Goiás é um dos Estados brasileiros que tradicionalmente apresenta bons resultados em segurança pública e combate à criminalidade. No entanto, desta vez um resultado é preocupante: o Estado de Goiás tornou-se o líder nacional em número de laboratórios de cocaína, concentrando 125 das 550 unidades identificadas no País entre 2019 e julho de 2025.
Esta realidade não se limita à produção de drogas ilegais: está diretamente ligada ao crescimento do crime organizado, ao financiamento de atividades ilícitas, à violência urbana e rural, e à degradação ambiental em diversas regiões. A presença desses laboratórios evidencia um problema de segurança pública que afeta toda a população, desde os bairros urbanos até áreas rurais remotas.
O estudo “Floresta em Pó”, divulgado por organizações internacionais e nacionais, aponta que o refino da cocaína no Brasil movimenta bilhões de reais e serve para lavar dinheiro do crime, além de financiar atividades ilegais como garimpo, extração de madeira e grilagem de terras.
Estima-se que o refino tenha agregado mais de R$ 30 bilhões ao mercado da droga, parte de um faturamento projetado de US$ 65,7 bilhões para 2024. Este volume de dinheiro não apenas fortalece o tráfico, mas também cria condições para a expansão de outras atividades criminosas e o aumento da violência em comunidades vulneráveis.
Além do impacto financeiro, os laboratórios representam um risco ambiental significativo. Substâncias químicas utilizadas no refino contaminam rios, solo e lençóis freáticos, enquanto a ocupação ilegal de áreas de preservação para a instalação das unidades de processamento contribui para o desmatamento e degradação de ecossistemas.
Rotas estratégicas, tráfico internacional e facções criminosas
Os laboratórios brasileiros se dividem entre grandes centros de refino, destinados à produção em larga escala, e pequenos pontos de adulteração, voltados ao varejo. Goiás ocupa posição estratégica, conectando rotas do tráfico nacional a portos de exportação e grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais.
Parte da droga segue para exportação, principalmente para países europeus, incluindo Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda e Alemanha, e também para a África e o Caribe. A distribuição internacional fortalece facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), que utilizam os lucros da cocaína para expandir operações e consolidar influência sobre territórios e comunidades.
O Brasil funciona como ponte entre países produtores na América do Sul e os mercados consumidores globais. Portos como Santos, Paranaguá e Itajaí são estratégicos, tornando o País atraente para traficantes em busca de novas rotas.
Entre 2010 e 2019, as apreensões de cocaína nesses portos cresceram de 4,5 toneladas para 66 toneladas, mostrando o fortalecimento das operações e o impacto direto sobre o tráfico internacional.
O aumento da demanda mundial por cocaína, sobretudo na Europa, intensifica a pressão sobre as organizações criminosas brasileiras, tornando a cocaína não apenas um problema local, mas um fenômeno global de violência, saúde pública e criminalidade.
Malefícios da cocaína e impactos sociais
O consumo de cocaína acarreta uma série de malefícios graves para o corpo humano, afetando múltiplos sistemas e podendo causar danos permanentes e até a morte.
No sistema cardiovascular, a cocaína aumenta a pressão arterial e acelera os batimentos cardíacos, podendo provocar infartos, arritmias, aneurismas e insuficiência cardíaca, mesmo entre jovens e usuários ocasionais.
No sistema nervoso central, a droga provoca intensa liberação de dopamina e adrenalina, gerando prazer momentâneo, mas resultando em dependência química e psicológica de alto risco, danos cerebrais, perda de memória, impulsividade, confusão mental e transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e paranoia. O risco de acidente vascular cerebral (AVC) também é significativo, além de ideação suicida e comportamento autodestrutivo durante períodos de abstinência.
Outros impactos incluem prejuízos ao sistema respiratório, especialmente quando a droga é inalada ou fumada, causando danos permanentes às vias aéreas. O uso contínuo reduz o apetite, provocando desnutrição, perda de massa muscular e deficiências nutricionais. A overdose é outro risco grave, potencialmente fatal, resultado do aumento progressivo das doses para manter o efeito desejado.
No âmbito social, a dependência compromete relações familiares, amizades e oportunidades de trabalho, impactando diretamente a vida emocional e econômica do usuário.
Mesmo doses recreativas representam risco, pois não há como prever quem desenvolverá dependência ou sofrerá um evento agudo grave. O consumo interno alimenta o tráfico, sustenta facções criminosas, criando um ciclo que afeta toda a sociedade.
Consequências econômicas
Além do impacto direto sobre a saúde e a segurança, os lucros da cocaína financiam outras atividades criminosas, como garimpo ilegal, extração de madeira e pecuária irregular, agravando problemas ambientais e econômicos.
A violência decorrente da disputa por rotas e laboratórios intensifica o risco para comunidades locais, muitas vezes transformadas em cenários de guerra entre facções.
Estima-se que mais de 5.000 laboratórios estejam em operação no País, sendo que muitos não são detectados pelas autoridades. A maior parte da riqueza gerada concentra-se no atacado (60%) e no varejo (22%), enquanto o cultivo representa apenas 0,01% do faturamento.
Essa realidade mostra que o Brasil enfrenta uma epidemia complexa de criminalidade e saúde pública, que exige políticas integradas de prevenção, repressão e tratamento de dependentes químicos.
Especialistas defendem que apenas operações policiais não são suficientes. É necessário um esforço conjunto entre segurança pública, órgãos ambientais, instituições financeiras e políticas sociais que atuem na prevenção, educação, recuperação de dependentes e redução da violência.
Goiás, como epicentro dessa produção, evidencia que a cocaína é uma ameaça estrutural à sociedade brasileira, à saúde pública, à segurança e ao meio ambiente.
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