O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, declarou na terça-feira (17) que não há evidências de que o Irã esteja conduzindo um esforço sistemático para fabricar uma bomba nuclear, “O que informamos foi que não tínhamos, coincidindo com algumas das fontes que você mencionou, de que não tínhamos nenhuma prova de um esforço sistemático [do Irã] para avançar para uma arma nuclear”, afirmou Grossi em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN.
Questionado sobre o tempo necessário para que o Irã desenvolvesse uma arma atômica, se seria uma questão de dias, semanas ou anos, Grossi respondeu: “Certamente, não era para amanhã. Talvez não fosse uma questão de anos. Eu talvez levasse isso mais a sério. E não acho que fosse uma questão de anos. Mas isso é especulação”.
Ainda assim, o chefe da AIEA ponderou sobre as limitações da atuação da agência em solo iraniano: “Se houvesse alguma atividade, que fosse clandestina ou oculta, ou longe dos nossos inspetores, não poderíamos saber”.
As declarações de Rafael Grossi provocaram reação imediata no governo iraniano. Esmaiel Baqaei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, acusou o diretor da AIEA de ter obscurecido a verdade em um relatório que classificou como absolutamente tendencioso. Segundo ele, o documento foi instrumentalizado para sustentar uma resolução baseada em alegações infundadas de não conformidade, que acabou servindo como um: “pretexto final, por um regime genocida e belicista para travar uma guerra de agressão contra o Irã e lançar um ataque ilegal às nossas instalações nucleares pacíficas”.
O diplomata iraniano ainda acusou Grossi de prejudicar o prestígio da AIEA: “Você sabe quantos iranianos inocentes foram mortos/mutilados como resultado desta guerra criminosa?”.
Relatórios recentes da AIEA indicam preocupação com o volume de urânio enriquecido pelo Irã, que ultrapassa 60% de pureza. Segundo a agência, “embora as atividades de enriquecimento salvaguardadas não sejam proibidas por si só, o fato de o Irã ser o único Estado sem armas nucleares no mundo que está produzindo e acumulando urânio enriquecido a 60% continua sendo uma questão de séria preocupação”.
Apesar das acusações de Israel e dos Estados Unidos, o Irã nega a intenção de desenvolver armamento nuclear e sustenta que seu programa tem fins pacíficos. O país estava na sexta rodada de negociações com os EUA em Omã quando foi alvo de ataques israelenses.
Nos Estados Unidos, a situação também gera controvérsia. Em março, a Diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, afirmou ao Senado que o Irã não estava construindo armas nucleares. Essa posição, porém, foi rebatida pelo presidente Donald Trump, que fez uma declaração alinhando-se à visão do governo israelense, afirmando não se importar pelo que foi dito pela diretora.
O Departamento de Estado norte-americano reforçou a ideia de que o Irã não pode ter armas nucleares. Em maio, o secretário Marco Rúbio afirmou para à emissora Fox News, que com o enriquecimento atual, o país persa “é, em essência, um Estado com armas nucleares no limiar” e completou com: “Se decidissem fazê-lo, poderiam fazê-lo muito rapidamente”.
Enquanto os EUA e aliados ocidentais apoiam os ataques israelenses ao Irã alegando riscos de armas nucleares, Israel é o único país do Oriente Médio que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
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