A taxação anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros a partir de agosto caiu como uma luva para o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ofensiva americana, justificada pelos problemas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a Justiça brasileira, foi incorporada à retórica nacionalista do petista em defesa da soberania nacional.
Nas últimas semanas, Lula percorreu alguns Estados brasileiros. O presidente tem reiterado as críticas à taxação de Trump e ao clã Bolsonaro, sobretudo em palanques amigáveis à base petista. A vinda para Goiás, reduto eleitoral da direita, aconteceu em razão do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) — tomado pela militância estudantil à esquerda.
Na Bahia e no Espírito Santo, Lula foi recebido por aliados: os governadores Jerônimo Rodrigues (PT) e Renato Casagrande (PSB). Até em sua viagem internacional para o Chile, o petista estava acompanhado dos presidentes Gabriel Boric (Chile), Yamandú Orsi (Uruguai), Gustavo Petro (Colômbia) e o primeiro-ministro Pedro Sanchez (Espanha), líderes à esquerda.
Lula tem denunciado as medidas de Trump e reafirmado a importância de o Brasil manter sua autonomia frente às potências estrangeiras. A narrativa é uma tentativa de fortalecer sua imagem enquanto líder que defende os interesses nacionais. Em suas aparições públicas, o presidente tem destacado que a resposta não será de submissão, mas de negociação firme, ao evocar um tom combativo que agrada sua base. Paralelamente, o Palácio do Planalto, na figura do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), articula canais diplomáticos para buscar uma solução que evite prejuízos comerciais.
Ao tentar transformar o embate com Trump em um símbolo de resistência e reafirmação da soberania do País, o presidente deixou claro o discurso de campanha permanente. A estratégia é clara: transformar a crise diplomática, instigada pela oposição, em munição para a narrativa da disputa política interna.
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Momento oportuno
O tarifaço veio em um momento oportuno para o governo Lula, que há tempos enfrentava uma crise de popularidade. Vale ressaltar que a cúpula do Planalto já lidava com o problema, sobretudo de olho no cenário para 2026. No início do ano, houve a mudança no comando da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) — saiu Paulo Pimenta e entrou Sidônio Palmeira — para tentar solucionar a crise de imagem vivida.
O Executivo patinava para emplacar um discurso com repercussão positiva. O tarifaço, que afeta praticamente todo o setor produtivo do País, atrelado aos rivais políticos do presidente, foi um presente para a imagem do petista — que tenta ao máximo se aproveitar do momento.
Ainda não se sabe qual será os rumos das tarifas impostas por Trump, já que isso dependerá de negociações entre os países. Porém, certamente a movimentação do grupo político de Bolsonaro, em especial nas articulações do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para que as tarifas acontecessem, irão ressoar nos discursos de 2026, principalmente no de Lula. (Especial para O Hoje)
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