Lavar roupas fora de casa deixou de ser uma prática restrita a executivos ou famílias de alta renda. O avanço das lavanderias de autosserviço – espaços onde o próprio consumidor realiza as etapas de lavagem e secagem de suas roupas – tem transformado esse setor no Brasil. Com máquinas industriais, pagamento automatizado e estrutura enxuta, o modelo tem atraído novos empreendedores e, principalmente, um público que busca agilidade, economia e conveniência.
De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Lavanderia (Anel), o Brasil já ultrapassa a marca de 27 mil lavanderias, sendo que mais de 3 mil operam no formato de autosserviço. O modelo, consolidado em países da Europa e nos Estados Unidos, encontrou terreno fértil por aqui, sobretudo nas grandes cidades, onde predominam apartamentos menores e residências com um único morador.
Menos espaço, mais serviço
Segundo especialistas, o avanço urbano, o custo elevado dos eletrodomésticos e o encolhimento das áreas de serviço nos imóveis são fatores determinantes para esse crescimento. Além disso, a redução na contratação de empregadas domésticas e o desaparecimento da figura tradicional da lavadeira contribuíram para consolidar o hábito de lavar roupas fora de casa.
Para o consultor em varejo e serviços José Duarte, a tendência se explica por mudanças no perfil da população e no modo de vida. “As pessoas estão com menos tempo e mais necessidades de serviços. Antigamente, a lavanderia era usada para roupas sociais, edredons ou vestidos de festa. Hoje, o consumidor está levando o jeans e a camiseta do dia a dia, principalmente quem mora sozinho”, aponta.
Economia no bolso e no meio ambiente
O custo-benefício também tem sido decisivo. Em média, é possível lavar e secar até 10 kg de roupas por cerca de R$ 15, já com sabão e amaciante inclusos. Como os estabelecimentos funcionam sem funcionários e com operação automatizada, o horário é mais amplo: em geral, das 7h às 22h, inclusive aos domingos. “É um modelo que proporciona enorme flexibilidade, o que se torna um atrativo, principalmente para quem trabalha em horários não convencionais”, avalia Duarte.
O impacto ambiental é outro ponto de destaque. Estimativas do setor apontam que uma família de quatro pessoas pode economizar até 3.240 litros de água ao mês ao substituir a lavagem doméstica por serviços profissionais. Além disso, equipamentos industriais modernos consomem menos energia e utilizam produtos químicos com dosagem automatizada, reduzindo o desperdício.
De 2019 a 2024, o setor de lavanderias cresceu 44% no Brasil, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O segmento de Limpeza e Conservação, no qual essas franquias se inserem, avançou 11,6% apenas em 2024. A tendência acompanha o comportamento de consumo de um público mais jovem, urbano e atento à praticidade.
Máquinas industriais e aplicativos transformam rotina de moradores
Condomínios e tecnologia puxam nova onda
Nos condomínios, o modelo compartilhado também tem avançado. A implementação de lavanderias coletivas em prédios residenciais e hotéis representa uma nova frente de expansão. Nesses ambientes, a estrutura permite que os moradores lavem e sequem suas roupas em até 75 minutos, com economia de até 65% no consumo de água e energia em comparação às máquinas domésticas.
Com o avanço da tecnologia, muitos desses espaços já funcionam com aplicativos de smartphone, que permitem reservar máquinas, realizar pagamentos e monitorar o processo em tempo real. Isso reduz custos com mão de obra, aumenta o controle do negócio e melhora a experiência do usuário.
O investimento inicial médio para abrir uma lavanderia de aproximadamente 50 m² é estimado em R$ 200 mil, mas há modelos mais enxutos que partem de R$ 100 mil. O retorno financeiro atrai quem busca um negócio de operação simplificada e potencial de crescimento. Segundo Duarte, um dos principais atrativos é a ausência de funcionários. “O investidor não precisa lidar com folha de pagamento, treinamento, férias ou turnos. Isso reduz os riscos e simplifica a gestão”, explica.
Um setor em transformação
O modelo também é visto como oportunidade de diversificação por empreendedores que já atuaram em setores mais complexos, como alimentação ou comércio varejista tradicional. Em muitos casos, antigos donos de padarias ou lojas optaram pela migração ao modelo de lavanderia autônoma justamente pela menor complexidade operacional.
Apesar da expansão, especialistas alertam que o mercado passa por um processo de maturação. Com a popularização do modelo, surgiram empresas com pouca especialização, o que deve gerar uma seleção natural nos próximos anos. “Há uma demanda reprimida, mas o consumidor vai priorizar qualidade, praticidade e preço justo. Quem não atender esses critérios, tende a sair do jogo”, afirma Duarte.
Globalmente, o mercado de lavanderias self-service deve atingir US$ 73,9 bilhões até 2032, com crescimento médio de 9,2% ao ano, segundo projeções da consultoria SkyQuest. No Brasil, a digitalização e o aumento da verticalização nas cidades continuarão impulsionando o setor, que já se posiciona como uma solução prática para a rotina urbana e uma opção sólida de negócio para investidores atentos às transformações do consumo.
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