O Dia das Crianças de 2025 promete ser o mais forte dos últimos 12 anos para o comércio brasileiro. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta movimentação próxima de R$ 9,96 bilhões, alta real de 1,1% sobre 2024. Já levantamento do Datafolha, encomendado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), estima um impacto total de R$ 18,9 bilhões quando incluídos serviços e outros setores, avanço de 3,8% em relação ao ano anterior.
A data, terceira mais importante do varejo, perde apenas para o Natal e o Dia das Mães. O gasto médio com presentes deve ser de R$ 219, abaixo dos R$ 231 registrados em 2024. Ainda assim, 68% dos brasileiros afirmam que vão comprar algum presente, índice superior aos 60% do ano passado. Entre os produtos mais procurados estão brinquedos (60%), roupas e acessórios (28%) e artigos eletrônicos (7%).
Comércio físico resiste à digitalização
Embora o e-commerce continue em alta, a compra presencial ainda predomina. Segundo o Datafolha, 74% dos consumidores devem adquirir os presentes em lojas físicas, contra 27% no ambiente online. O dado surpreende diante da tendência digital, que no ano anterior concentrava 31% das vendas. O Norte (80%) e o Nordeste (78%) são as regiões que mais privilegiam o comércio tradicional, enquanto jovens entre 18 e 34 anos e classes A/B aparecem como os maiores adeptos das plataformas virtuais.
A preferência pelo varejo físico reflete tanto a busca por experiências quanto o desejo de comparar preços e garantir produtos disponíveis na hora. Em Belo Horizonte, por exemplo, lojistas esperam aumento nas vendas entre 3% e 5%. “O movimento tende a crescer apenas na véspera, especialmente nos dias 10 e 11”, afirma Vera Souza, gerente de uma loja de brinquedos há mais de 20 anos.
Diferença de preços pode chegar a 299%
Pesquisa do Procon Goiânia, realizada entre 3 e 6 de outubro, mostrou que a variação de preços entre estabelecimentos chega a 299%. O patins infantil apresentou a maior diferença, de R$ 99,99 a R$ 399, seguido pelo skate infantil (265,87%) e pela Barbie Bailarina (260,05%). A bicicleta aro 12 variou 217,87%, enquanto o brinquedo Frozen Rainha Elza teve diferença de 203%.
Segundo o Procon, o consumidor que optar pelos menores preços pode economizar até R$ 1.319, uma redução de 240% sobre o valor total dos produtos mais caros. O órgão orienta atenção à qualidade, validade, integridade das embalagens e política de trocas. Em compras online, o direito de arrependimento é garantido em até sete dias após o recebimento.
Cartão é o meio de pagamento mais usado
A pesquisa da Abecs indica que 38% dos brasileiros vão utilizar cartão para pagar os presentes — sendo 22% no crédito e 16% no débito. Entre os usuários do crédito, 60% pretendem parcelar a compra. A forma de pagamento é mais comum no Sudeste (47%) e entre as classes A/B (57%).
Apesar da relevância do cartão, o cenário macroeconômico ainda impõe desafios. A CNC destaca que os juros elevados e a inflação de 5,13% nos últimos 12 meses reduzem o poder de compra e encarecem o crédito, que chega a 57,6% ao ano. “O juro alto força o consumidor a escolher entre parcelar o brinquedo ou pagar o cartão. Isso freia o consumo e afeta principalmente o pequeno lojista”, avalia Fábio Bentes, economista-chefe da confederação.
Setor de brinquedos prevê alta de até 5%
O setor de brinquedos deve crescer entre 3,5% e 5% no segundo semestre, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). O período, que engloba o Dia das Crianças e o Natal, representa mais de 60% das vendas anuais do segmento, com expectativa de R$ 11 bilhões em faturamento.
“O foco está na inovação e diversificação”, afirma Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq. A indústria lança de 1.300 a 1.700 novos produtos por ano, e o ticket médio nas datas comemorativas varia de R$ 150 a R$ 250. As classes B e C concentram a maior parte das compras.
Costa observa que o mercado brasileiro de brinquedos cresceu 36% desde 2020, saltando de R$ 7,5 bilhões para R$ 10,2 bilhões em 2024, com consumo médio de 11 brinquedos por criança ao ano. Ele destaca ainda o crescimento de 51% nas vendas de colecionáveis e “kidults”, brinquedos comprados por adultos. “O setor mostra resiliência e capacidade de se adaptar às novas gerações digitais. O Brasil tem um público infantil em expansão e um consumo diversificado, o que mantém o ritmo de crescimento”, afirma.
Inflação e poder de compra
A CNC aponta que os produtos típicos da data tiveram aumento médio de 8,5%, acima do IPCA. Chocolates (24,7%), doces (13,9%) e lanches (10,9%) lideram as altas. Já brinquedos (4,1%) e roupas infantis (3,3%) ficaram abaixo da inflação geral.
Com juros altos, inadimplência em 30,4% das famílias e crédito caro, o consumidor tende a priorizar presentes de menor valor. Mesmo assim, o Dia das Crianças deve confirmar o otimismo do varejo. “É uma data que une emoção e consumo, e o comércio sabe explorar isso. A diferença está em oferecer conveniência e preço justo, seja na loja física ou digital”, conclui Bentes.