Os divórcios em Goiás estão em alta. De acordo com a pesquisa Estatísticas do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de separações concedidas em primeira instância ou por escritura pública subiu 32,5% entre 2022 e 2023, o segundo maior crescimento do País. O Estado só ficou atrás de Rondônia, que teve aumento de 44,5%.
No total, o Brasil registrou 440.827 divórcios em 2023, o maior número da série histórica do IBGE. Em Goiás, foram 20.341 divórcios, também um recorde. Somente em Goiânia, o total chegou a 5.392, representando aumento de 13,7% em relação ao ano anterior.
Enquanto isso, os casamentos seguem em queda, o que impacta diretamente o crescimento dos divórcios. Em 2023, Goiás registrou 32.518 casamentos, número praticamente igual ao de 2022 (32.539), mas 25,1% menor que o registrado há dez anos, em 2014. Em Goiânia, foram 10.861 uniões formais, enquanto o País inteiro celebrou 940.799 casamentos no mesmo período. Tanto o Estado quanto a Capital seguem a tendência nacional de redução: queda de 15,8% e 15%, respectivamente, na última década, reflexo indireto do aumento dos divórcios.
Mudança de comportamento e novas prioridades
A psicóloga Aparecida Tavares explica que a alta nos divórcios e a queda nos casamentos têm várias causas. “É multifatorial. As pessoas estão mais exigentes em relação ao parceiro. Buscam não apenas amor, mas companheirismo, respeito à individualidade e compatibilidade de valores. A autonomia emocional e financeira faz com que o indivíduo não tolere mais relacionamentos insatisfatórios”, afirmou.
Ela acrescenta que as redes sociais ampliam comparações e expectativas influência o divórcio. “As plataformas digitais permitem que as pessoas vejam diferentes tipos de relacionamentos, o que pode gerar insatisfação e até rupturas.”
Outro ponto importante, segundo Aparecida, é a busca pela realização pessoal e profissional que pode acelera o divórcio. “Muitos priorizam o crescimento individual e acabam investindo menos tempo na relação. Além disso, a falta de diálogo sobre desejos e necessidades cria distanciamento emocional”, explicou.
A psicóloga também lembra que o confinamento durante a pandemia teve grande impacto no divórcio. “A convivência constante, muitas vezes conflituosa, somada à ansiedade e ao luto, aumentou a intolerância e a inflexibilidade, o que contribuiu para o aumento dos divórcios.”
Ela destaca ainda a diferença entre gerações em relação aos divórcios: “Os mais jovens são mais abertos a discutir saúde mental e buscam relações mais igualitárias. Conseguem sair do que os machuca com mais facilidade, ao contrário das gerações anteriores, que mantinham casamentos infelizes por pressão social.”
Visão jurídica: relacionamentos mais conscientes
A advogada familiarista Ana Luisa Lopes observa que a mudança cultural reflete maior consciência sobre direitos emocionais e jurídicos, impactando os divórcio. “As pessoas estão menos dispostas a permanecer em relações insatisfatórias. A independência financeira das mulheres e a busca por autoconhecimento têm forte influência. A pressão social pelo casamento diminuiu, o que é positivo, pois os casais se unem com mais certeza e menos impulso”, destacou.
Ela alerta, porém, que muitos não conhecem os aspectos legais das relações influência o divórcio. “Atualmente, a união estável é equiparada ao casamento. Casais que acham estar apenas namorando podem descobrir, no fim, que precisam dividir bens. Saber o que se quer e conhecer os direitos e deveres é essencial para evitar conflitos futuros.”
Para ela, o maior desafio dos casais hoje é a falta de diálogo, que contribui para o divórcio. “As redes sociais geram comparações irreais e aumentam a insatisfação. A sobrecarga emocional e o desequilíbrio de responsabilidades também pesam. Manter o respeito, a intimidade e o propósito comum exige esforço mútuo”, afirmou.
A especialista defende que o conhecimento jurídico preventivo é um dos caminhos para relações mais saudáveis e menos propenso ao divórcio. “Procurar um advogado familiarista no início da relação não é desconfiança, é maturidade. Contratos de namoro, regimes de bens e acordos de união estável ajudam a alinhar expectativas e evitar surpresas desagradáveis”, completou.
Por fim, Ana Luisa ressalta que o divórcio não deve ser visto como fracasso. “As novas gerações compreendem melhor seus direitos e encaram o término como um recomeço legítimo. Diferente das gerações passadas, hoje o rompimento é simples e acessível, reflexo de uma sociedade mais consciente e plural.”








