Nilson Gomes Carneiro
A cena foi vista por um colaborador de O Hoje. Há cerca de um mês, diante de 241 colegas prefeitos, o de Goiânia, Sandro Mabel, deu um piti fenomenal. O assunto era “sua garganta larga, que nunca se satisfaz”, como foi dito por um participante. Alguém de bom senso se levantou, sem gritar, para fazer o contraponto ao gestor da Capital. Foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que ficou de porta-voz dos demais municípios. Esse ânimo de Mabel para a briga raramente encontra rebatedor, pois as vítimas costumam ser usuários dos equipamentos públicos deteriorados ou servidores públicos simples.
O prefeito herdou da família uma fábrica de biscoitos, a Mabel, que vendia maciçamente para Secretarias de Educação, nos tempos em que não fiscalizava a qualidade da merenda escolar. Sua experiência como administrador se resumia à empresa do clã, até que Caiado o tirou da aposentadoria e o candidatou em 2024 ao comando de Goiânia. A rigor, Mabel tinha apenas o voto do governador, único também a apoiá-lo. Caiado articulou partidos e lideranças, deixando-o na cara do gol: bastava empurrar para as redes. No caso, as redes sociais, sobretudo o TikTok, onde o prefeito fica mais tempo que averiguando as ruas.
O interior gasta na Capital
Na live em que destratou os demais prefeitos, querendo dar despesa a municípios que só dão lucro à Capital, Mabel ouviu do governador o nome que deveria ser o norte dos administradores públicos: Iris Rezende. Como também já dirigiu o Estado, Iris era consciente das relações entre as cidades. Quem mora em Goianira, Porangatu, Catalão, Rio Verde, Caiapônia, Santa Terezinha ou qualquer outra aglomeração urbana pequena ou grande, vem a Goiânia consumir. Gasta com saúde. Gasta com vestimenta. Gasta com alimento. Gasta com veículo. E quem colhe os impostos sobre os serviços é a Prefeitura de Goiânia. Quando o goianiense vai fazer um churrasco para a família no interior, leva a carne, as bebidas e até o carvão. Por aqui sempre foi assim. No mundo inteiro é assim. A realidade de Mabel não alcança esse patamar porque seu nível é outro, distante da média da população.
Durante a reunião dos 242 prefeitos com o governador, relembrou-se que Caiado bateu de porta em porta recomendando Mabel aos eleitores. Nessa época, não existia homem mais humilde que o empresário, completamente o oposto do sujeito que tentava peitar quem o ressuscitou. Outras fontes garantem que sua rotina é tratar vereadores, deputados e secretários como se fossem seus vassalos da indústria de comida. Na volta às sessões da Câmara Municipal, em agosto, essa postura será colocada à prova. A maior parte dos vereadores conviveu com Iris e sabe o que é uma figura de alto relevo. Será inútil bater boca com um personagem menor que apenas por falta de opção está à frente de um cargo maior, com 1 milhão e 500 mil vítimas em potencial. Nesse caso, o jeito é esperar a chegada do substituto que vai assumir em 1º de janeiro de 2029, já que a Pepsi não poderá adquirir a cidade como fez com a fábrica de merenda.
Camelôs são empreendedores como os Scodro
O entorno de shoppings, galerias e lojas na Região da 44, no Setor Ferroviário, em Goiânia, estava tomado de vendedores ambulantes. Os empresários estabelecidos, que pagam impostos e aluguel, estavam descontentes. Com razão. Acertadamente, o prefeito Sandro Scodro Mabel mobilizou a fiscalização para tirar as banquinhas. Ótimo. Falta ouvir o outro lado, o dos pais de família que agora estão dentro de casa sem tirar o sustento.
Mabel é bilionário, mas sua vocação empreendedora não é maior que a dos camelôs que ele tirou do serviço como se limpasse um beco. Precisa se inspirar nos antecessores ao negociar com o governador Ronaldo Caiado, cabe a Mabel pesquisar como Nion Albernaz, Darci Accorsi e o próprio Iris Rezende resolveram a questão do comércio informal.
Os três assumiram com a Avenida Goiás lotada de barraquinhas, impedindo a circulação de pedestres. Portanto, era ruim até para a clientela. Nion deu-lhes o Mercado Central. Iris os levou para a Avenida Paranaíba. Darci ampliou o espaço da Feira Hippie, mudando-a para a vizinhança da Estação Rodoviária. Mabel precisa desse tirocínio para evitar a tirania.
O camelô não teve de quem herdar. Vive do suor de seu rosto. Ah, mas o vendedor ambulante migrou para Goiânia. Sim, assim como a família Mabel, que também veio para a Capital de Goiás melhorar de vida. E todos merecem oportunidade.
Revitalizar a Comurg é vital para Goiânia
A Companhia de Urbanização de Goiânia virou saco de pancadas. É injusto. Goiânia precisa de seu modelo de contratar, de prestar de serviços. Sem precisar de licitação a cada reforma de praça, o prefeito vai deixar as famílias sem ter onde ir. Cada processo de escolha de empreiteira dura meses, até ano, às vezes mais. Com Iris, Nion e Darci, a Comurg manteve a média de uma praça por dia. Iris superou os cem parques. Darci fez o Vaca Brava e o Areião. Nion transformou a Capital num imenso jardim. Sem a empresa pública, é impossível construir, reformar e manter tantos logradouros à altura do que os moradores estão acostumados.
Mabel agiu bem ao colocar pessoas idôneas em todas as diretorias da Comurg, a começar da Presidência. Tirou os aposentados, mas nem todos mereciam sair como se fossem bandidos. A grande maioria passou ali a juventude, todas as idades produtivas. Para que sua palavra não fique em vão, cabe ao prefeito distinguir quem deu prejuízo à companhia. Se houve roubo, há ladrões, quais os nomes dos malfeitores? Após identificá-los, e caso não o faça será mais um boquirroto a expelir inverdades, é vital ir atrás do dinheiro que desviaram.
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