A prestação de contas do prefeito Sandro Mabel (União Brasil) entrou para a lista de episódios de tensão entre o chefe do Executivo municipal e os vereadores da Câmara Municipal. Logo na chegada ao parlamento, Mabel afirmou, em conversa com a imprensa, que chegar à Casa de Leis era como “chegar em casa”. “Fui do Legislativo por mais de 20 anos. É um dia alegre para mim”, disse o prefeito. O “dia alegre”, porém, não durou muito tempo.
No início da apresentação, Mabel pediu desculpas aos vereadores “que se sentiram ofendidos” por declarações públicas. A fala foi direcionada aos vereadores Cabo Senna (PRD) e Lucas Vergílio (MDB), a quem o prefeito se referiu como “malandrinhos” em entrevista recente ao jornal O Popular. A crítica veio em razão das emendas aprovadas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que alteram o limite de remanejamento orçamentário. Apesar dos sinais de que buscaria amenizar o clima, o prefeito acabou por acirrar ainda mais a tensão com o parlamento.
Após a apresentação do relatório, Mabel deixou a Câmara e não respondeu a qualquer questionamento dos vereadores. A atitude causou revolta dos parlamentares. Vergílio, de imediato, disparou contra o chefe do Executivo. “Qual é o compromisso do prefeito que é mais importante do que estar no parlamento na sua prestação de contas? O prefeito, que falou por mais de uma hora e meia, não devia sequer ter marcado outro compromisso. Qual é a agenda que o impossibilita de permanecer na Câmara de Vereadores?”, questionou o parlamentar.
A vereadora Aava Santiago (PSDB) afirmou estar “perplexa” e “incrédula” com a situação. “Aqui era o fórum de restabelecimento da relação com o Legislativo. Me preocupa muito esse padrão de comportamento. Quando os vereadores queriam apresentar emendas à data-base, o prefeito ameaçou retirar a data-base. Os vereadores apresentaram emenda na LDO, ele retirou a LDO. Quando ele se incomoda com os vereadores na prestação de contas, ele sai. É sempre uma postura de retaliar o Legislativo, seja retirando projetos ou se retirando pessoalmente daqui”, disse a tucana. Aava ainda exibiu no plenário da Casa a agenda oficial de Mabel, que não constava nenhum compromisso previsto para a quinta-feira.
Já o vereador Coronel Urzêda (PL) declarou que irá apresentar um projeto de lei para tornar obrigatória a presença do prefeito durante toda a prestação de contas. O parlamentar deve apresentar a matéria na próxima terça-feira (7). A expectativa de Urzêda é que a nova regra comece a valer já para a próxima prestação de contas.
“Não cabe a ele”
O presidente da Câmara Municipal, Romário Policarpo (PRD), afirmou que é essencial que o projeto contemple a parte técnica da prestação de contas. “[Se o projeto] Contemplar a parte técnica, não vejo problema em aprovar. Mas, em um primeiro momento, não consigo vislumbrar que a presença do prefeito aqui até o final da prestação de contas seja algo essencial, até porque boa parte técnica da prestação de contas não cabe a ele, cabe ao secretariado e aos seus auxiliares”, afirmou.
Além disso, Policarpo ressaltou que a saída de Mabel fugiu “um pouco da normalidade”. Sobre a relação entre os Poderes municipais, o presidente do Legislativo explicou que é preciso cooperação entre as partes para que a relação não caminhe “para um cenário um pouco pior do que está acontecendo hoje”. “A sociedade está pouco interessada em saber se um gosta ou não do outro. A sociedade está interessada em saber se o trabalho está sendo entregue”, pontuou o parlamentar.