbrido e remoto deixou de ser uma tendência emergente e passou a integrar definitivamente as políticas de gestão de pessoas nas organizações. Mais do que um benefício, tornou-se um diferencial competitivo para empresas que desejam atrair e reter os melhores talentos.
Embora o formato exato ainda esteja em evolução e varie de acordo com o setor, o consenso entre especialistas é que o futuro do trabalho será marcado pela autonomia, pela confiança nas equipes e pela flexibilidade para que cada profissional possa entregar seu melhor — seja no escritório, em casa ou de onde preferir.
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