O ex-presidente Jair Bolsonaro em casa, que era uma medida drástica e desde a condenação passou a ser o sonho de lugar dos próximos anos, está impedido de exercer a liderança sobre a direita brasileira. Como o poder não deixa vácuo, apareceram diversos tentando substituí-lo, até agora sem sucesso — quem tem voto não tem vontade, quem tem vontade não tem liderança. E assim caminha a desumanidade de enfrentar uma esquerda unida e com todos os poderes a seu dispor. Apenas um detalhe separa Luiz Inácio Lula de seu 4º mandato no Palácio do Planalto, os números de seu 3º governo.
Com a direita em polvorosa nos próprios intestinos, a esquerda resolveu que a paz ficou em excesso e começou a brigar com seu integrante recente, o presidente do Banco Central, Gabriel Muricca Galípolo, um dos melhores técnicos do ramo. Aí mora o perigo, a única ameaça à permanência de Lula no poder a partir de 2027. Em tese, o mar está verde e o céu permanece azul para os vermelhos, OK, então vamos arrumar uma confusão logo no que pega, mata e come, a economia, que se piorar pega, mata e passa fome. Lula conversou 39 segundos, durante a Assembleia Geral da ONU, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o conquistou. Agora, foram 30 minutos e os dois já são amigos de infância. Imagine daqui a 30 dias…
Portanto, o Brasil virou um país das maravilhas, certo, Alice? O Congresso Nacional? Tudo dominado. O Poder Judiciário? É nosso. O Tribunal de Contas da União? Deixa conosco. A Procuradoria-Geral da República? Eu que nomeei e renomeei. A chamada grande imprensa? Meu quarto no poder. As universidades? 100% minhas. A classe artística? Dou show nela. Os banqueiros da Faria Lima, a avenida de São Paulo que concentra o setor financeiro? Tão no bolso. Os movimentos sociais? Meus. É, só a economia mesmo para conter a unanimidade.
Tudo róseo, mas o cheiro às vezes espanta. Observe-se um comunicado do Ministério da Economia no último dia de setembro: “O estoque da Dívida Pública Federal (DPF) encerrou agosto em R$ 8,145 trilhões, representando alta de R$ 205,97 bilhões em relação a julho (R$ 7,939 trilhões), ou seja, elevação de 1,59%, em termos nominais. Essa variação reflete emissão líquida de R$ 136,64 bilhões e apropriação positiva de juros de R$ 69,33 bilhões, explica o Tesouro Nacional.”
Portanto, é oficial: a dívida brasileira sobe mais de R$ 200 bilhões por mês. Quanto mais o governo paga, mais a dívida aumenta. O Orçamento da União, atualizado na segunda-feira (6), mostra que a despesa autorizada foi de R$ 5 trilhões e 750 bilhões e apenas R$ 4 trilhões e 260 bilhões foram pagos. A conta nunca fecha. Que fazer? Ir atrás do pagador de impostos. Enquanto ele tiver couro nas costas, é vital surrá-lo. Vamos para cima de quem ganha mais, quem produz mais, quem paga mais. Quem não ganha nada, não produz nada e paga exatamente nada merece ter tudo e ganhar tudo.
Lula está há 33 meses na 3ª experiência no Executivo e permanece na trilha que o reelegeu há 20 anos, a de fomentar o movimento do comércio a partir das contas públicas. É uma conta que fecha duplamente, pois o governo entrega a ação social ao mesmo tempo em que arrecada. Olha como é lindo: por exemplo, paga R$ 1.518 de Benefício de Prestação Continuada, o maravilhoso BPC/Loas de tantas vitórias nas urnas. A carga tributária para essa faixa de pública fica em torno de 40%. Quem recebe se livra do dinheiro com rapidez, a moeda circula e o governo embolsa R$ 600 dos 1.518.
Nada aí pode dar errado. Se atrasar os salários dos 13 milhões de servidores públicos, cujo pagamento sai 100% dos impostos, impacta 50 milhões de pessoas. Aposentados são o dobro, 26 milhões de brasileiros. Só aí já são 40 milhões de pessoas fora do setor produtivo. A essas se somam os detentores de programas sociais, como o Bolsa Família (20 milhões de famílias em julho), 16 milhões com o Gás do Povo. Em dinheiro dispensado a partir de agora, 90% dos contribuintes do Imposto de Renda acabam de ser isentos. E mais R$ 78 bilhões para a agricultura familiar. É um saco sem fundo de 8 milhões de km². A engrenagem funciona enquanto o comércio vender, o produtor rural plantar e criar, a indústria fabricar, a mineração expelir mais pedras que cálculos renais.
Enquanto se mantiver a máquina funcionando, mesmo à custa de a dívida pública se tornar impagável, a economia não será considerada problema. O que não pode é acabar com as moedas no cofrinho do trabalhador. A planta industrial, defasada há décadas, que se vire para produzir como está. O sistema viário pode continuar carente de ferrovias, rodovias, hidrovias, portos e aeroportos, desde que não atrasem os repasses dos programas sociais e dos fundos de participação dos Estados (FPE) e dos municípios (FPM).
A mágica de ninguém trabalhar e todo mundo ter dinheiro
Pirâmide que dá certo, tigrinho que premia todo apostador, o Brasil é um país tão maravilhoso que há 525 anos é cavucado e continua dando minério. A Previdência é roubada há dois séculos e pagando em moto-contínuo a aposentados e pensionistas. O descaminho e o contrabando são praticamente aceitos e as receitas sobem sem parar. São 13 milhões de jovens que não trabalham nem estudam e outros 13 milhões estudando para concursos públicos – ou seja, o futuro do País está nas mãos de quem abdicou de produzir para sustentar o futuro. E tudo dá certo.
O milagre se chama tributo. Abriu mão do Imposto de Renda de 90% da malha? Vamos aumentar para os demais 10%. O Tribunal de Contas da União informa que o déficit da previdência pública está em R$ 428 bilhões e 200 milhões. O rombo na previdência rural, composta por quem nunca contribui, chega a R$ 177 bilhões e 200 milhões. Qual foi a providência para esse descalabro com a previdência? Zerar a fila de 3 milhões de idosos que estão entre os 11 milhões que pediram para receber sem ter pago. E me inclua no Cadastro Único, que não quero participar de minoria.