Bruno Goulart
O governador Ronaldo Caiado (UB) chega ao auge do seu segundo mandato aos 75 anos, carregando a imagem de líder experiente, figura de equilíbrio político no estado e olhando para o horizonte – a presidência do Brasil. Ao mesmo tempo, o ex-governador e presidente do PSDB, Marconi Perillo, que comandou Goiás por duas décadas sob o rótulo do “Tempo Novo”, tenta reocupar espaço, mas ainda enfrenta o desgaste acumulado dos seus ciclos prolongados de poder e escândalos. Entre essas lideranças históricas que pouco a pouco vão saindo de cena ou perdendo protagonismo, desponta uma geração de prefeitos e gestores mais jovens, que assumem cidades goianas importantes e prometem imprimir uma nova dinâmica administrativa. Mas afinal: Goiás vive um processo real de renovação política ou apenas uma alternância de nomes sobre velhos alicerces?
Para o especialista em marketing político e mestrando em Comunicação, Felipe Fulquim, é importante distinguir o desejo de mudança genuíno da mera substituição de personagens. “Eu acompanho a política mais de perto desde 2008 e enxergo a política local aqui de duas formas”, explica. “Existe o respeito a uma determinada fila e existem momentos em que o eleitor e a classe política são movidos pelo desejo de mudança, o que a gente chama no marketing político de saturação.”
Segundo Fulquim, ciclos como o de Marconi mostram como a exaustão pode motivar alternância, mas ressalta que cargos majoritários têm menor taxa de renovação. “A política não chega a ser uma profissão, mas quem leva a sério trata de maneira muito profissional: estrutura equipes, investe em comunicação, constrói alianças. Isso dificulta trocas rápidas.”
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Nesse contexto, ele observa que mesmo com prefeitos jovens em cidades relevantes, a tendência é que o grupo de poder que governa o estado consiga manter influência decisiva na sucessão. “A não ser que a direita consiga juntar força suficiente para poder virar o jogo e tomar o governo do Caiado, a direita mais radical, obviamente.” Ele lembra que, proporcionalmente, a eleição legislativa é mais dinâmica, mas nas disputas majoritárias o espaço para renovação efetiva é menor.
Prefeitos do sudoeste goiano
Por outro lado, nas administrações municipais começam a surgir sinais de um novo perfil de liderança. Em Rio Verde, por exemplo, o ex-prefeito Paulo do Vale, uma das figuras mais influentes do Sudoeste goiano, conseguiu eleger seu sucessor, o atual prefeito Wellington Carrijo (MDB). Ao O HOJE, Carrijo defendeu que Goiás vive, de fato, um processo de renovação. “A saída de grandes nomes como Iris, Maguito e o desgaste de ciclos longos mostram que a população está buscando não apenas novos nomes, mas também novas práticas”, afirma. Para ele, Ronaldo Caiado tem exercido um papel de equilíbrio neste momento de transição. “Prefeitos mais jovens, com visão técnica e espírito de gestão, têm ocupado espaço. A diferença está em como esses gestores têm dialogado mais, investido em inovação, transparência e políticas públicas com foco em resultados.”
Já em Jataí, ocorreu uma ruptura com o grupo de Humberto Machado, ligado ao MDB de Daniel Vilela, com a eleição do novo prefeito Geneilton Assis (PL). Para Assis, não basta trocar lideranças; é fundamental transformar métodos de administração. “A gente precisa dar uma cara nova à gestão, não só mudar nomes. Aqui, nós implantamos uma nova filosofia de trabalho, que chamo de gestão participativa, que não tem nada a ver com a velha política”, explicou ao O HOJE. Ele reforça que a alternância de poder é saudável. “Cada ser humano tem uma digital. A alternância é muito importante. Hoje estamos aqui porque temos o perfil que nossa cidade precisa no momento, mas amanhã outras demandas certamente vão surgir.”
Novos nomes
A ascensão de novos nomes confirma essa tendência parcial de renovação. Além de Carrijo e Geneilton, prefeitos como Márcio Corrêa (PL), em Anápolis; Diego Sorgatto (UB), em Luziânia; Dr. Marcus Vinícius (MDB), em Valparaíso; e José Délio (UB), em Hidrolândia, despontam com força política e capacidade de articulação. Entretanto, quase todos têm raízes em grupos tradicionais ou contam com o apoio de caciques históricos, o que relativiza a ideia de “novos tempos” na política goiana.
Outro ponto é que, mesmo em contextos de alternância de poder, a estrutura profissionalizada de campanhas e a lógica partidária tradicional permanecem vigentes. Felipe Fulquim lembra que ciclos longos costumam produzir sucessores bem preparados politicamente. “Foi assim com Marconi (que conseguiu fazer Alcides Rodrigues governador em 2006) e será assim com Caiado (com Daniel Vilela), que também vai experimentar essa situação. Se não houver desejo coletivo de mudança ou alterações na regra do jogo, a base governista vai seguir com grande força.”
Em síntese, Goiás atravessa, de fato, um período de transição, embora ainda esteja longe de uma renovação profunda que desfaça padrões consolidados ao longo das últimas décadas. Essa realidade, aliás, não se limita ao cenário goiano, mas reflete uma característica da política brasileira de maneira geral.
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