O tenente-coronel do Exército, Mauro Cid, pode ter mentido ao Supremo Tribunal Federal (STF) em seu depoimento. De acordo com as mensagens vazadas, a versão apresentada pode ter sido ‘sugerida’. “Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca. E eu pedia para trocar”, aponta Cid. “Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe. E eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito. Eu contei uma história”, explica. As novas revelações podem colocar em ‘xeque’ o acordo de delação premiada e amenizar a ação penal por tentativa de golpe de Estado.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma em suas redes sociais que as mensagens de Mauro Cid divulgadas escancaram o que sempre “dissemos”. “A ‘trama golpista’ é uma farsa fabricada em cima de mentiras. Um enredo montado para perseguir adversários políticos e calar quem ousa se opor à esquerda”, argumenta. Nas mensagens vazadas, ao ser questionado se chegou a ser ameaçado, Mauro Cid diz que eles queriam fazer rápido para o ajudarem a “sair rápidos, eu e os outros”.
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“O mais foda é sentir que eu estou ferrando todo mundo. Fruto de uma perseguição que eu não tive maldade que iria acontecer. E eu fui bem claro lá… Pr [presidente, em referência ao Bolsonaro] não iria dar golpe nenhum. Ele estava mal. Ele queria encontrar uma fraude nas urnas”, alega o tenente-coronel.
Em um certo momento, se pergunta se aquele papo de que o Alexandre de Moraes manda tudo meio que pronto, Mauro Cid afirma que “ele já tem o objetivo dele”, “ele já deve ter pronto a ordem de prisão do Pr [Bolsonaro]”. “Não precisa de prova!!! Só de narrativas!!! E quando falam de provas… Metem os pés pelas mãos como foi com o FM [Flávio Bolsonaro]… Que viajou aos EUA”, afirma.
Ao ser perguntado qual seria o motivo que o prenderia. “Porque eu estava recebendo dinheiro para custear as milícias digitais”, diz. Resposta que a pessoa que o questionou fala: “Cada uma”. Em outro momento, ao ser apontado como um jogo sujo que estavam fazendo, Cid afirma: “Os advogados podem fazer a melhor das petições. Ele nem vai ler. Ele já tem nossa sentença pronta. Podem rebater todas as provas. Eu, Pr, Heleno, BN vamos pegar o máximo. Depois vão escalonando para baixo”.
“As conversas dos CMT F viraram conversas golpistas. E eu falei que eram conversas sobre o que estava acontecendo no País. Que o FG estava preocupado. E eu falava que o Pr não iria fazer nada”, conclui Mauro Cid.
Ex-presidente da República
Jair Bolsonaro fala em suas redes sociais, usando algumas aspas, que: “Segundo o próprio delator [Mauro Cid], ‘Bolsonaro não ia fazer nada’, mas isso pouco importava, porque ‘não precisa de prova, só de narrativa’, ‘o roteiro já estava pronto’, ‘a sentença já está escrita’… e ‘se não entregar a cabeça de alguém’ ou ‘não falar o que querem, o Ministro não te solta’”.
“Isso não é justiça. É perseguição. É uma caça às bruxas contra mim e contra os milhões de brasileiros que eu represento. Um processo movido por vingança, não por verdade. Essa delação deve ser anulada. Braga Netto e os demais devem ser libertados imediatamente. E esse processo político disfarçado de ação penal precisa ser interrompido antes que cause danos irreversíveis ao Estado de Direito em nosso País”, afirma.
“Apelo à consciência dos brasileiros, das instituições, dos parlamentares e da imprensa séria: reflitam sobre o preço dessa escalada autoritária. Chega dessa farsa. Não se constrói um país sobre mentiras, vingança e arbítrio”, finaliza a publicação.
Líder da oposição
O líder da oposição na Câmara dos Deputados, Luciano Zucco (PL-RS), entrou com pedido no STF para anular o acordo de delação premiada de Mauro Cid, com alguns questionamentos relacionados às mensagens vazadas: “A voluntariedade do acordo, a efetividade das informações prestadas, a veracidade das declarações e a boa-fé do colaborador”.
Continua Zucco: “Além disso, cláusulas expressas nos acordos homologados por esta Corte impõem ao colaborador o dever de sigilo absoluto sobre o conteúdo da colaboração e a proibição de manter contato com outros investigados ou de se manifestar, direta ou indiretamente, sobre o processo em curso, sob pena de rescisão do acordo e perda dos benefícios concedidos”. (Especial para O Hoje)
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