Segundo levantamento do Ministério da Saúde, a quantidade de infartos em pessoas com menos de 40 anos aumentou 180% nas últimas duas décadas. O número de internações na rede pública por conta da condição passou de menos de 2 casos para cada 100 mil habitantes nos anos 2000 para quase 5 por 100 mil em 2024.
Dados recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) apontam que as doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, são responsáveis por 30% de todas as mortes no Brasil, o que equivale a cerca de 400 mil óbitos por ano. Essas doenças matam 2,3 vezes mais do que todas as causas externas somadas (acidentes e violência).
O cardiologista intervencionista Thiago Marinho, alerta para o crescimento dos casos de infarto em pessoas com menos de 40 anos. Segundo ele, aproximadamente 6% dos episódios acontecem nessa faixa etária, e os principais fatores de risco incluem histórico familiar de infarto precoce, colesterol alto – especialmente em casos de hipercolesterolemia familiar, diabetes, tabagismo e sobrepeso.
“Estamos vivendo uma epidemia de infartos em usuários de anabolizantes. Hoje, praticamente toda semana realizo cateterismo em um paciente jovem que fez uso dessas substâncias”, relata Marinho.
A cardiologista Mariana Bello complementa: “Temos duas grandes causas: a genética e o infarto mediado por substâncias ilícitas, principalmente anabolizantes e cocaína. Essas substâncias alteram o endotélio, revestimento interno dos vasos, favorecendo a formação de trombos e, consequentemente, o infarto.” Ela lembra que a Covid-19 também é um fator de risco, pois pode causar lesão vascular independentemente da presença de outros problemas.
No mês de fevereiro o cantor gospel Pedro Henrique, 30, morreu durante uma apresentação na Bahia após sofrer mal súbito. Ele pode ter sido mais um dos jovens vitimados por doenças cardiovasculares no Brasil, problema que cresce.
De acordo com o especialista, os infartos em jovens tendem a ocorrer de forma mais súbita. “Mais da metade nunca apresentou dor no peito antes do episódio. Isso dificulta a percepção do risco e retarda a procura por atendimento”, explica Thiago.
Sedentarismo, alimentação ultraprocessada e estresse são apontados como alguns dos principais gatilhos para infartos precoces. “É fundamental praticar atividade física regularmente, manter uma alimentação saudável, evitar produtos industrializados, cuidar do sono e controlar o estresse. Cerca de 90% dos casos estão ligados a causas que poderiam ser prevenidas”, afirma.
O especialista destaca um diferencial importante entre infartos em jovens e em pacientes mais velhos: a relação com cigarro eletrônico, anabolizantes e drogas ilícitas, especialmente cocaína. “Em muitos casos, esse é o único fator de risco presente”, observa.
Condições como diabetes e colesterol alto estão surgindo cada vez mais cedo, e o médico relaciona o fenômeno ao estilo de vida inadequado. “A prevenção é a nossa principal arma contra a doença arterial coronariana, e isso precisa começar já na juventude”, reforça.
Para Marinho, é crucial que os jovens reconheçam que também podem sofrer um infarto. “Dor no peito é motivo para procurar imediatamente um pronto-socorro. Consultas regulares com cardiologista ajudam a detectar e controlar fatores de risco antes que eles se tornem graves”, orienta.
O diagnóstico de infarto em jovens, ainda é feito tardiamente em alguns casos. “Muitos não acreditam que estão tendo um infarto e demoram a buscar ajuda. Por isso, também é fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos e preparados, com protocolos bem estabelecidos e acesso a unidades de hemodinâmica”, conclui Thiago.
Hipertensão afeta 27,9% dos brasileiros e cresce com a idade
A hipertensão arterial atinge cerca de 27,9% da população brasileira, de acordo com dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023. O levantamento mostra que a prevalência do diagnóstico médico é maior entre mulheres (29,3%) do que entre homens (26,4%) nas 27 capitais brasileiras. Em ambos os sexos, a frequência aumenta com a idade e diminui conforme o nível de escolaridade.
Com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, o dia 26 de abril foi instituído como Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, por meio da Lei nº 10.439/2002.
A hipertensão arterial é uma condição crônica multifatorial, geralmente assintomática, caracterizada pela elevação sustentada dos níveis de pressão arterial (≥ 140 mmHg e/ou ≥ 90 mmHg). É considerada um dos fatores de risco metabólicos que mais contribuem para todas as causas de morte e para a morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV).
Por ser um “mal silencioso”, pode ou não apresentar sinais de alerta. Quando presentes, os sintomas mais comuns incluem tontura, falta de ar, palpitações, dor de cabeça frequente e alterações na visão.
A hipertensão arterial não tem cura, mas pode ser prevenida. O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Prevenção e Promoção à Saúde (Deppros), reforça que a adoção de um estilo de vida saudável é essencial para reduzir o risco de doenças crônicas, como a pressão alta.
Entre as recomendações estão evitar alimentos ultraprocessados, priorizar o consumo de frutas, verduras, legumes, carnes e cereais integrais, além de utilizar temperos naturais para reduzir o sal nas preparações. Essas medidas ajudam a manter uma alimentação equilibrada e adequada.
O Ministério também desenvolve uma série de ações estratégicas por meio da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (Pnan), que inclui a promoção de hábitos alimentares saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional e o cuidado integral dos problemas relacionados à alimentação e nutrição.
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