Nesta segunda-feira (20), o mundo volta sua atenção para um problema que, embora invisível, tem impacto direto na qualidade de vida e na independência de milhões de pessoas: a osteoporose. A data, celebrada como o Dia Mundial e Nacional da Osteoporose, tem como objetivo conscientizar sobre a importância da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada duas mulheres e um em cada cinco homens, com mais de 50 anos, sofrerão uma fratura osteoporótica ao longo da vida. No Brasil, os números seguem a mesma tendência. As fraturas decorrentes da osteoporose, especialmente as vertebrais e de quadril, são responsáveis por altos índices de incapacidade e mortalidade em idosos.
“O grande problema é que a osteoporose é uma doença silenciosa. O osso vai ficando mais poroso, mais frágil, sem que o paciente perceba. Quando a dor aparece, muitas vezes já existe uma fratura instalada”, explica o ortopedista Dr. Carlos Menezes, especialista em doenças osteometabólicas.
O risco das fraturas vertebrais
Entre as diversas manifestações da osteoporose, as fraturas vertebrais merecem atenção especial. Elas são as mais frequentes e, em muitos casos, passam despercebidas.
De acordo com o neurocirurgião e especialista em coluna Dr. Osvaldo Gomes, esse tipo de fratura pode ocorrer até mesmo após um pequeno esforço, como levantar um objeto leve ou dar um passo em falso. “O paciente começa a notar que ficou mais baixo ou que está com o dorso mais curvado, mas não imagina que isso pode ser o resultado de uma fratura vertebral. É uma deformidade progressiva e dolorosa, que compromete a postura e a respiração”, alerta o médico.
Segundo o especialista, as fraturas vertebrais são marcadores importantes de fragilidade óssea e aumentam em até cinco vezes o risco de novas fraturas. “Uma fratura leva a outra. Por isso, o diagnóstico precoce e o tratamento imediato são fundamentais para interromper esse ciclo”, completa.
Prevenção começa na infância
A prevenção da osteoporose não deve começar na terceira idade, mas ainda na infância e adolescência fases em que o organismo está construindo a base da massa óssea que sustentará o corpo ao longo da vida.
A médica reumatologista Dra. Helena Siqueira reforça que a quantidade de osso formada até os 25 ou 30 anos é uma espécie de “poupança óssea”. “Quanto maior o pico de massa óssea alcançado na juventude, menor o risco de desenvolver osteoporose na maturidade”, explica.
Segundo a especialista, essa “poupança” depende de dois fatores: genética e hábitos de vida. E, embora não se possa modificar a herança genética, há muito o que fazer para proteger os ossos.
Entre as recomendações estão:
Dieta rica em cálcio, com leite, iogurte, queijos e vegetais verde-escuros;
Exposição solar regular, para garantir níveis adequados de vitamina D;
Prática de atividades físicas com impacto moderado, como caminhadas, musculação e dança;
Evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool, que aceleram a perda óssea.
“A formação óssea é como uma poupança que precisa de depósitos regulares. Quem começa cedo a cuidar dos ossos, colhe os benefícios décadas depois”, enfatiza Dra. Helena.
O papel do envelhecimento
O corpo humano mantém o equilíbrio entre formação e reabsorção óssea até por volta dos 50 anos. A partir daí, esse balanço começa a se desequilibrar — especialmente nas mulheres.
“A menopausa provoca uma queda abrupta nos níveis de estrógeno, hormônio essencial para a manutenção do tecido ósseo. É por isso que, após os 50 anos, observamos uma perda acelerada da massa óssea feminina”, explica o ortopedista Dr. Carlos Menezes.
Nos homens, a perda é mais lenta, mas constante. Fatores como sedentarismo, dieta pobre em cálcio, uso prolongado de corticoides e doenças endócrinas aumentam o risco da doença.
Como identificar a osteoporose
Detectar a osteoporose antes da primeira fratura é o maior desafio dos profissionais de saúde. A doença é assintomática em seus estágios iniciais e só se manifesta quando o osso já está fragilizado.
“Por isso, o rastreamento é essencial. O exame mais indicado é a densitometria óssea, que mede a densidade mineral dos ossos e indica se há risco de osteoporose ou osteopenia”, orienta Dr. Osvaldo Gomes.
Além do exame, é importante considerar os fatores de risco, como:
Idade acima de 65 anos;
Histórico familiar de osteoporose;
Baixo peso corporal;
Deficiência de vitamina D;
Uso prolongado de certos medicamentos;
Tabagismo e alcoolismo.
“O diagnóstico precoce permite o início de tratamentos eficazes, que podem reduzir o risco de fraturas em até 70%”, acrescenta o neurocirurgião.
O impacto das fraturas
Uma fratura osteoporótica não é apenas um problema ortopédico. Ela afeta profundamente a qualidade de vida do paciente, limitando sua mobilidade, autonomia e bem-estar emocional.
“A fratura de quadril, por exemplo, é devastadora. Cerca de 20% dos pacientes acima de 60 anos que sofrem esse tipo de fratura morrem em até um ano após o evento, principalmente devido a complicações de imobilização, como trombose e pneumonia”, destaca Dr. Menezes.
Já as fraturas vertebrais comprometem a postura e podem causar dor crônica e dificuldade respiratória. “Além da dor física, há o impacto psicológico a perda de confiança para andar, o medo de cair novamente e o isolamento social”, pontua Dr. Osvaldo Gomes.
Tratamento e novos avanços
O tratamento da osteoporose combina medicações específicas, mudanças de estilo de vida e suporte fisioterapêutico. Entre os medicamentos, estão os bisfosfonatos, moduladores hormonais, suplementos de cálcio e vitamina D, além de terapias mais recentes com anticorpos monoclonais.
“O tratamento deve ser individualizado. Cada paciente tem um perfil de risco e resposta diferente. O importante é não interromper o tratamento sem orientação médica, pois o efeito protetor desaparece com o tempo”, ressalta a reumatologista.
Nos casos de fraturas vertebrais, o avanço das técnicas cirúrgicas tem trazido esperança. “Hoje dispomos de procedimentos minimamente invasivos, como a vertebroplastia e a cifoplastia, que estabilizam a fratura e reduzem a dor rapidamente”, explica Dr. Osvaldo Gomes.
A campanha do Dia Mundial da Osteoporose deste ano reforça a mensagem de que “ossos fortes sustentam vidas ativas”. A prevenção é o caminho mais eficaz para reduzir o impacto da doença em uma população que envelhece rapidamente.
“O maior erro é achar que osteoporose é um problema apenas da velhice. Cuidar dos ossos deve ser um hábito de vida, assim como cuidar do coração ou do cérebro”, conclui Dr. Menezes.
A osteoporose é silenciosa, mas suas consequências são ensurdecedoras. Fraturas, dor, imobilidade e perda de independência são realidades que podem ser evitadas com informação, hábitos saudáveis e acompanhamento médico regular.