A segunda vinda a Goiânia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante seu terceiro mandato foi marcada pelos discursos em defesa da soberania nacional, em prol do projeto de isenção do Imposto de Renda (IR), com reflexões à esquerda e críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ao clã Bolsonaro. Em solo goiano, o presidente participou do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na última quinta-feira (17), no Centro de Eventos da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O evento apresentou um teor de exaltação à soberania do País. Os gritos dos estudantes presentes alternavam entre críticas à escala 6×1, defesa da taxação dos super-ricos e os cantos de “sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor” e “sem anistia”. O vermelho, sempre presente em eventos que reúnem a militância à esquerda, dividiu espaço com o azul tradicional da UNE, camisetas da seleção brasileira e bandeiras em verde e amarelo — símbolos presentes majoritariamente em manifestações da direita.
Antes de ser apresentado e ovacionado pela militância estudantil presente no Centro de Eventos da UFG, o petista se reuniu com quatro estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), sobreviventes do acidente entre o ônibus que trazia a comitiva de universitários paraenses para o congresso e uma carreta, na BR-153, que deixou cinco mortos. A reunião foi um momento particular de Lula com os jovens, sem a presença da imprensa.
Ao subir ao palco, Lula estava acompanhado de boa parte dos ministros do primeiro escalão da Esplanada. Vieram para Goiânia junto ao presidente a primeira-dama Janja da Silva; o ministro da Educação, Camilo Santana; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha; a ministra da Cultura, Margareth Menezes; e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Além dos ministros, acompanharam a comitiva petista: Edinho Silva, presidente nacional do PT; o deputado federal Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara dos Deputados; e o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado Federal.
Antes de Lula, Márcio Macêdo, Camilo Santana, Luciana Costa e Margareth Menezes discursaram. O tom era o mesmo: defender a soberania nacional e o projeto de isenção do IR. Além disso, em um ato simbólico, o presidente sancionou o Projeto de Lei 3.118/2024, que altera a Lei nº 12.858/2013 para destinar recursos do Fundo Social — proveniente da exploração de petróleo e gás — para o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).
No início do discurso, o chefe do Executivo exaltou os feitos na educação brasileira de suas gestões. O petista não perdeu a oportunidade de pautar o enfrentamento às elites brasileiras. “Me parece que a elite brasileira achava que indígenas não precisavam estudar, que escravos não precisavam estudar e que os brancos pobres tinham que cortar cana também. Fui o presidente que mais fez universidade na história desse país”, disse.
Maioria no Congresso
O presidente também tratou da importância de expandir o número de cadeiras à esquerda na Câmara e no Senado e propôs uma reflexão para a militância, ao destacar a necessidade de eleger, em 2026, um Congresso progressista. “Vocês vão lembrar que a esquerda toda que está aqui não tem mais do que 140 deputados dos 513. Vocês tem que lembrar que nós temos 12 senadores de 81. Para a gente aprovar alguma coisa é preciso ter pelo menos metade. É preciso a gente transformar o nosso sonho, os nossos desejos, em ação. É preciso o PT se perguntar: por que o PT é capaz de eleger um presidente da República cinco vezes, Lula e Dilma, e só fez 70 deputados federais?”, provocou o petista. “Nós achamos que o nosso discurso é o verdadeiro, mas será que o povo está nos entendendo?”, refletiu Lula.
Em referência às tensões diplomáticas em razão do tarifaço de Trump, Lula subiu o tom ao criticar o presidente americano e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em memória a seu tempo como liderança sindical, Lula afirmou que sabe negociar e disse ter “certeza que o presidente americano nunca negociou 10%” do que ele já negociou durante a vida.
“O Brasil é defensor do multilateralismo. Nada é conseguido na marra”, destacou o presidente. “O Brasil tem 201 anos de relações diplomáticas com os EUA e um déficit comercial de 410 bilhões em 15 anos. É por isso que a gente não aceita a ideia de o presidente mandar uma carta dizendo que se não libertar o Bolsonaro, vai taxar em 50%. Vamos responder da forma mais civilizada possível e como um democrata responde: Não aceitamos que ninguém se meta nos nossos problemas internos”, disse Lula.
“Se o Trump morasse no Brasil e fizesse aqui o que ele fez no Capitólio, certamente ele também estaria sendo julgado e poderia ser preso. […] Eles precisam ser tratados por nós como os traidores do século e da história desse País. Ele [Bolsonaro] que não venha mais falar da bandeira verde amarela, que tenha vergonha, se esconda na sua covardia e deixe esse país viver em paz. Eles não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao povo brasileiro”, disparou o chefe do Executivo. As críticas de Lula antecederam o pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão em resposta à taxação de 50%, na noite da última quinta.
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Goianos encontram Lula e reforçam diálogo sobre 2026
Foto: Ricardo Stuckert/PR
A visita de Lula a Goiânia também marcou o encontro do presidente com lideranças da centro-esquerda goianiense. O petista e sua comitiva foram recepcionados por parlamentares do PT no aeroporto. Em conversa com a reportagem do O HOJE, o vereador Edward Madureira (PT) afirmou que os ministros estavam “animados” com as pesquisas de popularidade recentes, que apontaram para uma diminuição da rejeição e aumento da popularidade da gestão.
Questionado sobre as pretensões para 2026, o parlamentar colocou seu nome à disposição do partido. “Passado o processo de eleição do partido, essas conversas vão se intensificar. É hora de trabalhar na construção de uma chapa forte. O Lula deixou claro isso aqui, que nós precisamos de mais deputados federais. O meu nome vai estar à disposição para disputar uma cadeira, seja na Assembleia Legislativa, seja na Câmara dos Deputados. Mas irei seguir a definição do partido”, garantiu Edward. O vereador também destacou que uma possível candidatura do PT ao Governo do Estado não está totalmente descartada.
Já a vereadora Aava Santiago (PSDB) afirmou que não havia momento melhor para uma visita de Lula ao Estado. “Esse é o melhor momento para o presidente Lula vir a Goiás, porque enquanto o presidente Trump ameaça a soberania nacional e os nossos produtores, infelizmente o governador Ronaldo Caiado se comporta como alguém que só pensa no calendário eleitoral e para acenar para o que há de pior na extrema direita”, disse a parlamentar.
“Ele se submete a subscrever aquilo que foi dito pelo presidente Trump. Quando o Caiado se comporta assim, ele fica contra quem sustenta esse Estado. Fica contra o agronegócio, contra os nossos produtores. É importante que fique claro que o governador Ronaldo Caiado escolheu o lado dele — e não é o lado dos produtores. O lado dele é do seu projeto pessoal”, criticou a tucana. A vereadora, próxima de Lula, afirmou que o presidente a convidou para um bate-papo rápido antes do início do evento — mas não revelou o teor da conversa. (Especial para O Hoje)
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