O estilo de vida vegano, antes restrito a nichos específicos, vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. A exclusão de produtos de origem animal da alimentação e do consumo em geral passou a fazer parte da rotina de milhões de brasileiros. O movimento, além de ético, é impulsionado por fatores ambientais e de saúde. Como reflexo, o mercado de produtos veganos tem registrado crescimento constante e expansão para novos setores da economia.
Segundo levantamento do IPEC, 46% dos brasileiros com mais de 35 anos deixaram de consumir carne por vontade própria ao menos uma vez por semana. O dado revela uma adesão parcial ou total a dietas com menor presença de alimentos de origem animal. Outra estatística do mesmo instituto aponta que 32% da população já opta por pratos veganos em restaurantes.
Esse comportamento influencia diretamente o setor produtivo. Dados do Ministério da Economia mostram que, nos últimos dez anos, houve um aumento de 500% no número de empresas com o termo “vegano” no nome. A tendência de crescimento também aparece no número de produtos certificados pelo selo vegano da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB): já são mais de 3.900 itens reconhecidos, entre alimentos, cosméticos, calçados, produtos de limpeza e suplementos.
Ética, saúde e meio ambiente como pilares do consumo vegano
A ascensão do veganismo tem base em três pilares principais: ética animal, saúde e sustentabilidade. Alimentos à base de plantas, como as carnes vegetais produzidas a partir de grão-de-bico, soja e ervilha, vêm ganhando aceitação. A pesquisa “Olhar 360° sobre o Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-Based 2023/2024”, realizada pelo GFI Brasil, mostra que 52% dos entrevistados consideram positiva a ideia de consumir proteínas vegetais.
Segundo projeção da Universidade Candido Mendes, o setor global de proteínas vegetais pode movimentar entre US$ 100 bilhões e US$ 370 bilhões até 2035. No Brasil, o uso de leguminosas como fonte proteica tem crescido não apenas por questões de saúde, mas também pelo custo mais acessível em comparação às proteínas de origem animal.
Alimentos à base de plantas são cada vez mais comuns em feiras. Foto: Divulgação
Cosméticos, limpeza e o avanço em outros setores
Além da alimentação, o veganismo também altera escolhas em cosméticos, roupas e produtos de higiene. Marcas que não realizam testes em animais e evitam ingredientes de origem animal vêm ganhando a preferência de consumidores preocupados com o impacto ambiental. O mercado pet também passou a incorporar esse tipo de demanda. Uma pesquisa da Euromonitor International revelou que o consumo de produtos naturais e veganos para animais de estimação cresceu 18% nos últimos três anos no Brasil.
Gilberto Novaes, CEO de uma empresa especializada em produtos veganos para animais, aponta que a preocupação dos tutores vai além do consumo: “Eles buscam produtos com benefícios reais para a saúde dos pets, mas que também sejam sustentáveis”, afirma. Entre os itens oferecidos pela empresa, destacam-se xampus, hidratantes e brinquedos veganos, feitos com insumos naturais da Floresta Amazônica.
Farmácias e feiras entram no radar da tendência
A tendência também chegou às farmácias. Algumas empresas produzem medicamentos, dermocosméticos e suplementos livres de insumos animais. De acordo Carina Zampini, empresária, muitos consumidores não são veganos, mas optam por esses produtos por apresentarem menos reações adversas, além de serem ambientalmente responsáveis.
Apoio da nutrição e potencial econômico futuro
Oveganismo também vem sendo reforçado por campanhas como a “Segunda sem Carne”, que propõe a exclusão de alimentos de origem animal ao menos uma vez por semana. A iniciativa, lançada em 2009, promove economia de água e grãos, além de redução de emissões de gases do efeito estufa.
A pesquisa “Plant-Based em Foco 2025”, feita pela Saudabe em parceria com a SVB, revelou que 89% dos nutricionistas apoiam a redução ou exclusão de alimentos de origem animal, especialmente entre pacientes com doenças crônicas. A recomendação, segundo os especialistas, deve ser feita com base científica e acompanhada de suplementação adequada, como vitaminas B12 e D3.
Estudos da Allied Market Research indicam que o mercado vegano mundial, avaliado em US$ 19,7 bilhões em 2020, deve atingir US$ 36,3 bilhões até 2030. No Brasil, ainda faltam dados consolidados, mas a expansão de empresas e o interesse crescente da população apontam para um cenário de oportunidades.
O veganismo, portanto, não é mais apenas uma tendência alimentar. Trata-se de um movimento social e econômico que influencia cadeias produtivas inteiras, exige inovação industrial e redefine padrões de consumo. E, ao que tudo indica, esse mercado está longe de atingir seu teto.